quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O FIM TRÁGICO DE CRISTÓVAM

 Cristovam era meu primo, morava no campo, Sítio Poço Dantas, teve uma vida passageira por essa terra. Ele saiu de casa e nunca mais voltou. Encontraram ele sem vida um certo tempo depois. Parte do seu dilema eu relato nesse cordel. 

 

Cristovam saiu de casa

Sem um destino aparente

Embreou-se pela mata

Talvez com medo de gente.

Ninguém sabia onde estava,

Pois Cristovam estava ausente. 


Será que ele fugia

Daqueles que o procuravam?

Ouvindo cada estalo

Das folhas nas quais pisavam?

Ou será que nem ouviu

O clamor dos que choravam?


Será que foi o remédio

Q’ele deixou de tomar?

Ou será que foi o estresse

Doença tão popular?

Quem sabe um amor perdido

Que ele foi procurar?

Foi  na saída que viu

Esta moça lhe chamar?


Andando de mata adentro

Procurando o seu amor

Teria encontrado ela?

Finalmente a encontrou?

Pois ela também sumiu 

Quem sabe por onde andou?

Está viva ou esta morta?

Qual destino ela traçou?


Severino o retirante

No seu drama ele dizia:

De fome e sede morre

Um pouquinho a cada dia.

Mas pouco como Cristovam

Viram este drama cruel

Talvez no último instante

Ele clamasse ao céu:

Meu Deus! Meu Deus! O que fiz?

Pra merecer este fim?

Será que até o meu Deus

Também não gosta de mim?


Será que ele traçou

Em vida a sua partida?

Por ter perdido o amor

Que encantou sua vida?

Estaria angustiado?

Não queria despedida?

Não queria dar trabalho?

Dispensou qualquer guarida?

O que passou na cabeça

Deste amante da lida?


Trabalhou a vida inteira

Não quis saber de riqueza

Deixou pra traz os seus bens

Como um voto de pobreza.

Perdeu o norte da vida?

Perdeu da vida a beleza?

Ou morreu dentro do mato

Abraçado com a tristeza?


É difícil imaginar

O problema que o matou:

Tristeza, estresse ou loucura,

Timidez, paixão, amor?

Ninguém ouviu o relato,

Nem sabe contar de fato

O que Cristovam passou.


Ninguém em sã consciência

Quer ver um ante querido

Sofrendo dores terríveis,

Se arrastando e ferido

Pra morrer dentro do mato

Abandonado  ou perdido.


Ninguém quer ver um parente

Encostado na parede,

Sem um lugar para dormir

Sem ter nem cama, nem rede

Com frio e sem agasalho,

Morrer de fome e de sede.


Ninguém quer ver um parente

Morrer sem ser sepultado,

Ficar no meio do mato,

No mato ser devorado...

E cinco meses depois

Os restos ser encontrado.


A morte de alguém querido

Sempre deixa uma lição:

Daqui não se leva nada

Para debaixo do chão

A não ser algumas flores

Dentro do nosso caixão.


Se você for lá pra o céu,

Ou pra debaixo do chão,

Partir pra outra melhor

For pra outra dimensão... 

Tiver a carne cremada

Seus bens não servem de nada

De nada lhe servirão.


Certa feita um amigo meu

Olhando pra um caixão

Falou resumindo tudo 

Que vinha do coração: 

“É sete palmos do chão

Aqui está o destino

De todos que aqui estão”.


Por certo ele quis passar

Pra nós uma rica lição

Mais rica do que a riqueza

Construída com a ambição.

Com brigas, guerras, discórdias,

De irmão contra irmão.


Seguindo o norte pensante

Diz ele na conclusão:

“que adianta tanta terra,

Concentrada em “pouca mão”

Se não dar três “Pé de milho”

A cova de um cidadão?”


Tabira, 19 de novembro de 2011.

Dedé Rodrigues.













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