Maior empresa brasileira virou “uma máquina de gerar dividendos para os acionistas, sem compromisso com o desenvolvimento nacional e a soberania do País”, conforme denuncia a FUP
por André Cintra
Publicado 02/03/2023 18:16 | Editado 02/03/2023 19:05
A Petrobras
anunciou ter alcançado um lucro líquido recorde de R$ 188,3 bilhões em 2022,
sendo R$ 43,3 bilhões apenas no quarto trimestre. A notícia, divulgada nesta
quarta-feira (1/3), representa uma alta de 77% em relação ao lucro de R$ 106,6
bilhões registrado em 2021. Nem por isso, porém, o resultado será favorável ao
conjunto dos brasileiros.
Tudo porque os
dividendos da Petrobras referentes a 2022 também serão recordes e vão superar
os ganhos ao longo do ano. Nascida há 70 anos nos marcos da campanha “O
Petróleo é Nosso”, a maior empresa brasileira virou “uma máquina de gerar
dividendos para os acionistas, sem compromisso com o desenvolvimento nacional e
a soberania do País”, conforme denuncia a FUP (Federação Única dos
Petroleiros). Ao tragarem avidamente um lucro histórico, os acionistas mostram
que, na prática, o petróleo é deles.
“Somente em 2022,
já foram adiantados aos investidores R$ 180 bilhões em dividendos referentes
aos três primeiros trimestres. Ou seja, os acionistas já receberam praticamente
todo o lucro que a estatal registrou em 2022”, detalha a entidade. “Com a
distribuição dos dividendos do quarto trimestre, esse montante pode chegar a R$
215,8 bilhões – mais do que o dobro dos já absurdos R$ 101,4 bilhões que foram
pagos em 2021.
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) também criticou a megapartilha do lucro da empresa.
“A Petrobras entregou de dividendos mais de R$ 215 bilhões, quando ela deveria
ter investido metade no crescimento desse país, na indústria brasileira”,
disparou Lula, nesta quarta-feira (2), durante a solenidade de relançamento do
Bolsa Família, em Brasília.
“Houve um lucro de
R$ 195 bilhões – e quanto foi o investimento da Petrobras? Quase nada!”,
acrescentou o presidente. “No nosso tempo, era uma empresa de desenvolvimento
desse país. Agora, é uma empresa exportadora de óleo cru. Não foi para isso que
descobrimos o pré-sal.”
O montante dos
dividendos se torna ainda mais escandaloso diante do permanente risco
inflacionário que ronda os combustíveis no Brasil desde a implantação, em 2016,
da chamada “política de preços” da Petrobras. No mercado nacional, os preços da
gasolina e do etanol estão atrelados tanto às variações cambiais quanto à
cotação internacional do petróleo.
O nome técnico
dessa política, imposta no governo Michel Temer, é “preço de paridade de
importação” (PPI). Ao adotá-la, o Brasil abriu mão de controlar os preços no
setor e se sujeitou ao mercado.
Como o governo Lula
decidiu encerrar a desoneração dos combustíveis, em vigor desde 2022, haverá
alta no valor dos combustíveis vendidos “na ponta”. Assim, enquanto os
acionistas se refastelam com os lucros gigantescos da Petrobras, o consumidor
pagará o custo da festa.
“Os megadividendos
que a Petrobrás paga aos acionistas têm superado, em muito, os investimentos da
empresa nos últimos anos”, reforça a FUP. “Em 2022, mais uma vez, a estatal
realizou uma tímida política de investimentos, com encolhimento de patrimônio e
perda de capacidade produtiva. Foram investidos menos de US$ 10 bilhões, o que
equivale a cerca de 52 bilhões de reais, pelo câmbio atual. Ou seja, um quarto
dos valores pagos em dividendos.”
Em resposta a esse
descalabro, o novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou nesta
quarta que a “abstração” da política de preços da empresa pode estar com os
dias contados. “Se (a Petrobras) julgar necessário, haverá
mais de uma referência para ter o melhor preço para o consumidor”, resumiu
Prates a jornalistas. “Quando fala em PPI, parece que virou um dogma esse
negócio – criaram esse nome e isso parece que dominou tudo. Não é
necessariamente assim.” É o que esperam não apenas os eleitores de Lula – mas a
imensa maioria dos brasileiros.
0 comentários :
Postar um comentário