A defesa da política participativa e a crítica à privatização de
serviços essenciais ganham destaque em meio à discussão sobre greves e ações
governamentais.
Thiago Modenesi
O filósofo grego Aristóteles cunhou a
frase “O Homem é um animal político”. A vida pública na Grécia antiga ocorria
de maneira incessante entre os que eram então considerados cidadãos e a
política foi criada para regular os conflitos da pólis, que era o local onde
esta acontecia e era compartilhada.
Aristóteles deve estar se contorcendo
no além ao ouvir os absurdos proferidos por Tarcísio Pereira, governador de São
Paulo, ao atacar a greve conjunta de vários setores do serviço público que
ocorreu no último 3 de outubro e reclamar que o movimento “era político”.
Ora, até hoje nós seguimos vivendo
inseridos em sociedade, justamente por isso precisamos desmistificar o discurso
que cabe apenas aos políticos fazerem a política ou, ainda pior, que a política
só está presente na vida da maioria das pessoas durante as eleições, quando
elas passam caberia apenas aos eleitos a fazerem, como se tivéssemos passado um
cheque em branco para os governantes e devêssemos tocar nossas vidas… não
poderia existir equívoco maior, além de um desrespeito a democracia
participativa consagrada na Constituição de 1988, o povo segue participando,
fiscalizando, cobrando entre as eleições, todo o tempo.
Todos fazemos política, todos os
dias, o tempo todo, seja em casa, na escola, com os amigos, no trabalho, faça
chuva ou faça sol, é parte do nosso cotidiano, existir por si só já é um ato
político! Então, ao governador insistir em tal tese mais do que batida de que a
greve era política acaba por jogar água no moinho da despolitização e requenta
um discurso que foi imediatamente acolhido e amplificado pelos meios de
comunicação de massa que reclama dos prejuízos causados aos trabalhadores, mas
não se preocupam em explicar para a população o tamanho descomunal do prejuízo
que estes mesmos terão caso o metrô seja privatizado.
O mais curioso é que, entre as
bandeiras dos manifestantes, figurava justamente a luta contra a privatização
do metrô de São Paulo. O governo paulista cedeu 2 linhas a iniciativa privada,
são as mais problemáticas, apresentando problemas e falhas até 10 vezes mais do
que as que operam sobre controle público.
No dia da paralisação justamente
essas 2 linhas decidiram oferecer uma “amostra grátis” a população paulistana
de como será o serviço oferecido ao povo pelo metrô privatizado, falhando em
plena paralisação das demais linhas que estavam em greve. Chegaram ao escárnio
de alegarem uma “sabotagem”. Seria cômico se não fosse trágico…
Vamos a alguns números publicados
pelo jornal Folha de São Paulo “As estações da linha 9-esmeralda, que opera de
forma parcial desde a tarde de terça-feira (3) em razão de falha elétrica,
estão lotadas desde o começo da manhã desta quarta-feira (4) em São Paulo. O
tempo de espera chega a 30 minutos. A linha não circula entre as estações Vila
Olímpia e Pinheiros. A linha é uma das duas geridas pela empresa Viamobilidade.
A falha elétrica começou por volta das 14h de terça (3) em meio à greve
conjunta entre o Metrô, CPTM e Sabesp. Em pouco mais de um ano sob a
administração da ViaMobilidade, as linhas 8-diamante e 9-esmeralda acumularam
166 falhas, ou seja, média de uma a cada três dias”
A greve é direito de todos os
trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, é um instrumento de luta garantido
pela Constituição de 1988 e, nesse caso especificamente, foi marcada por uma
luta concreta e real de garantir um serviço de metrô público e de qualidade.
Qualquer “prejuízo” causado momentaneamente no dia da greve não chega nem perto
do que espera os usuários do serviço do metrô na capital paulista se ele, o
serviço de fornecimento de água e outros mais forem privatizados. Essa agenda
tem nome, é neoliberal, não conta com o apoio de grande parte da população,
como mostra pesquisa que aferiu expressiva maioria que tem receio de passar a
Sabesp para iniciativa privada.
Até os grandes meios de comunicação não ousam mais defender privatizações a todo custo, o resultado da sanha privatista no Brasil não melhorou em absolutamente nada os serviços assumidos pela iniciativa privada, aumentaram os preços da energia elétrica em vários estados do nordeste, subiram os pedágios na própria São Paulo e outras pérolas. Há de se ter parcimônia quando se fala em privatização, se é verdade que nem tudo precisa ser público também é que o estratégico para um país se desenvolver precisa ser, está aí a pandemia e a corrida por vacina e insumos que não nos deixa mentir. Estado forte ajuda e potencializa um país industrializado e com emprego, não há contradição alguma nisso.
Fonte: Blog Luciano Siqueira
Melhor talvez do que
nunca ttps://bit.ly/3Ye45TD
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