Concebida e aprovada de forma apressada, a Reforma do Ensino Médio transformada na Lei 13.415 de fevereiro de 2017 já nasceu doente.
Por Roberto
Catelli Jr.*, na Carta Educação
Publicado 12/09/2018 16:50
Educação/Reforma do Ensino Médio
Não foi realizado
um diagnóstico das reais deficiências desse nível de ensino nem foram
consultados os professores, estudantes e famílias sobre as possíveis
perspectivas para o processo de ensino-aprendizagens dos jovens que com grande
frequência ingressam mas não concluem o ensino médio. Em 2015, 40% dos jovens
de 17 anos estavam fora da escola, o que ocorria com 34% dos jovens da mesma
idade em 2000 conforme a PNAD.
A pressa da reforma
não é somente a expressão da falta de fundamentos da Lei que se criou, mas
também a imposição de um modelo que tem como pilar o barateamento e a
privatização da oferta do Ensino Médio no país.
Por trás do
discurso difundido em campanhas de rádio e televisão de que o novo Ensino Médio
permitiria ao jovem fazer escolhas dentre uma ampla oferta de disciplinas e
áreas de conhecimento nas escolas, esconde-se o fato de que as redes e escolas
podem simplesmente fazer o inverso, ou seja, oferecer as disciplinas
obrigatórias e somente ofertar a mais aquilo que for possível conforme as suas
possibilidades. Para que não fique dúvida, o artigo 36 da Lei informa que
“deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos
curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos
sistemas de ensino”.
Considerando os
escassos recursos da educação dos estados e a cada vez maior redução de
investimentos do governo federal com a educação, não é difícil imaginar que as
secretarias de educação, ao invés de oferecer mais para os alunos devam tender
a oferecer menos, ou seja, limitar a oferta ao que é obrigatório para a BNCC
(600 horas) e a menor diversidade possível para a parte diversificada do
currículo.
Mas a apressada
reforma não para aí, pois a Lei aprovada em 2017 abre duas outras brechas para
as secretarias de estado responsáveis pela educação de nível médio: realizar
curso integralmente à distância para formação técnica com instituições privadas
conveniadas e permitir ainda que a iniciativa privada seja executora da parte
diversificada do currículo. Considerando as dificuldades para avançar no IDEB
em praticamente todo o País e a insatisfação da própria sociedade com as
escolas e o nível de ensino, coloca-se a possibilidade dos estados se
desresponsabilizarem de parte do currículo, reduzindo o ônus político dos maus
resultados ao transferirem a oferta para o ensino privado, que pode oferecer
cursos de educação profissional, uma das áreas contempladas pela reforma. Além
disso, a possibilidade de ser realizado à distância cria mais uma alternativa
de baixo custo para fazer cumprir a obrigação constitucional de suprir as vagas
de Ensino Médio para todos os jovens.
Neste contexto,
evidencia-se que a pressa de realizar a reforma sem consultar a sociedade,
revela a sua intenção real, que vai no caminho inverso do que as propagandas
indicam: permitir novos formatos a mais baixo custo reduzindo a
responsabilidade dos governos estaduais sobre o Ensino Médio.
Destaca-se ainda
que esta possível precarização do ensino de nível médio certamente não se
aplicará a todos os estudantes, mas àquela parcela que frequenta as escolas
públicas, especialmente nas regiões e estados mais pobres do País, cujos
recursos são ainda mais escassos. Os jovens de classe média das escolas
privadas continuarão a estudar em escolas com foco no vestibular, enquanto
jovens das escolas públicas terão ainda mais dificuldade de acessar à
universidade com seus currículos empobrecidos, sendo-lhes oferecida a formação
técnica como alternativa.
Entretanto, as
críticas aqui formuladas às reformas não pretendem indicar que devemos manter o
Ensino Médio tal qual está, pois existem problemas com relação à qualidade e
uma constatada insatisfação dos jovens com este modelo já verificada por vários
estudos e manifestada pelos próprios jovens que se mobilizaram por mudanças na
etapa entre 2015 e 2016. O fato, é que um novo governo precisa ouvir estes
jovens e ser capaz de atender aos seus projetos de vida, além de criar meios
efetivos para que os novos currículos atendam às expectativas e demandas dos
tempos em que estes vivem. Precisa também ampliar os recursos para o Ensino
Médio, investindo na formação de professores e na criação de uma real
diversificação da oferta garantindo o ensino presencial e a responsabilidade do
Estado pela oferta deste do ensino médio para todos os jovens e estudantes.
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