Publicado 02/03/2021 07:23 | Editado 02/03/2021 07:25
Não é mera
coincidência que, nos últimos dias, diversos e importantes setores do espectro
político nacional se ergueram na denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro e
seu governo negligente e irresponsável – para dizer o mínimo. Diante da nova
escalada da pandemia no País – com médias diárias recordes de casos e mortes
por Covid-19, além de crescente lotação dos leitos de UTI (Unidades de Terapia
Intensiva) –, Bolsonaro intensificou as provocações.
Seu alvo da vez é o
federalismo, bem como o respeito entre os Três Poderes – mas não só. Ignorando
as mais elementares recomendações sanitárias, o presidente criticou o uso de
máscaras, provocou aglomerações, negou apoios efetivos a estados e municípios,
segurou a liberação do auxílio emergencial e chantageou publicamente os
governadores.
A execução do plano
federal de vacinação contra o coronavírus segue em ritmo lento e alarmante,
ainda mais para um país que é referência internacional em campanhas de
imunização. Não bastasse tamanho desmazelo, o Ministério da Saúde impôs às
unidades federativas a suspensão do financiamento de leitos de UTI para
tratamento de Covid.
É fato que, após
dois anos e dois meses de um governo genocida, sem compromisso com a democracia
e com a vida, indiferente aos interesses nacionais e populares, não convém
esperar decência, responsabilidade e urbanidade do atual presidente da
República. Desta vez, porém, surpreende positivamente o fato de que, para além
da oposição à esquerda, novas vozes se somam não apenas à indignação – mas
também ao sentimento de que é preciso investigar e responsabilizar Bolsonaro
por seus crimes.
Partiu de um
político tucano, Tasso Jereissati (PSDB-CE), a iniciativa de conclamar seus
colegas do Senado Federal a instalarem uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) contra o presidente. Citando a visita de Bolsonaro ao Ceará, na
sexta-feira (26), o senador o acusou de “promover aglomerações sem proteção” e
de “convocar a população a não ficar em casa, desafiando a orientação do
governo do estado”. Sem contar a ameaça bolsonarista de não pagar o auxílio
emergencial a governadores críticos à gestão federal.
Tasso concluiu: “A
instalação da CPI no Senado tornou-se inadiável. Não podemos ficar omissos
diante dessas irresponsabilidades que colocam em risco a vida de todos
brasileiros”. Seu pleito teve a concordância de senadores de outros partidos,
inclusive de PSD e Republicanos, legendas pró-Bolsonaro.
O levante dos
senadores ocorreu no sábado (27). Um dia depois, no domingo (28), o STF
(Supremo Tribunal Federal) acolheu pedido feito pelos governos do Maranhão,
Bahia e São Paulo, determinando que o Ministério da Saúde voltasse a custear
leitos de UTI para essas unidades federativas. Conforme resumiu o governador
maranhense Flávio Dino não se trata de um “favor” – mas, sim, de “de um direito
dos estados e um dever do governo federal, segundo a Constituição e legislação
do SUS (Sistema Único de Saúde)”.
Nesta segunda (1º),
19 governadores
lançaram carta conjunta e aberta para desmascarar o discurso
falacioso de governo Bolsonaro. Na véspera, o ministro das Comunicações, Fábio
Faria e o próprio presidente da República mentiram publicamente ao divulgar
supostos valores do repasse federal aos estados em 2020.
Dizem os
governadores: “Em meio a uma pandemia mundial de proporção talvez inédita na
história e a uma gravíssima crise econômica e social, a prioridade (de
Bolsonaro) parece ser criar confrontos, construir imagens maniqueístas e minar
ainda mais a cooperação federativa essencial aos interesses da população”. A
carta foi assinada até mesmo por governadores próximos do governo Ronaldo
Caiado (DEM), de Goiás, Cláudio Castro (PSC), do Rio de Janeiro) e Ratinho
Junior (PSD), do Paraná.
Em comum,
governadores e senadores, representantes legítimos dos estados, concordam que é
hora de dar um basta à forma negligente e criminosa como o presidente tem
lidado com a pandemia. A eles se somam parlamentares, dirigentes e lideranças
de ao menos 15 partidos políticos – não só da oposição –, que participaram na
noite desta segunda-feira do 4º Ato do Direitos Já – Fórum pela Democracia. São
legendas de esquerda, de centro e de direita que cobram a extensão do auxílio
emergencial, em parcelas mensais de R$ 600, até o final de 2021.
Todos esses
movimentos reforçam a necessidade de uma frente ampla, amplíssima, que ponha a
vida, a ciência e a democracia como elementos centrais da vida republicana no
País hoje. É salutar que as diferenças ideológicas, programáticas e até
eleitorais entre esses partidos e seus expoentes não impeçam o diálogo em nome
de um bem comum e maior. A frente ampla cresce. Não dá mais para ficar
indiferente ao bolsonarismo.
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