Lula tem, de imediato, três questões complexas a tratar: mudança de rumos da política econômica, construção de maioria parlamentar e redefinição do papel das Forças Armadas.
por Luciano Siqueira
Publicado 26/01/2023 10:08 | Editado 26/01/2023 10:51
Um dos desafios de Lula é redefinir o papel das Forças Armadas l Foto:
Ricardo Stuckert/ Palácio do Planalto
Via de regra a
ansiedade se choca contra o processo natural da vida. Por isso não nos faz bem.
Nem com uma boa dose de rivotril para compensar, como parece ter sido a válvula
de escape do ex-presidente Jair Bolsonaro, a julgar pela volumosa compra do
ansiolítico registrada em transações com seu cartão corporativo.
Há muita ansiedade
em relação ao governo Lula, proporcional ao entrechoque de interesses de classe
e segmentos de classe em torno da pesada agenda que se coloca de imediato.
Leia também: Pacheco e Lira
se consolidam como favoritos para presidirem Senado e Câmara
O governo se assume
como de reconstrução nacional, missão a cumprir com apoio na frente ampla que
venceu as eleições. Para governar, necessário que seja mais ampla ainda. O que
significa força política e ao mesmo tempo contradições internas.
Basta verificar
três frentes de atuação imediata do governo por si mesmas complexas: mudança de
rumos da política econômica, construção de maioria parlamentar e redefinição do
papel das Forças Armadas.
Cada passo, uma
novela — como diz aqui o amigo Epaminondas.
Pouco a comemorar
de imediato, nem seria sensato.
Reação forte dos representantes dos
poderes da República expressa unidade ampla contra o golpismo Foto: Ricardo
Stuckert / Fotos Públicas
Basta acompanhar
editoriais e colunas na grande mídia monopolizada, que pressiona para que não
se rompa com fundamentos ultraliberais da política econômica. A cantilena é:
controle fiscal acima de tudo! Ou seja, garantias ao rentismo a qualquer preço.
Mesmo que o preço seja a frustração de políticas sociais absolutamente
necessárias.
Uma vez empossada a
nova composição da Câmara e do Senado, se muito for possível será uma maioria
governista frágil e instável, conquistada e mantida a base de importantes
concessões.
E engana-se quem
imagina que a substituição do comandante do Exército é suficiente para conter
em definitivo o fogo de monturo anti-Lula que queima nas Forças Armadas. A
demissão do general Júlio César de Arruda sem dúvida foi um gesto de força do
presidente da República. Mas ainda tem o segundo tempo e a prorrogação.
Leia também: Democracia e
reconstrução do país dão tom de marcha do Fórum Social Mundial
A chamada questão
militar marca a frágil República brasileira desde o seu nascedouro. E mais
recentemente, desde o fim da ditadura em 1985, formaram-se gerações do
oficialato imbuídas de pretensões intervencionistas que se exacerbaram com o
governo Bolsonaro.
Lula tem perfeita
noção do tamanho da empreitada. Mais uma vez pilota um governo de transição a
um novo projeto de nação a ser construído agora sobre os escombros do desastre
bolsonarista. Transição que se dá ora em tom morno, ora em tom exacerbado.
Então, sem
arrefecer a esperança e o entusiasmo, importa ter os pés fincados na realidade
concreta e no jogo de forças contraditório na sociedade —sensivelmente
polarizada e dividida — e no âmbito do próprio governo.
Em apoio às
mudanças, é necessária a mobilização da ampla frente social e política. Nos
salões, nas redes e nas ruas.
As opiniões expostas neste artigo não
refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
0 comentários :
Postar um comentário