Com que palavras Drummond expressaria as perdas, ausências e partidas nesse Finados de 2021?
por Anderson Pereira
Publicado 02/11/2021 11:42
Montagem por Cezar Xavier
O poeta mineiro
Carlos Drummond de Andrade foi o grande homenageado do Festival Internacional
de Itabira – sua terra natal – realizado entre os dias 27 e 31 do último mês.
Drummond escreveu sobre a vida, a morte, encontros e partidas. No seu poema
“Para Sempre”, o poeta questiona: Por que Deus permite que as mães vão-se
embora?
Fosse eu Rei do
Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre
nunca,
Mãe ficará sempre
Junto de seu filho
E ele, velho
embora, será pequenino
Feito grão de
milho.
Carlos Drummond de
Andrade nasceu no dia 31 de outubro de 1902 e morreu no Rio de Janeiro, aos 85
anos, vítima de um infarto. A sua morte aconteceu 12 dias após o falecimento da
sua filha, Maria Julieta Drummond de Andrade, acometida por um câncer.
No poema
“Ausência”, Drummond escreveu:
Por muito tempo
achei que a ausência é falta.
E lastimava,
ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na
ausência.
A ausência é um
estar em mim.
E sinto-a, branca,
tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e
invento exclamações alegres,
porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba
mais de mim.
Nascido em Minas e
um apaixonado pelo Rio de Janeiro, para aonde se mudara em 1934, Drummond
escreveu a história da sua vida na capital fluminense.
O reconhecimento
veio anos mais tarde, com a instalação de uma estátua em sua homenagem na praia
de Copacabana, local onde costumava passar horas contemplando o mar.
No poema “Canção
Final”, Drummond registrou:
Oh! se te amei, e
quanto!
Mas não foi tanto
assim.
Até os deuses
claudicam
em rugas de
aritmética.
Meço o passado com
régua
de exagerar as
distâncias.
Tudo tão triste, e
o mais triste
é não ter tristeza
alguma.
É não venerar os
códigos
de acasalar e
sofrer.
É viver tempo de
sobra
sem que me sobre
miragem.
Agora vou-me. Ou me
vão?
Ou é vão ir ou não
ir?
Oh! se te amei, e
quanto,
quer dizer, nem
tanto assim.
Hoje, neste Dia de
Finados, o país vive um luto coletivo. O número de mortos pela pandemia já
alcança quase 610 mil brasileiros. Muitas dessas mortes poderiam ter sido
evitadas, se não fosse a condução errática e criminosa do governo Federal.
Os meus sentimentos
a todos que perderam amigos e parentes para a pandemia.
No poema “No Meio
do Caminho”, Drummond escreveu:
No meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no
meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho
tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei
desse acontecimento
na vida de minhas
retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei
que no meio do caminho
tinha uma pedra.
tinha uma pedra no
meio do caminho
no meio do caminho
tinha uma pedra.
Que nas eleições de
2022, o Brasil possa tirar todas as suas pedras do caminho para seguir em
frente.
Anderson Pereira é
jornalista
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