Publicado por
Diario do Centro do Mundo
-
Atualizado em 9 de março de
2020
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Juíza Federal Raquel Domingues do
Amaral. Foto: Reprodução
Publicado originalmente no blog Pequenas Igrejas, Grandes Negócios
“Sabem do que são
feitos os direitos, meus jovens?
Sentem o seu
cheiro?
Os direitos são
feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de batalha,
queimada em fogueiras!
Quando abro a
Constituição no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos em
linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho!
Vejo cabeças
rolando de guilhotinas, jovens mutilados, mulheres ardendo nas chamas das
fogueiras! Ouço o grito enlouquecido dos empalados.
Deparo-me com
crianças famintas, enrijecidas por invernos rigorosos, falecidas às portas das
fábricas com os estômagos vazios!
Sufoco-me nas
chaminés dos Campos de concentração, expelindo cinzas humanas!
Vejo africanos
convulsionando nos porões dos navios negreiros.
Ouço o gemido das
mulheres indígenas violentadas.
Os direitos são
feitos de fluido vital!
Pra se fazer o
direito mais elementar, a liberdade, gastou-se séculos e milhares de vidas
foram tragadas, foram moídas na máquina de se fazer direitos, a revolução!
Tu achavas que os
direitos foram feitos pelos janotas que têm assento nos parlamentos e
tribunais?
Engana-te! O
direito é feito com a carne do povo!
Quando se revoga
um direito, desperdiça-se milhares de vidas …
Os governantes
que usurpam direitos, como abutres, alimentam-se dos restos mortais de todos
aqueles que morreram para se converterem em direitos!
Quando se
concretiza um direito, meus jovens, eterniza-se essas milhares vidas!
Quando
concretizamos direitos, damos um sentido à tragédia humana e à nossa própria
existência!
O direito e a
arte são as únicas evidências de que a odisseia terrena teve algum
significado!”
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