domingo, 21 de fevereiro de 2021

O PCdoB, a frente ampla e as esquerdas, por Marcelino Granja

 


O PCdoB chegará ao seu centenário em 2022, muito vivo e disposto para a grande luta de transformação social do Brasil e da humanidade

por Marcelino Granja

Publicado 20/02/2021 14:25 | Editado 20/02/2021 18:03

 

As forças democráticas e progressistas da Nação estão chamadas a apresentarem com urgência uma saída para a tragédia nacional que toma conta do país: o Governo Bolsonaro e o bolsonarismo, projeto político da parte podre do capitalismo, o capital financeiro, que deliberadamente agravou os efeitos da pandemia do novo coranavírus e tenta instalar o caos – para implantar um regime de natureza fascista. Por isso não temos vacina, não temos economia funcionando, não temos soberania e nem respeito à democracia, à dor do povo e aos seus direitos. Esse é o projeto de Bolsonaro.

Como sair dessa situação, sem a derrota do projeto bolsonarista? Como derrotar a extrema-direita, sem unir o povo contra Bolsonaro? Como unir o povo, que não seja a partir do reconhecimento de sua diversidade social, étnica, cultural e política, que torna singular a nossa Nação?

Não é fácil, mas o desafio está posto novamente. E temos as lições da história a nos ajudar: sempre que unimos o povo em frentes políticas amplas, representativas de vários segmentos sociais e culturais, às vezes contraditórios entre si, ganhamos e o Brasil avançou. Foi assim na longa luta contra a escravatura, nas lutas pela independência e República e nas lutas do longo período entre 1930 e 1984, pelo desenvolvimento, pela industrialização e democratização da vida nacional. E foi assim no recente período do ciclo progressista de Lula-Dilma.

Reconhecemos que as forças políticas nacionais, refletindo a diversidade da sociedade brasileira, têm projetos distintos para a Nação. Muitas delas, até do campo da esquerda, nem concordam com aspectos dessa rápida análise histórico-político aqui apresentada. Contradições sérias existem no nosso campo, a exemplo de propostas de política econômica e do sistema político, como quando, com o apoio de forças da esquerda, se aprovou o fim das coligações!! Isto é, a vedação das alianças, a alma da própria política, trazendo mais restrições democráticas à união e representação do povo nos parlamentos. Se somarmos o conjunto das forças democráticas às do campo liberal, vários dos seus setores apoiaram o golpe do impeachment da presidente Dilma, sem medir as consequências da instabilidade que se instalaria e os perigos advindos, que resultaram na vitória da extrema-direita com Bolsonaro. Muitos deles insistem nas políticas econômicas neoliberais, que mantêm o país em crise social e política permanente.

Para o PCdoB, aparentemente é um pouco mais complicado, pois, orientados pela ciência social marxista e a experiência histórica da formação nacional, defendemos mudanças profundas na vida econômica e social do país, a partir de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, baseado em reformas estruturais do Estado (sistemas político, educacional, comunicação, tributário, agrário, desenvolvimento urbano e social) que o torne forte o suficiente para garantir a soberania nacional, o desenvolvimento inclusivo e sustentável e a democratização plena da vida nacional, elevando o status social e político da classe trabalhadora, abrindo caminho para o estágio superior de desenvolvimento, o Socialismo.

Mas, qual é estágio da luta no momento? Estamos numa situação política favorável a discutir os rumos estratégicos da Nação, ou temos outras urgências, premissas a serem resolvidas, que abram o espaço para o povo discutir amplamente e com liberdade os caminhos do desenvolvimento? Não achamos que estamos numa situação de avanço da democracia e muito menos das forças da mudança social. Ao contrário, vivemos tempos de regressão, inclusive civilizacional, de perigo de desagregação da Nação e do advento de regime político e econômico despótico. O desastre do país é vitória de Bolsonaro e de setores do capital financeiro, e eles ainda tem forças para levar adiante seus propósitos nefastos.

Assim, o PCdoB propõem que a questão candente que deva concentrar todas as energias das forças vivas da Nação, seja a formação de ampla frente política democrática para barrar Bolsonaro, antes de 2022 ou na eleição de 2022, com base na aliança das forças de esquerda com as de centro e de centro-direita democráticas. Somente assim teremos vacinação em massa contra a Covid-19, a extensão do auxílio emergencial e a manutenção do Estado Democrático de Direito da Constituição de 1988. O PCdoB lutará por essa tática, a nosso ver, a que é capaz de derrotar Bolsonaro, objetivo maior do momento. A forma política de constituir uma expressão eleitoral da frente ampla, vai depender de como o conjunto das forças de esquerda e de centro e centro-direita democrática percebam os perigos que ameaçam a Nação.

Defendo que façamos tudo para a derrota de Bolsonaro. Desde apoiar uma candidatura viável logo no primeiro turno, ou, na impossibilidade disso, termos candidatura própria para lutar pela unidade da oposição.

Mas a luta por esta tática deva ser feita desde já, nas lutas cotidianas dos movimentos sociais pelos direitos do povo, no apoio aos Governadores e Prefeitos pela vacinação em massa, no apoio ao Parlamento pela extensão do auxílio emergencial, na defesa das medidas do STF de proteção da democracia.

As alianças não são concessões, são necessidades da nossa luta, do seu estagio momentâneo, dos objetivos intermediários ao objetivo maior, o Socialismo. Temos 99 anos nessa senda. E nessa longa trajetória, já caminhando para o centenário inédito de um partido no Brasil, a história da República tem a marca desse pensamento político dos comunistas brasileiros. Esta marca dialética de nosso pensamento político – unidade ampla do povo nas lutas de cada momento e objetivo estratégico avançado – está cravada na nossa identidade e na de diversos segmentos sociais do país. O PCdoB é uma necessidade histórica e a consciência disso impele os quase 400 mil brasileiros e brasileiras, filiados ao Partido, à luta pelo nosso lugar político no grande arco-íris da política nacional. Disso decorre a permanência do PCdoB enquanto tal, com seu Programa e Estatutos singulares, capazes de absorver parte, como todo partido, da diversidade social do Brasil.

A luta para afirmar o PCdoB e seu Programa está diretamente relacionada à luta pela frente ampla democrática contra Bolsonaro. Nessa luta política e de ideias, não nos diluiremos na frente ampla, renunciando o combate ao neoliberalismo e ao nosso projeto estratégico da transição para o Socialismo. E nem nos pautaremos pelas disputas menores no campo da esquerda, seja pela impaciência de uns em ocupar açodadamente os espaços perdidos por outros, desconsiderando e, às vezes, até negando o legado de conquistas em comum alcançadas, e nem também pelo exclusivismo e hegemonismo de outras. O PCdoB chegará ao seu centenário em 2022, muito vivo e disposto para a grande luta de transformação social do Brasil e da humanidade.

Marcelino Granja é presidente estadual do PCdoB-PE

 

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