Publicado 15/02/2021 22:15
Do Editorial do Portal Vermelho
Os decretos do
presidente da República, Jair Bolsonaro, que facilitam o acesso a armas e
munições revelam a essência truculenta do seu governo que, ao mesmo tempo, tem
demonstrando muita dificuldade com medidas para agilizar a vacinação e o
atendimento às demandas da crise sanitárias. Diante dessa medida
inconstitucional, que agride os direitos humanos e fomenta ainda mais o
ambiente de violência, a sociedade reage por meio de parlamentares e de
entidades sociais.
Por trás dessa
atitude bolsonarista pulsa a lógica de que as consequências de um país marcado
por profundas desigualdades devem ser combatidas somente com repressão. É a
causa da violência que combate a violência. Essa bandeira havia perdido terreno
em uma grande porção da sociedade, tida como coisa de gente truculenta, e
voltou com força. O ponto de vista social — a forma correta de encarar o
problema — passou a ser atacado violentamente.
Essa tese ganhou
terreno com o aumento das taxas de criminalidade, decorrência do agravamento
das desigualdades econômicas e sociais. A causa social passou a ser considerada
sinônimo de conivência com a criminalidade. Foi assim que se abriu caminho para
o discurso de candidatos adeptos da truculência, a defesa da prática de executar
sumariamente no lugar de investigar e punir pelas normas do Estado Democrático
de Direito.
Bolsonaro é um
típico representante desse pensamento. Para ele, o combate ao crime, ao invés
de seguir os parâmetros do equilíbrio social, deve movimentar-se à margem da
lei, ameaçando a própria sociedade com o uso indiscriminado da violência. Seria
o reforço da prática da tortura e do desrespeito aos direitos civis — legado
dos anos de ditadura militar —, a ratificação de um sistema de repressão que,
sob o pretexto de combater o crime, adota o crime como método.
É evidente que
entre os alvos do bolsonarismo estão os que lutam contra a desigualdade social
e pela democracia de massas, e suas organizações. Para esse pensamento
truculento, quem luta pela posse da terra, pelas conquistas trabalhistas,
contra as discriminações sociais — por direitos humanos, numa definição — pode
ser enquadrado na categoria de “bandidos”, ou “defensores de bandidos”.
Esse pensamento é
tipicamente fascista. Ele não considera que os excluídos, sem cidadania e com
baixo poder aquisitivo — ou mesmo sem poder aquisitivo —, são gerados por uma
máquina que concentra renda e explora força de trabalho numa velocidade cada
vez mais alucinante. A acumulação de capital numa velocidade estonteante pela dominação
do sistema financeiro internacional dos Estados nacionais é a verdadeira causa
da desigualdade social e de suas consequências.
O governo Bolsonaro
é um retrato nítido dessa constatação, da lógica de trucidar as vítimas dessa
dominação e deixar incólumes os mecanismos do Estado a serviço dos que se
beneficiam com essa situação decorrente da estrutura social que tem por norma
produzir excluídos em massa. Que a violência precisa ser combatida, não há
dúvida. Mas por trás dessas medidas bolsonaristas há interesses muito
poderosos, que passam pela indústria armamentista e pela do Estado com perfil
autoritário, truculento, além de fomentar a barbárie nas relações sociais, com
o estímulo ao uso indiscriminado de armas.
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