Deputados e
senadores condenam recentes arroubos autoritários do governo Bolsonaro e
reforçam grito pela liberdade e a luta democrática no país
por Christiane Peres
Publicado 31/03/2021 15:01 | Editado 31/03/2021 15:39
Araguaia
O golpe militar de
1964 completa 57 anos nesta quarta-feira (31), em meio a uma crise inédita: o
desembarque dos comandantes das Forças Armadas do governo Bolsonaro na véspera,
por discordarem das aventuras golpistas do presidente da República, após
demissão do então ministro da Defesa, o general da reserva Fernando Azevedo.
Os atos de
Bolsonaro, que já repercutiam no meio político desde a segunda-feira (29),
quando o presidente iniciou seu troca-troca ministerial, e reforçou sua
escalada antidemocrática, ganharam ainda mais críticas depois do primeiro ato
público do novo ministro da Defesa, Braga Netto, que na noite de terça-feira
(30), publicou uma ordem do dia alusiva ao aniversário de 57 anos do golpe
militar de 1964, que ele chama de “movimento de 31 de março de 1964”.
Nas palavras dele,
coube às Forças Armadas a responsabilidade de pacificar o país, enfrentando
desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas de hoje. É o
terceiro ano consecutivo que textos comemorativos ao golpe são publicados pelo
governo na data.
A deputada Jandira
Feghali (PCdoB-RJ) rebateu a declaração de Braga Netto e lembrou que o golpe de
1964 instaurou uma ditadura no país, com retirada de direitos da população.
“Pacificação? Só se
for a paz do silêncio, da censura e da falta de respeito sobre o
desaparecimento de lutadores deste país. Das vozes dos gritos de torturados,
dos lutadores pela restauração da democracia no campo e na cidade e nem dos
familiares que até hoje buscam notícias dos seus entes queridos e que tem nossa
total solidariedade. Não temos o que celebrar em 31 de março ou 1º de abril
relacionado a 1964. É dia de reforçarmos, mais do que nunca, o grito pela
liberdade e contra qualquer tipo de ameaça à democracia”, afirmou a
parlamentar.
A perseguição
política instaurada pelo Estado brasileiro com o golpe de 1964 assassinou,
prendeu e torturou quem lutava em defesa da liberdade democrática. No PCdoB,
muitos tombaram.
Para o deputado
Daniel Almeida (PCdoB-BA), não há como tolerar a celebração da data. “Não
podemos tolerar que essa data seja exaltada. Não conseguimos ainda esclarecer
episódios que fazem parte dessa trajetória histórica e que ainda é uma mancha
no processo de aprofundamento e consolidação democrática. Hoje é dia de luto
nacional, para rememorarmos um capítulo nefasto de nossa história. As práticas
da ditadura militar tiveram papel significativo no desenvolvimento de uma
cultura da violência, com invasões de domicílio, tortura e assassinato. Os
familiares têm todo o direito de continuarem a exigir que os corpos daqueles
que foram vítimas sejam identificados. O direito à memória e à verdade é algo
que está incompleto”, disse.
A deputada Alice
Portugal (PCdoB-BA) destacou que a luta pela democracia, mais que nunca, está
“na ordem do dia”.
“Eu, que participei
da luta contra a ditadura, a partir de meados da década de 70, que sou da
geração da porta das cadeias, que vi presos políticos, recebi as cartas, em
papel de seda, das torturas, sei exatamente que quem viu uma ditadura não quer
viver outra. Ontem, nós vimos os arroubos autoritários de Bolsonaro se
exacerbarem e constituírem uma atrapalhada militar. Não é possível mais
alimentar o monstro! É necessário que os setores democráticos rebelem-se,
levantem-se contra este governo”, pontuou.
Para o líder do
PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), é preciso proteger a
Constituição e, dados os últimos acontecimentos no governo, a tarefa caberá ao
Parlamento.
“É preciso proteger
a Constituição. E quem vai fazer isso não é sequer o ministro da Defesa, não é
sequer o comandante do Exército, mas é o Congresso Nacional, porque, se o
comandante do Exército se opuser a qualquer orientação maluca do presidente,
ele será demitido. Esse é um papel do Congresso Nacional. Nós teremos que
regulamentar se pode ou não pode militar da ativa participar de postos de
comando no governo, porque essa é a porta de entrada para a partidarização das
Forças Armadas, para a politização das Forças Armadas. O Supremo (Tribunal
Federal) e o Congresso precisam garantir a Constituição”, disse.
Para Renildo, a
escalada antidemocrática de Bolsonaro reitera a necessidade de reforçar a luta
pela democracia. “Essa pauta entrou no centro da política nacional em razão da
postura cada vez mais autoritária de Jair Bolsonaro.
Pelo terceiro ano
consecutivo, o governo Bolsonaro celebra o golpe de 64, como se fosse um
movimento legítimo. Não foi. Foi um golpe militar. Legítimo era o governo do
presidente João Goulart. O momento atual é gravíssimo. É inaceitável que o
presidente da República instigue militantes a defender o fechamento do Supremo
Tribunal Federal. É intolerável que se tente subordinar o Congresso Nacional e
politizar as Forças Armadas. O ódio aos governadores por adotarem medidas de
combate à pandemia também é absurdo em meio a quase 320 mil mortes por
coronavírus. Estamos no limiar da fronteira do que é compatível com a
democracia”, completou.
Governo celebra
golpe; Brasil bate mais um recorde de mortes por Covid
Enquanto Braga
Netto iniciava as celebrações governamentais, o Brasil batia um novo recorde de
mortes por Covid-19. Foram 3.780 vidas perdidas para a Covid nas últimas 24h,
de acordo com o levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde
(Conass), totalizando mais de 317 mil brasileiros vítimas de uma política
negacionista encabeçada pelo governo federal.
A deputada
Professora Marcivânia (PCdoB-AP) lembrou que diante da grave crise sanitária
vivida pelo país, a população deseja notícias sobre vacinas, não sobre
celebração de golpe.
“Ninguém aguenta
mais tamanho desleixo com os reais interesses dos brasileiros. Muitos estão
morrendo por absoluta inação o governo federal e muitos seguirão perdendo a
batalha contra a Covid-19, pois seu grande aliado é esse clima caos, alimentado
diariamente. O que os brasileiros gostariam de estar vendo, neste momento, eram
notícias sobre vacinação mais rápida, anúncios de medidas de recuperação
econômica, garantia de emprego e renda. Contudo, são mergulhados, cada dia
mais, nesse caos sanitário e sob ameaças antidemocráticas”, destacou.
Para ela, a
propagação do clima golpista é mais uma estratégia para “desviar a atenção do
país em relação à mortandade pela Covid”.
A vice-líder do
PCdoB, deputada Perpétua Almeida (AC), também reiterou a responsabilidade do
governo federal no elevado número de mortes pela Covid. “3.780 vidas. Bolsonaro
genocida, sim!”, afirmou.
O deputado Orlando
Silva (PCdoB-SP) também chamou Bolsonaro de “genocida” e afirmou que o
presidente faz “um governo de traição nacional, que já custou as vidas de mais
de 317 mil brasileiros” e que “enfraquecido, tenta um golpe contra as
instituições”. “Vigilância e mobilização em defesa da democracia!
#DitaduraNuncaMais”, afirmou.
“Nós, da Oposição,
não permitiremos qualquer investida autoritária que ameace a democracia! O
golpe de 64 foi marcado por tortura, morte e censura – e não há nada para ser
‘celebrado’ nisso. Como bem disse Ulysses Guimarães, ‘temos ódio e nojo à
ditadura’! #DitaduraNuncaMais”, postou o líder da oposição na Câmara, Alessandro
Molon (PSB-RJ)
A deputada Natália
Bonavides (PT-RN), que denunciou o governo na Corte Interamericana de Direitos
Humanos por comemorar a data, rechaçou duramente o golpe. “As Forças Armadas
acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País, diz o ministério da
defesa, e que o golpe de 64 deve ser celebrado. A pacificação estaria em
colocar ratos nas vaginas de mulheres torturadas? Em matar e ocultar cadáveres
(até hoje)? Canalhas sádicos!”, protestou.
“Hoje é mais um dia
para reforçar a luta pela democracia. Há 57 anos, o Brasil iniciava um dos
momentos mais sombrios de sua história – a ditadura militar, onde pessoas foram
presas, exiladas, perseguidas, torturadas e assassinadas por se oporem ao
regime autoritário”, lembrou o líder do PDT, Wolney Queiroz (PE).
Senadores
Para o senador
Fabiano Contarato (Rede-AP), o golpe de 1º de abril de 1964 faz parte da
História, assim como muitas outras infâmias, a exemplo dos horrores da 2ª
Guerra Mundial. “A História das misérias humanas deve servir como advertência
para que não repitamos os mesmos erros, jamais para celebração!
#DitaduraNuncaMais”, escreveu no Twitter.
O líder do PT na
Casa, Paulo Rocha (PA), disse que é preciso lembrar para não esquecer o período
mais sombrio da história nacional. “Assassinatos, tortura, estupro, censura,
corrupção, exílio, perseguição política e violência. Esse é o resumo dos 21
anos do regime militar no Brasil.”
“Ditadura não se
celebra. É um caminho maldito. Traidor da Constituição é traidor da Pátria.
Temos ódio e nojo da ditadura”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE).
Fonte: Liderança do
PCdoB na Câmara dos Deputados
0 comentários :
Postar um comentário