Senadora recomendou que ex-presidente seja indiciado por associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado
por Lucas Toth
Publicado 17/10/2023 13:32 | Editado 17/10/2023 13:59
Foto: Geraldo Magela/ Agência Senado
A relatora da
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos Golpistas, senador Eliziane
Gama (PSD-MA) pediu o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro como “autor
intelectual” dos eventos que culminaram no 8 de Janeiro.
A senadora
recomendou que Bolsonaro seja indiciado pelos crimes de associação
criminosa, violência política, abolição violenta do
Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Outras 61
pessoas, entre civis e militares, também foram indiciadas pelo relatório da
senadora, entre eles cinco ex-ministros e seis ex-auxiliares.
Indiciamento de
Bolsonaro:
- associação criminosa;
- tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- tentativa de depor governo legitimamente constituído;
- e emprego de medidas para impedir o livre exercício de direitos
políticos
O relatório final,
protocolado no sistema do Senado, foi apresentado na manhã desta terça (17) ao
colegiado. A votação, no entanto, deve ocorrer somente na quarta (18).
“Os fatos aqui
relatados demonstram, exaustivamente, que Jair Messias Bolsonaro, então
ocupante do cargo de presidente da República, foi autor, seja intelectual, seja
moral, dos ataques perpetrados contra as instituições, que culminou no dia 8 de
janeira de 2023”, diz trecho do documento.
Além do
ex-presidente, a lista de indiciados apresentada pela senadora maranhense
envolve:
- Ex-ministros como Anderson Torres (Justiça), Walter
Braga Netto (Defesa) e Augusto Heleno (GSI);
- Figuras do entorno do ex-presidente, como tenente-coronel Mauro
Cid, ex-ajudante de Bolsonaro, do ex-diretor da Polícia Rodoviária
Federal (PRF), Silvinei Vasques, e da deputada federal Carla
Zambelli (PL-SP);
- Militares das FFAA, como os ex-comandantes da
Marinha, Almir Garnier Santos, e do Exército, Marco
Antônio Freire Gomes;
- Integrantes da Polícia Militar do DF, como ex-comandante,
coronel Fábio Augusto Vieira, o subcomandante Klepter
Rosa Gonçalves, coronel Jorge Eduardo Naime, ex-comandante
do Departamento de Operações da PMDF
Os indiciamentos
sugeridos pela relatora indicam 26 delitos diferentes, sendo a maioria deles os
crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de
Direito e tentativa de depor governo legítimo.
A senadora Eliziane
Gama atribuiu o movimento golpista ao ambiente inflamado por Jair Bolsonaro e
seus aliados, diferente do que alegam a oposição que diz que as manifestações
foram espontâneas e democráticas.
“Nosso objetivo foi
entender como isso aconteceu; como alguns milhares de insurgentes se
radicalizaram, se organizaram e puderam romper, sem muita dificuldade, os
sistemas de segurança que deveriam proteger a Praça dos Três Poderes. As
investigações aqui realizadas, os depoimentos colhidos, os documentos recebidos
permitiram que chegássemos a um nome em evidência e a várias conclusões. O nome
é Jair Messias Bolsonaro”, disse.
“O 8 de janeiro é
obra do que chamamos de bolsonarismo. Diferentemente do que defendem os
bolsonaristas, o 8 de janeiro não foi um movimento espontâneo ou desorganizado;
foi uma mobilização idealizada, planejada e preparada com antecedência. Os
executores foram insuflados e arregimentados por instigadores que definiram de
forma coordenada datas, percurso e estratégia de enfrentamento e ocupação dos
espaços”, acrescentou.
A relatora também
atribui os atos golpistas a uma “omissão” do Exército.
“O Oito de Janeiro
é resultado da omissão do Exército em desmobilizar acampamentos ilegais que
reivindicavam intervenção militar; da ambiguidade das manifestações e notas
oficiais das Forças Armadas, que terminavam por encorajar os manifestantes, ao
se recusarem a condenar explicitamente os atos que atentavam contra o Estado
Democrático de Direito; e de ameaças veladas à independência dos Poderes”, diz.
Eliziane Gama ainda
avalia que o entorno de Bolsonaro sabia do “alcance” e, deliberadamente,
estimulou manifestações de cunho golpista.
“Jair Bolsonaro e
todos os que o cercam sabiam disso [articulações golpistas]. Conheciam os
propósitos e as iniciativas. Compreendiam a violência e o alcance das
manifestações. Frequentavam os mesmos grupos nas redes sociais. Estimulavam e
alimentavam a rebeldia e a insatisfação. Punham deliberadamente mais lenha na
fogueira que eles mesmos haviam acendido.”
Confira abaixo os
indiciados pelo relatório da senadora Eliziane Gama (PSD-MA)
1.
ex-presidente Jair Bolsonaro
2.
general Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro e
ex-ministro da Casa Civil e da Defesa
3.
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e então secretário
de Segurança Pública do DF nos atos
4.
general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança
Institucional de Bolsonaro
5.
general Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro
6.
general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa de Bolsonaro
7.
almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha
8.
general Freire Gomes, ex-comandante do Exército
9.
tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e principal assessor de
Bolsonaro
10. Filipe Martins,
assessor-especial para Assuntos Internacionais de Bolsonaro
11. deputada federal
Carla Zambelli (PL-SP)
12. coronel Marcelo
Costa Câmara, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
13. general Ridauto
Lúcio Fernandes
14. sargento Luis
Marcos dos Reis, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
15. major Ailton
Gonçalves Moraes Barros
16. coronel Elcio
Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde
17. coronel Jean Lawand
Júnior
18. Marília Ferreira de
Alencar, ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça e
ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF
19. Silvinei Vasques,
ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal
20. general Carlos José
Penteado, ex-secretário-executivo do GSI
21. general Carlos
Feitosa Rodrigues, ex-chefe da Secretaria de Coordenação e Segurança
Presidencial do GSI
22. coronel Wanderli
Baptista da Silva Junior, ex-diretor-adjunto do Departamento de Segurança
Presidencial do GSI
23. coronel André Luiz
Furtado Garcia, ex-coordenador-geral de Segurança de Instalações do GSI
24. tenente-coronel
Alex Marcos Barbosa Santos, ex-coordenador-adjunto da Coordenação Geral de
Segurança de Instalações do GSI
25. capitão José
Eduardo Natale, ex-integrante da Coordenadoria de Segurança de Instalações do
GSI
26. sargento Laércio da
Costa Júnior, ex-encarregado de segurança de instalações do GSI
27. coronel Alexandre
Santos de Amorim, ex-coordenador-geral de Análise de Risco do GSI
28. tenente-coronel
Jader Silva Santos, ex-subchefe da Coordenadoria de Análise de Risco do GSI
29. coronel Fábio
Augusto Vieira, ex-comandante da PMDF
30. coronel Klepter
Rosa Gonçalves, subcomandante da PMDF
31. coronel Jorge
Eduardo Naime, ex-comandante do Departamento de Operações da PMDF
32. coronel Paulo José
Ferreira de Sousa Bezerra, comandante em exercício do Departamento de Operações
da PMDF
33. coronel Marcelo
Casimiro Vasconcelos Rodrigues, comandante do 1º CPR da PMDF
34. major Flávio
Silvestre de Alencar, comandante em exercício do 6º Batalhão da PMDF
35. major Rafael Pereira
Martins, chefe de um dos destacamentos do BPChoque da PMDF
36. Alexandre Carlos de
Souza, policial rodoviário federal
37. Marcelo de Ávila,
policial rodoviário federal
38. Maurício Junot,
empresário
39. Adauto Lúcio de
Mesquita, financiador
40. Joveci Xavier de
Andrade, financiador
41. Meyer Nigri,
empresário
42. Ricardo Pereira
Cunha, financiador
43. Mauriro Soares de
Jesus, financiador
44. Enric Juvenal da
Costa Laureano, financiador
45. Antônio Galvan,
financiador
46. Jeferson da Rocha,
financiador
47. Vitor Geraldo
Gaiardo , financiador
48. Humberto Falcão,
financiador
49. Luciano Jayme
Guimarães, financiador
50. José Alipio
Fernandes da Silveira, financiador
51. Valdir Edemar
Fries, financiador
52. Júlio Augusto Gomes
Nunes, financiador
53. Joel Ragagnin,
influenciador
54. Lucas Costar Beber,
financiador
55. Alan Juliani,
financiador
56. George Washington
de Oliveira Sousa, condenado por envolvimento na tentativa de atentado ao
aeroporto de Brasília
57. Alan Diego dos
Santos, condenado por envolvimento na tentativa de atentado ao aeroporto de
Brasília
58. Wellington Macedo
de Souza, condenado por envolvimento na tentativa de atentado ao aeroporto de
Brasília
59. Tércio Arnaud,
ex-assessor especial de Bolsonaro apontado como integrante do chamado “gabinete
do ódio”
60. Fernando Nascimento
Pessoa, assessor de Flávio Bolsonaro apontado como integrante do chamado
“gabinete do ódio”
61. José Matheus Sales
Gomes, ex-assessor especial de Bolsonaro apontado como integrante do chamado
“gabinete do ódio”
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