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por José Carlos de
Assis, Roberto Requião
Publicado 04/04/2021 20:20
Caríssimo
Presidente Lula,
Ficamos chocados
com a sua afirmação de que estaria a favor de transformar empresas estatais,
como a Caixa Econômica Federal, hoje totalmente controlada pelo Estado, em
empresa de economia mista sob controle parcial privado. Também nos surpreendeu
sua concordância com o Governo atual na estratégia de privatização da
Eletrobrás, a qual, junto com a Petrobrás, é o eixo da independência energética
brasileira.
Supomos que esteja
sendo mal aconselhado na área econômica. Não há nenhum sentido em privatizar a
Caixa, mesmo que parcialmente. É uma empresa que rende dividendos expressivos
para a área assistencial do Governo, há mais de um século, e desempenha papel
estratégico no desenvolvimento social do país. Privatizá-la significa
efetivamente doar uma parte dela a particulares sem qualquer justificativa
econômica ou moral.
No caso da
Eletrobrás, estamos diante de um dos maiores riscos estratégicos para a
economia brasileira, na medida em que um sistema energético integrado e bem
articulado ficará sob a ameaça de injustificável desintegração. Além disso, é
uma empresa monopolista em várias funções, não fazendo qualquer sentido que
seja entregue ao setor privado com seu apetite por lucro e com o descaso na
operação, conforme se viu recentemente em Rondônia.
Mais assustador
ainda do que o que assinalam essas indicações privatistas – neste caso, tendo
em vista o que propõe o próprio programa do PT recém-lançado – é o que ali se
expressa como um compromisso com o equilíbrio macroeconômico. Isso é puro
conservadorismo. É um compromisso, sim, com a recessão, pois uma economia que
não tem desequilíbrios macroeconômicos, sobretudo a partir de recessão, jamais
retomará o crescimento econômico.
Observe os Estados Unidos, o
Japão, a União Europeia, a Inglaterra – ninguém faz mais equilíbrio
orçamentário no mundo, pois sabe que se trata de um suicídio econômico e
social. Equilíbrio macroeconômico é manter a demanda no nível da oferta, o que,
num quadro de recessão, impede o investimento público deficitário, chave do
keynesianismo. Os governos neoliberais inventaram, além disso, o absurdo do
teto orçamentário, tão contraditório que o próprio Governo quer agora se livrar
dele, sob protesto de economistas ortodoxos e conservadores. (Entretanto,
enquanto subsistir o governo Bolsonaro, não somos contra o teto de gastos, pois
sem teto ele teria carta branca para gastar.) Para o combate à covid, sim, é
importante furar o teto
de gastos; outros gastos deveriam ser vistos caso a caso.
Essas observações acentuam nosso alinhamento com a essência
de seu projeto político. Contudo, não podemos estar de acordo com as questões
políticas levantadas acima. Fazemos isso por lealdade ao próprio país. Pretendemos
nos juntar a milhões de brasileiros que veem no senhor um projeto de mudança
para o país. Estamos certos que a orientação macroeconômica do futuro governo
que vier a chefiar repita a espetacular performance de 2010, quando saímos de
uma depressão para um crescimento de 7,4%, graças, sobretudo, a investimento
deficitário.
Grande abraço, Roberto Requião, advogado e político; José
Carlos de Assis, economista.
Curitiba/Rio, 3 de abril de 2021
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