O STF e os arbítrios da Operação Lava Jato
Publicado 09/03/2021 23:01 | Editado 09/03/2021 23:05
Ao decidir pela anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Justiça Federal no Paraná relacionadas às investigações da Operação Lava Jato, o ministro do Supremo Tribunal federal (STF) Edson Fachin trouxe à luz o debate sobre a imprescindibilidade do Estado Democrático de Direito. Há na decisão um forte componente político, mas o essencial é a luta histórica por instrumentos que garantem as regras da civilização.
O fundamento dessa
constatação é o conceito de democracia. Em rápidas palavras, pode-se dizer que
o Estado Democrático de Direito não comporta casuísmo. No caso do Brasil, a
conformação do processo de redemocratização pós-1988 contém a essência política
e jurídica das atuais regras do país. Sob a égide da Constituição, o Brasil
atravessa um período relativamente longo de democracia, que na atualidade passa
por reveses graves e se encontra sob séria ameaça.
A chegada do
bolsonarismo ao poder se deve muito a esses reveses. E os métodos da Operação
Lava Jato foram decisivos para que a institucionalidade democrática do país
entrasse na alça de mira da extrema direita. Em toda a sua trajetória, a
chamada “República de Curitiba” se utilizou de casuísmo para trocar as
premissas da Constituição por práticas de Estado de exceção. Com isso, a
democracia foi seriamente aviltada e os pilares do Estado Democrático de
Direito, atacados.
O essencial agora é
a luta em defesa da democracia. Como diz uma
nota do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), “seria péssimo para o
país, se essa importante conquista de Lula viesse a resultar em condutas que
sobrepõem os interesses do Brasil e de seu povo a outros menores e que venha
reavivar polarizações que já se revelaram úteis à tática política e eleitoral da
extrema-direita”.
A democracia é um
valor fundamental da civilização, um alicerce inegociável na construção de uma
sociedade soberana e em progresso social. No entanto, o que se viu foram esses
princípios sendo trocados por um desfile de cinismo, de caráter autoritário e
persecutório. Isso se deve à prática comum da Operação Lava jato de
desrespeitar o direito do outro — uma barbaridade corroborada pela grande mídia
que, por ser recorrente, ou talvez exatamente por isso, nem sempre apareceu com
clareza.
Não se pode admitir
a presunção de culpas e nem a exploração inescrupulosa da condenação prévia das
pessoas por meio de falsificação de provas habilmente colhidas e impiedosamente
manipuladas, não raro exposta em manchetes espalhafatosas. Num conceito mais elevado
de justiça, tal prática pode ser considerada criminosa. Além da própria defesa
de Lula, renomados juristas do Brasil e do exterior, além diversos segmentos
políticos, denunciaram a farsa judicial montada pela “República de Curitiba”
para, supostamente combater práticas delituosas de corrupção. Mas o que se viu
um juiz conduzir uma ação de caráter nitidamente político vilipendiando o
estado de direito e ignorando o devido processo legal.
O resultado
político mais visível se expressou na disputa eleitoral de 2018, quando Lula
foi preso e impedido de disputar a presidência de República e o caminho ficou
relativamente fácil para a eleição de Jair Bolsonaro. Além do país, cadeiras
produtivas inteiras – como a o petróleo e da construção civil – foram duramente
golpeadas, privando o Brasil de instrumentos indispensáveis ao seu
desenvolvimento soberano.
A decisão do
Ministro Fachin também teve consequências na ação que tramita no STF e pede a
suspeição de Sergio Moro. Com seu despacho, o magistrado imaginava estancar a
ação já que os julgamentos que condenaram Lula estavam anulados e não faria
mais sentido questionar a suspeição do ex-juiz lavajatista. Ocorre que a
Segunda Turma do STF retomou o julgamento nesta terça-feira e os prognósticos
indicam uma condenação de Moro.
Tudo isso ocorre em
um momento grave da história do Brasil em que o país e seu povo sofrem as
graves consequências da conduta genocida do presidente da República em relação
à crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19, com recordes diários de
mortes e com efeitos desastrosos na economia. Os brasileiros precisam dar uma
resposta vigorosa e abrangente, capaz de dar um basta na conduta Bolsonaro.
Neste momento, os interesses da nação devem ficar acima de objetivos menores,
que reacendam confrontações em benefício de propósitos eleitorais e políticos
dos segmentos mais retrógrados da sociedade, representados pela figura nefasta
do atual presidente brasileiro.
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