Cristovam era meu primo, morava no campo, Sítio Poço Dantas, teve uma vida passageira por essa terra. Ele saiu de casa e nunca mais voltou. Encontraram ele sem vida um certo tempo depois. Parte do seu dilema eu relato nesse cordel.
Cristovam saiu de casa
Sem um destino aparente
Embreou-se pela mata
Talvez com medo de gente.
Ninguém sabia onde estava,
Pois Cristovam estava ausente.
Será que ele fugia
Daqueles que o procuravam?
Ouvindo cada estalo
Das folhas nas quais pisavam?
Ou será que nem ouviu
O clamor dos que choravam?
Será que foi o remédio
Q’ele deixou de tomar?
Ou será que foi o estresse
Doença tão popular?
Quem sabe um amor perdido
Que ele foi procurar?
Foi na saída que viu
Esta moça lhe chamar?
Andando de mata adentro
Procurando o seu amor
Teria encontrado ela?
Finalmente a encontrou?
Pois ela também sumiu
Quem sabe por onde andou?
Está viva ou esta morta?
Qual destino ela traçou?
Severino o retirante
No seu drama ele dizia:
De fome e sede morre
Um pouquinho a cada dia.
Mas pouco como Cristovam
Viram este drama cruel
Talvez no último instante
Ele clamasse ao céu:
Meu Deus! Meu Deus! O que fiz?
Pra merecer este fim?
Será que até o meu Deus
Também não gosta de mim?
Será que ele traçou
Em vida a sua partida?
Por ter perdido o amor
Que encantou sua vida?
Estaria angustiado?
Não queria despedida?
Não queria dar trabalho?
Dispensou qualquer guarida?
O que passou na cabeça
Deste amante da lida?
Trabalhou a vida inteira
Não quis saber de riqueza
Deixou pra traz os seus bens
Como um voto de pobreza.
Perdeu o norte da vida?
Perdeu da vida a beleza?
Ou morreu dentro do mato
Abraçado com a tristeza?
É difícil imaginar
O problema que o matou:
Tristeza, estresse ou loucura,
Timidez, paixão, amor?
Ninguém ouviu o relato,
Nem sabe contar de fato
O que Cristovam passou.
Ninguém em sã consciência
Quer ver um ante querido
Sofrendo dores terríveis,
Se arrastando e ferido
Pra morrer dentro do mato
Abandonado ou perdido.
Ninguém quer ver um parente
Encostado na parede,
Sem um lugar para dormir
Sem ter nem cama, nem rede
Com frio e sem agasalho,
Morrer de fome e de sede.
Ninguém quer ver um parente
Morrer sem ser sepultado,
Ficar no meio do mato,
No mato ser devorado...
E cinco meses depois
Os restos ser encontrado.
A morte de alguém querido
Sempre deixa uma lição:
Daqui não se leva nada
Para debaixo do chão
A não ser algumas flores
Dentro do nosso caixão.
Se você for lá pra o céu,
Ou pra debaixo do chão,
Partir pra outra melhor
For pra outra dimensão...
Tiver a carne cremada
Seus bens não servem de nada
De nada lhe servirão.
Certa feita um amigo meu
Olhando pra um caixão
Falou resumindo tudo
Que vinha do coração:
“É sete palmos do chão
Aqui está o destino
De todos que aqui estão”.
Por certo ele quis passar
Pra nós uma rica lição
Mais rica do que a riqueza
Construída com a ambição.
Com brigas, guerras, discórdias,
De irmão contra irmão.
Seguindo o norte pensante
Diz ele na conclusão:
“que adianta tanta terra,
Concentrada em “pouca mão”
Se não dar três “Pé de milho”
A cova de um cidadão?”
Tabira, 19 de novembro de 2011.
Dedé Rodrigues.
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