Segunda parte do relatório produzido pelo De Olho nos Ruralistas aponta quais políticos tem fazendas nas 1.692 sobreposições identificadas em terras indígenas
Por Redação
Publicado 19/06/2023 19:07
Bois em terras indígenas. Foto: Ibama
O dossiê Os Invasores, elaborado pelo
observatório De Olho nos Ruralistas, teve a sua segunda parte lançada na
semana anterior como continuidade ao primeiro relatório que expõe quem
são os empresários brasileiros e estrangeiros com mais sobreposições em terras
indígenas.
Nesta segunda parte o documento foca em 42
políticos e seus familiares de primeiro grau que são titulares de fazendas
dentro de terras indígenas.
A invasão das terras indígenas é uma ameaça
ao direito à terra e à existência dos povos originários. Na primeira parte do
relatório já havia sido revelado 1.692 sobreposições de fazendas em terras
indígenas.
Leia também: Pesquisador
diz que invasores de terra estão no agronegócio
Como novos destaques, a segunda parte traz:
• Destas [1.692 sobreposições], 42 pertencem
a clãs políticos nacionais e regionais. Juntos, eles concentram 96 mil hectares
em áreas sobrepostas a TIs (Terras Indígenas);
• Três congressistas possuem fazendas em
terras indígenas registradas em nome de empresas ou parentes. São eles: o
senador Jaime Bagattoli (PL-RO) e os deputados Dilceu Sperafico (PP-PR) e
Newton Cardoso Júnior (MDB-MG). Os três são membros da Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA), face institucional da bancada ruralista no Congresso.
• A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA)
é diretamente financiada por invasores: 18 integrantes da frente receberam R$
3,6 milhões em doações de campanha de fazendeiros ligados a sobreposições em
TIs. Entre os beneficiários figuram o presidente da frente, Pedro Lupion
(PP-PR), os vice-presidentes Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) e Evair Vieira de
Melo (PP-ES), a coordenadora política Tereza Cristina (PL-MS), ex-ministra da
Agricultura, e outros nove diretores.
• Invasores de terras indígenas investiram em
peso na candidatura derrotada de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição. Juntos, 41
fazendeiros com sobreposições detectadas pelo estudo doaram R$ 1,2 milhão nessa
campanha. Entre eles estão mega-empresários do agronegócio e um dos mandantes
do Massacre de Caarapó, no Mato Grosso do Sul.
• A família do governador do Paraná Ratinho
Júnior (PSD) é dona de um mega-latifúndio no Acre, que incide nos limites da TI
Kaxinawá da Praia do Carapanã. Aliados políticos dele e do pai — o apresentador
Ratinho — também figuram na lista de sobreposições.
• Palco do Leilão da Resistência e berço da
CPI do Incra e da Funai, o Mato Grosso do Sul é peça central no tabuleiro das
sobreposições. Os filhos do ex-governador Pedro Pedrossian, o deputado Zé
Teixeira (PSDB), o ex-secretário Ricardo Bacha (Cidadania) e a advogada Luana
Ruiz — com trânsito livre na FPA — protagonizam conflitos territoriais com os
povos Guarani Kaiowá e Terena.
• Cinco municípios brasileiros são comandados
por prefeitos ligados à sobreposição de TIs. Os prefeitos de Linhares (ES),
Tapurah (MT) e Sapezal (MT) e os vice-prefeitos de Campos de Júlio (MT) e
Iguatemi (MS) estão ligados a fazendas incidentes em territórios indígenas —
diretamente ou por meio de familiares. Vinte e três ex-prefeitos também têm
sobreposições em terras indígenas.
Para a Agência Brasil, o coordenador de
projetos do observatório, Bruno Bassi, identifica que os atores que
protagonizam a prática ilegal e que ameaçam os povos indígenas são tanto
políticos como pessoas com poder aquisitivo.
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face agrária do terror no Brasil
“O avanço do território, sobretudo do
agronegócio, sobre territórios indígenas ou reivindicados pelos povos indígenas
é promovido, de um lado, pelo capital, pelas grandes empresas e corporações,
por multinacionais, grandes empresários, e tem uma interface política, que
abarca desde a posse direta por pessoas que se envolvem nesse universo
político. A gente tem governador, deputados federais, um senador, cinco
prefeitos e vice-prefeitos com mandato atual e 23 ex-prefeitos, o que demonstra
o tamanho dessa esfera municipal, do poder local, na posse de terras. A gente
tem deputados estaduais”, diz.
Confira aqui a parte dois do relatório “Os Invasores: parlamentares e seus financiadores possuem fazendas
sobrepostas a terras indígenas”.
*Com informações Agência Brasil e De Olho nos
Ruralistas.
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