por Bernardo Gomes
Publicado 01/12/2020 14:43
As primeiras análises das eleições municipais de 2020 no Brasil, mostraram a direção em que o eleitorado caminhou logo após o tsunami de extrema-direita que elegeu Bolsonaro e seus aliados nas eleições nacionais de 2018.
Deixo registrado
que a minha análise não tem pretensões de generalizar as suas conclusões, pois
compreendo o pleito municipal dentro das suas particularidades locais e os
interesses específicos dos municípios.
Mesmo assim é de se
ressaltar alguns recados que as urnas já deram em 2020, como a rejeição ao
bolsonarismo e ao seu discurso político, apenas dois anos após o atual
Presidente da República ter sido eleito, assim como a rejeição ao discurso da
“nova política” que havia impulsionado vários candidatos em 2016 nas eleições
municipais daquele ano.
O eleitorado que em
2018 havia caminhado para a extrema-direita, parece ter voltado ao seu eixo de
relativo equilíbrio democrático e se acomodado novamente no centro político,
demonstrado nas votações expressivas de partidos tradicionais do sistema
político brasileiro como DEM PSDB e MDB, esses dois últimos que haviam sofrido
muito perdendo suas bases para o bolsonarismo em 2018, aliado ao crescimento de
legendas do chamado “centrão” como PSD, PP, Republicanos e Podemos.
O MDB como de
costume mantém sua tática em conquistar o poder local e se mantém como o
partido com mais prefeitos e vereadores eleitos no Brasil, enquanto o PSDB
governará a maior parte do eleitorado brasileiro.
O país demonstra
que quer equilíbrio de poder contra o autoritarismo, o centro que se
reorganizou, uma hora está aliado na direita, outra hora a esquerda, mas
preferencialmente na direita.
A esquerda não teve
um resultado devastador. Os partidos que representam esse campo político
recuperam as suas votações em relação a 2016. O que ocorre na esquerda é uma
mudança de forças com o PSOL em uma crescente incrível nas capitais ocupando o
espaço que tradicionalmente foi do PT e PCdoB, além de uma aliança bem
construída entre PDT e PSB, que produziu um crescimento interessante no
nordeste.
Expressões da
retomada de forças na esquerda são as votações expressivas de Boulos (PSOL) no
segundo turno em São Paulo e Manuela (PCdoB) em Porto Alegre. Resultados
positivo foram as vitórias de Sarto (PDT) em Fortaleza, JHC (PSB) em Maceió, a
vitória da Frente Popular do Recife, liderada por João Campos (PSB) e a linda
conquista de Belém por Edmilson Rodrigues (PSOL).
Destaco ainda fora
das capitais as vitórias nas cidades de Contagem, terceiro maior eleitorado do
Estado de Minas Gerais com Marília Campos (PT) e Margarida Salomão (PT) em Juiz
de Fora, também em Minas, cidade que virou símbolo de culto bolsonarista por
ter sido palco da facada, que o então candidato a Presidente da República, sofreu
durante o processo eleitoral de 2018.
A incapacidade da
esquerda em construir frentes únicas para disputar a eleição, pode ter
contribuído com a derrota em alguns locais e freado um crescimento mais robusto
do nosso campo politico. Quanto maior a divisão menor a chance de conquistar
maiorias eleitorais.
Os maiores
derrotados aparentemente foram aqueles que apostaram todas as suas fichas
contra a política. Bolsonaro perdeu em quase todas as capitais que apoiou
alguém, sugerindo que o bolsonarismo deixa os grandes centros urbanos para se
fixar em cidades médias e nas extensões rurais.
O partido Novo,
promessa da renovação liberal, amargou em Minas Gerais, o Estado que governa
com Romeu Zema, a derrota de todos os seus candidatos a prefeitos, além de eleger
somente 4 vereadores em todo o Estado.
A “nova política”
foi vencida pela política, sem juízo de valor e falsos moralismos. Política é
política, ainda bem que é assim, podemos comemorar os pequenos avanços das
forças progressistas e os recuos da extrema-direita ultraliberal.
Está na hora de
grandes consensos nacionais para reconstruir a democracia no Brasil e vencer o
fascismo bolsonarista de vez em 2022. As urnas falaram que a esperança nasce
das maiores adversidades e que para exercer o poder é preciso dialogar com os
diferentes.
O caminho político
é o da unidade progressista, a esquerda só foi vitoriosa nessas eleições
municipais, nos locais onde conseguiu sair do isolamento político e compor com
forças de centro e até mesmo de direita. A frente ampla na prática demonstra
ser a tática política e eleitoral mais acertada para existirmos e avançarmos na
atual conjuntura.
As opiniões expostas neste artigo não
refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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