Número de britânicos que consideram a monarquia
“muito importante” (29%) é o menor em 40 anos
Por André Cintra
Publicado 06/05/2023 11:43
Foto: Frank Augstein/AP
Não será exatamente tranquila a vida do rei Charles 3º após sua coroação neste sábado (6), na Abadia de Westminster, em Londres. Além da sombra da mãe, a rainha Elizabeth 2ª – que morreu há oito meses na condição de uma das monarcas mais populares do Reino Unido –, Charles sofrerá com o desgaste da instituição milenar.
Aos 74 anos, ele é o britânico mais velho a se
tornar chefe de Estado do Reino Unido e de outros 14 países, além de liderar a
Commonwealth (Comunidade das Nações, que reúne 56 antigas colônias britânicas).
A seu favor pesa a sintonia com pautas que a Coroa tradicionalmente esnobou,
como o meio ambiente. Em 2021, ele chegou a sair em defesa da sueca Greta
Thunberg, ao dizer o mundo impunha uma série de decepções a ativistas
ambientais. “Todos esses jovens acham que nada acontece. Assim, é claro que
ficam frustrados”, comentou.
Ao mesmo tempo, num momento em que a economia
britânica está às voltas com o risco de uma recessão, a pompa da cerimônia de
Coroação soa escandalosa. Da carruagem dourada ao cetro portado por Charles,
com um diamante de 530 quilates, tudo parece desconectado da realidade.
Não à toa, a solenidade foi precedida por diversas
manifestações em Londres que cobravam o fim da monarquia. De acordo com
agências, “o movimento, que tem como sentença a frase ‘Not my king’
(‘Meu rei, não’), é encabeçada pelo Republic, um dos maiores grupos ativistas
antimonarquia do Reino Unido”. A polícia chegou a prender manifestantes e
apreender cartazes ao longo da semana, mas não esvaziou os atos este sábado.
Levantamento realizado pelo Centro Nacional de
Pesquisa Social aponta uma rejeição crescente à Coroa. O número de britânicos
que consideram a monarquia “muito importante” (29%) é o menor em 40 anos, e a
reprovação cresce especialmente entre os mais jovens. Um rei de 74 anos terá
credenciais para mudar essa imagem e salvar o que está em xeque?
Também na África do Sul, houve protestos.
Manifestantes pediram a devolução do maior diamante do mundo, o Star of Africa
(Estrela da África), justamente o que está no cetro real. O diamante foi
descoberto no país africano – que ainda era colônia do Reino Unido – e
presentado à Coroa.
“O diamante precisa vir para a África do Sul.
Precisa ser um sinal do nosso orgulho, da nossa herança e da nossa cultura”,
diz o advogado e ativista sul-africano Mothusi Kamanga, líder de um
abaixo-assinado online que conta com 8 mil adesões. “O povo africano em geral
está começando a perceber que descolonizar não é apenas deixar as pessoas terem
certas liberdades – mas também recuperar o que foi expropriado de nós.”
Rainha morta, rei posto – mas a sucessão é uma das
mais controversas na história dessa monarquia tão midiática. A Coroa, essa
instituição tão anacrônica e perdulária, faz mesmo sentido ainda para os
britânicos?
0 comentários :
Postar um comentário