domingo, 15 de outubro de 2023

O que fazer com o tempo pedagógico do aluno e com a indisciplina das novas gerações?

 Por Dedé Rodrigues

No dia do professor “É preciso entender que sem professoras e professores não há escola de qualidade. Porque máquinas não socializam o conhecimento. Máquinas não entendem os problemas dos alunos e máquinas não solucionam acontecimentos imprevistos, máquinas não amam”.  Professora Francisca, Portal Vermelho,  São Paulo, 2023.

Desde cedo os pais enviam os filhos ou filhas para a escola com a expectativa de que eles mudem de vida e superem, inclusive aquilo que eles não conseguiram ser.  Eles torcem para que aprendam as lições, os conceitos de humanas, as fórmulas de matemática, as regras de português etc. A intenção é que passem no ENEM, em um concurso público e enfim melhorem de vida.  É fato que pais e professores se preocupam com o futuro dos filhos e dos alunos.

 Mas o que tem ocorrido em sala de aula? Como estamos usando o tempo pedagógico do aluno? Muitas vezes os alunos terminam as tarefas antes de tocar e passam a conversar sobre assuntos alheios ao conteúdo trabalhado pelo professor. Outras vezes alguns brincam com os colegas atrapalhando aqueles que ainda não terminaram a tarefa. Alguns alunos, mesmo sendo uma minoria, fazem barulhos na sala de aula prejudicando os que ainda estão pesquisando.

 Nos meu trabalho como docente percebi que poucos alunos realmente se preocupam com o tempo pedagógico. Quando perdemos a paciência e aplicamos alguma medida disciplinar, aquele(a) aluno(a) indisciplinado(a) saem chateado(as), por vezes até xingando o professor ou a professora. Quando o professor ou a professora preenche esse tempo pedagógico com uma atividade suplementar boa parte dos alunos e das alunas não gostam, acham chato, alegam que estão cansados de tantas atividades. O que fazer?

 Diante disso constatei também que muita coisa precisa mudar na nossa prática pedagógica em sala de aula. Metodologias de ensino, critérios de avaliações, relação professor(a) - aluno(a), mais afetividade, diálogo, contrato didático, inovações tecnológicas, etc. A tarefa com essa nova geração não está sendo fácil. Porém, penso que mesmo sendo necessário algumas punições, reprimir  não pode ser o único e  melhor caminho utilizado pela escola e pelos docentes.

 As causas da indisciplina são múltiplas e complexas. Situação política, econômica, social, psicológica, familiar, metodológica, tecnológica etc. Muitos de nós, pais e professores(as) estamos criando e educando uma geração individualista, desprovida de valores humanistas, valores coletivos, valores afetivos, solidários etc. Nosso paradigma político, econômico e social, o neoliberalismo, fracassou nessa tarefa. E somos nós, pais, docentes e discentes, que estamos construindo ou desconstruindo esse modelo de sociedade que temos.  Percebam que a tarefa é coletiva.

Se os problemas são coletivos, múltiplos e complexos, soluções simples e meramente punitivas, também não vão resolver. Um tecido social desgastado, rasgado, não se resolve só tapando ou costurando alguns buracos, pois as causas dos buracos estão no próprio tecido desgastado, no próprio sistema. Tapamos um, abre-se dois. É preciso mudar o tecido velho por outro novo. Mudar o modelo de sociedade que temos.

Mas como a mudança de um paradigma social requer muita luta e muito tempo, precisamos ter paciência, ir “tapando os buracos” com a perspectiva da mudança mais profunda, da realização do nosso sonho, da nossa utopia: um paradigma socialmente mais justo, solidário, inclusivo e democrático. Mas como fazer isso?      

As respostas ou soluções são múltiplas e variadas e podem ser de natureza local e geral. Pensamos, no entanto,  que o único jeito de enfrenarmos tantos problemas é pelo esforço coletivo, pela luta coletiva e pelo diálogo, ou seja, com mais democracia na escola e na sociedade. Implementar ou rediscutir contrato didático, chamar o coletivo para essa tarefa, valorizar o protagonismo juvenil, ajudando a fundar ou reorganizar Grêmios Estudantis autônomos, realizar parcerias com as instituições da sociedade, envolver os pais, alunos e professores torna-se urgente. Não podemos perder a esperança.  

Além disso é preciso lutarmos pela valorização do nosso  (Plano de Cargos e Carreira), o PCC; precisamos lutar por formação sindical; formação gremista e formação política;  mais investimento em educação no Brasil em relação ao Produto Interno Bruto, PIB; lutarmos por um Novo Projeto Nacional, estadual e local de desenvolvimento etc. Regimes de exceção, ditaduras e punições excessivas não vão resolver, pelo contrário só vão piorar as coisas. "Quem sabe faz a hora", como diz a música de Vandré. 

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