quinta-feira, 11 de março de 2021

REFLEXÃO POLÍTICA DO DIA

 

O Brasil cara a cara com a morte

Publicado 10/03/2021 23:04

Foto da primeira morte. Fonte Jovem pan.com.br

Do Editorial do Portal Vermelho 

No livro em que relata seus últimos dias de vida, após ter sido diagnosticado com um câncer esofágico devastador, o jornalista e escritor britânico Christopher Hitchens (1949-2011) lembra o momento em que, pela primeira vez, a sombra da morte realmente o assustou: “Mais de uma vez em minha vida, acordei com a sensação de estar morto. Mas nada me preparou para o começo da manhã de junho em que recobrei a consciência sentindo-me como que acorrentado a meu próprio cadáver”.

É com esse sentimento angustiante de proximidade da morte que se encontra não um ou outro brasileiro – mas, sim, o conjunto da população. O Brasil se tornou, nesta semana, o epicentro mundial da pandemia do novo coronavírus, ao ultrapassar os Estados Unidos e despontar, tragicamente, como o país com a maior média diária de mortes por Covid-19. Só na terça-feira (9), a doença mais mortal no Planeta hoje ceifou a vida de 1.954 brasileiros e de 1.947 norte-americanos.

Nos Estados Unidos, a mudança de estratégia no enfrentamento à pandemia foi fundamental para conter o avanço do vírus. É fruto direto da derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais de novembro passado – uma contundente reação do povo estadunidense à política negacionista de seu ex-presidente. Com a posse do novo titular da Casa Branca, o democrata Joe Biden, a média semanal de mortes no país – que estava em alta – caiu de 18 mil em dezembro para 14 mil em fevereiro.

O Brasil, porém, continua a ser governado por um líder de extrema-direita que tenta impor uma política genocida ao povo. Jair Bolsonaro sabota o combate à pandemia, ridiculariza os cuidados mais básicos de prevenção (como o uso de máscara), estimula aglomerações, retarda a campanha de vacinação e condena milhares de brasileiros à morte.

Com tamanha e tão criminosa irresponsabilidade, não é de surpreender que, infelizmente, o País tenha batido novamente, nesta quarta-feira (10), o recorde diário de contaminações e mortes por Covid-19. Nas últimas 24 horas, foram nada menos que 79.876 novos casos (mais do que um estádio do Maracanã lotado) e 2.286 óbitos. Um a cada três novos casos no mundo está no Brasil. Desde o início da pandemia, já são 270.917 mortes, para um total de 11,2 milhões de infecções.

Enquanto isso, somente 4,26% da população foi vacinada – o que atrasa ainda mais o controle da pandemia no País. Para piorar, passado o drama da falta de oxigênio hospitalar que atingiu alguns estados – sobretudo na região Norte –, dissemina-se agora a crise da lotação de leitos de UTI (unidade de terapia intensiva), que precipita o óbito de pacientes com Covid-19.

Em 12 estados e no Distrito Federal, mais de 90% das vagas em UTIs estão ocupadas. Só no estado de São Paulo, 38 pessoas morreram neste mês à espera de leitos, sendo 12 delas na cidade de Taboão da Serra, na região metropolitana. Em Rondônia, a ocupação nas UTIs é de 100%. Capitais como Aracaju, Porto Alegre, Porto Velho e Rio Branco também já registram filas de pacientes.

A omissão de Bolsonaro diante do descalabro tem levado gestores estaduais e municipais a articularem saídas alternativas. Nesta quarta-feira (10), 21 governadores assinaram um contundente documento que propõe o Pacto Nacional pela Vida e pela Saúde. A ação dos governantes tem três eixos: acelerar a vacinação, difundir medidas preventivas e ampliar os leitos hospitalares, com a integração dos sistemas hospitalares.

“O coronavírus é hoje o maior adversário da nossa Nação. Precisamos evitar o total colapso dos sistemas hospitalares em todo o Brasil e melhorar o combate à pandemia. Só assim a nossa Pátria poderá encontrar um caminho de crescimento e de geração de empregos”, assinalam os governadores no documento.

No país que virou epicentro da pandemia e que está cara a cara a morte, as bandeiras da “Vacina Já” e da retomada do auxílio emergencial são cada vez mais urgentes. Nada, porém, sobressai com mais clareza do que a necessidade de derrotar o bolsonarismo – para que tantos brasileiros deixem de se sentir “acorrentados ao próprio cadáver”.

 

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