Aprovado na Câmara, o PL do Marco Temporal segue para o Senado. Bancada ruralista pressiona o Supremo a interromper o julgamento.
Por Redação
Publicado 04/06/2023 11:33
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
O Supremo Tribunal
Federal (STF) deve retomar, na próxima quarta (7), o julgamento que discute se
a tese do marco temporal tem respaldo na Constituição Federal. O placar do Recurso
Extraordinário (RE) 1.017.365 está um a um, com o relator, ministro Edson
Fachin, votando contra a tese e o ministro Nunes Marques votando a favor.
O julgamento está
suspenso na Corte desde setembro de 2021, em decorrência do pedido de vista do
ministro Alexandre de Moraes.
Na terça (30), a
Câmara dos Deputados, liderada pelo presidente, Arthur Lira (PP-AL) e a Frente
Parlamentar da Agropecuária (FPA), aprovou o Projeto de Lei 490/2007 que
inviabiliza a demarcação das terras indígenas e libera os territórios para o
garimpo ilegal, o desmatamento dos biomas protegidos pelas Terras Indígenas,
além da violação dos direitos humanos aos povos originários.
A votação é uma
reação da Câmara ao Supremo Tribunal Federal (STF), que anunciou a intenção de
retomar o julgamento da ação sobre o tema.
Na terça, deputado
Arthur Maia (União Brasil-BA), relator do projeto aprovado na Câmara,
pressionou os ministros do STF ao falar que, com a discussão no Congresso, “não
tem sentido o Supremo cumprir um papel que é da Câmara”.
Segundo Maia, os
ruralistas esperam que o STF “interrompa e ideia de legislar”, ou seja, não
caminhe com o julgamento do marco temporal no plenário da Corte.
O Ministério dos
Povos Indígenas (MPI) divulgou nota, na terça, em que classificou a aprovação
do marco temporal pelos deputados federais como um “genocídio legislado”.
“O PL 490
representa um genocídio legislado porque afeta diretamente povos indígenas
isolados, autorizando o acesso deliberado em territórios onde vivem povos que
ainda não tiveram nenhum contato com a sociedade, nem mesmo com outros povos
indígenas, cabendo ao Estado brasileiro atuar também pela proteção dos
territórios onde vivem estes povos”, diz a nota.
Na manhã do dia da
aprovação, indígenas guaranis, que vivem no Pico do Jaraguá, em São Paulo,
bloquearam a Rodovia dos Bandeirantes, na altura do km 20, no sentido São
Paulo, para protestar contra a votação do PL.
O escritório da
Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos na América do Sul
divulgou alerta cobrando das autoridades brasileiras “medidas urgentes em prol
dessas populações, conforme as normas internacionais de direitos humanos”.
Segundo o órgão, iniciativas como essa, do Congresso Nacional, “arriscam a
proteção dos povos indígenas no país”.
A organização
internacional Human Rights Watch também manifestou grande preocupação com a
votação do marco temporal. Em comunicado, a organização disse que “o Congresso
brasileiro deveria rejeitar um projeto de lei que adota marco temporal
arbitrário para o reconhecimento de terras indígenas”.
Servidores da
Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) realizaram, no início da tarde,
uma vigília, em protesto.
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