O que esperar de Biden?
Do Portal Vermelho
Publicado 20/01/2021 23:13
Serão os 400 mil
mortos pela pandemia, reveladores da incúria e descaso que fizeram do país que
a Covid-19 mais ceifou vidas? Serão os mais de 24 milhões de desempregados – o
maior número desde 1947 -, que se traduzem numa miséria inaudita entre o povo
do país que ainda se mantém como a maior economia do planeta? Será a intolerância
que intensificou o racismo com mortes e agressões contra negros? Será a ideia
de aumentar o muro da segregação na fronteira entre o México e os EUA? Serão as
centenas de crianças separadas de suas famílias ao tentar atravessar aquela
fronteira e que até agora não reencontraram seus parentes?
A lista é imensa,
marcada pelo ódio, pela falta de compaixão, pelo desprezo às pessoas. O legado
de Trump – um dos piores presidentes da história dos EUA – pode ser
representado por uma destas misérias humanas, ou talvez por seu conjunto.
A eleição e posse
de Biden representa uma importante vitória das forças democráticas dentro e
fora dos Estados Unidos justamente por derrotar Trump e sua política de
extrema-direita. Biden na presidência, além de reduzir a propagação da
intolerância interna, deverá levar o país de volta aos organismos e acordos
internacionais como a OMS e o Acordo de Paris para o Clima. Entretanto, não
é recomendável nutrir expectativas de mudanças mais profundas.
Eleito com apoio de
grandes corporações, o novo presidente não terá como centro de sua ação a
superação da enorme desigualdade social e econômica. Com recordes diários de
morte por Covid-19, os Estados Unidos têm 90 milhões de cidadãos sem seguro
saúde em meio aos efeitos devastadores da pandemia. Além dos milhões de
desempregados, metade dos trabalhadores recebe salários muito aquém do
necessário para viverem dignamente. Tal condição expõe 40 milhões de
norte-americanos ao despejo de suas casas que podem se somar aos 500 mil
sem-teto que perambulam pelas ruas do país. Tal situação provoca tensões no
próprio Partido Democrata, de Biden, que é pressionado pela ala progressista liderada
pro Bernie Sanders.
Em declínio
econômico e vendo minguar seu protagonismo internacional, enquanto a China se
movimento com maior desenvoltura, os Estados Unidos buscarão recuperar o
terreno perdido. E para tal,
Biden não deverá medir esforços, inclusive com a conhecida agressividade
bélica, como fizeram os também democratas Obama e Clinton.
O mantra do novo
presidente é marcado pela defesa da união, dentro do país e entre os países que
considera democráticos – o que em si já tem um viés excludente, se
considerarmos que Biden classifica que países como Venezuela, Cuba, Coreia
Popular e a própria China não vivem sob uma democracia. Deste modo, soa falso o
discurso de posse em que Biden falou da reconstrução da unidade nacional, da
defesa da Constituição e do Estado Democrático de Direito, da reconciliação.
Para os EUA, e para
o mundo, a troca de comando na presidência da República significa a superação
de um perigo maior, a ameaça fascista representada por Trump. Não é pouco, mas
as forças democráticas e progressistas, em especial os trabalhadores, devem se
manter em permanente alerta e mobilizados em defesa dos seus direitos, da
democracia, da liberdade e da soberania nacional.
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