País latino-americano já vacinou mais contra a Covid-19 do que grande parte dos países ricos
Publicado 25/01/2022 09:00 | Editado 25/01/2022
13:02
Enquanto a OMS (Organização Mundial de Saúde)
alerta para a falta de vacinas anti-Covid-19 em nações mais pobres do
continente africano – onde só 9,4% da população recebeu ao menos uma dose –,
Cuba, do outro lado Atlântico, virou referência no combate à pandemia. O país
latino-americano já vacinou mais contra a Covid-19 do que grande parte dos
países ricos.
Segundo a OMS, 93% dos cubanos já tomaram ao menos
uma dose. Só os Emirados Árabes Unidos (99%) e Portugal (94%) têm índices de
vacinação melhores do que a ilha caribenha. O êxito da campanha de vacinação em
Cuba, que começou em maio de 2021, não foi uma surpresa para epidemiologistas.
A prestigiada medicina geral e preventiva do país é destaque global.
Cuba investe desde março de 2020 no desenvolvimento
de suas próprias vacinas anti-Covid. Hoje, três imunizantes da farmacêutica
estatal BioCubaFarma são aplicados no país.
A BioCubaFarma realizou um estudo que indica que
duas doses da Soberana 02 e uma dose de reforço da Soberana Plus garantem 92,4%
de eficácia contra a Covid sintomática. Apenas as duas doses da Soberana 02 já
oferecem eficácia de 71%, segundo a farmacêutica. A pesquisa foi publicada em
1º de novembro de 2021, no Medrxiv – portal vinculado à Universidade de Yale,
em que são divulgados artigos científicos sobre a área da saúde.
O estudo é preliminar e ainda precisa ser validado
pela comunidade científica internacional. Mas, em entrevista a jornalistas, em
julho de 2021, Eduardo Martínez Díaz, presidente da BioCubaFarma, disse que a
verificação da eficácia é resultado de “um processo rigoroso” de avaliação.
Mas como Cuba, um país pobre que enfrenta um
criminoso bloqueio por parte dos Estados Unidos, conseguiu desenvolver com
sucesso vacinas anti-Covid?
Quando estava no comando do país, o líder cubano
Fidel Castro investiu não apenas na formação de médicos – mas também em
biotecnologia. Além de representar um investimento no futuro, essa aposta
visava driblar o bloqueio norte-americano. “Se surge um medicamento novo, nosso
país não pode adquirir”, disse Castro em 1989, quando esteve no Brasil e
visitou a sede da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Ao falar da vacinação infantil contra a Covid (Cuba
está imunizando a população acima dos 2 anos), o Ministério da Saúde lembra
tanto de Castro como do longo bloqueio. A única vacina aplicada em Cuba que não
é desenvolvida no país é a Covilo, da Sinopharm. Com tecnologia diferente dos
imunizantes cubanos, a vacina chinesa usa vírus inativado (como a CoronaVac) e
já foi aprovada por 85 países, incluindo o Brasil – apesar de não ser usada por
aqui.
Desde o início da campanha de imunização, a
pandemia está mais controlada na ilha. Apesar de o número de casos ter
aumentado com o surgimento da variante ômicron, está longe do que era em meados
de 2021, pico da pandemia no país. Cuba registrou seu maior número de novos
casos diários em 24 de agosto: 9.416. Até 19 de janeiro, a média de casos em
sete dias era de 3.316,29, segundo o Our World in Data.
O mesmo ocorre com as mortes decorrentes do novo
coronavírus. Em agosto do ano passado, o número de mortes diárias estava em
torno de 80. Agora, raramente passa de dez.
Vacinação mundial
Hoje, 60,3% da população mundial recebeu ao menos
uma dose de vacina anti-Covid. Segundo o Our World in Data, 9,82 bilhões de
doses foram administradas globalmente e 28,77 milhões são aplicadas todos os
dias. No entanto, a desigualdade vacinação é grande.
Cuba pode ter um papel importante para reduzir
isso. Suas vacinas são desenvolvidas com a tecnologia de subunidade proteica,
com fragmentos de proteínas do novo coronavírus criados para imitar a estrutura
do vírus. O uso dessa tecnologia torna as vacinas mais baratas e fáceis de
produzir em larga escala. Além disso, os imunizantes não requerem
ultracongelamento.
A produção em larga escala pode ser um entrave para
a exportação de vacinas. Ao falar com jornalistas em julho, o presidente da
BioCubaFarma citou dificuldades em comprar insumos devido às sanções.
“Continuamos a fabricar, mas se não fossem estes entraves, a disponibilidade de
doses de vacinas seria maior”, falou Díaz.
O governo cubano se mostrou disposto a negociar a
quebra de patentes das vacinas, ao contrário de outros governos e empresas
farmacêuticas. O tema é alvo de apelos constantes da OMS e de outras entidades
internacionais. Para exportar as vacinas, o país aguarda a liberação dos seus
imunizantes pela OMS. Dados de ensaios clínicos ainda precisam passar por
revisão científica internacional.
Com informações do Poder360
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