Levantamento mostra que entre 2018 e 2022, 32 foram mortos. A maioria dos assassinatos, 69%, ocorreram em quilombos não titulados
Publicado 17/11/2023 15:05 | Editado 18/11/2023 10:41
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Entre os anos de
2018 e 2022, 32 quilombolas foram assassinados no Brasil; o número é
quase o dobro do registrado entre os anos de 2008 e 2017 e abrange todo o
mandato de Jair Bolsonaro. Naqueles anos, a média anual foi de 3,8, passando
para 6,4 no período mais recente. Os picos ocorreram nos anos de 2019 a 2021,
com oito assassinatos. Ao todo, nesses 15 anos, 70 quilombolas foram
mortos.
As informações
fazem parte da pesquisa Racismo e violência contra Quilombos no Brasil, uma
iniciativa da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas (Conaq) e da Terra de Direitos.
Com base nessas
análises, as entidades constataram que, no período analisado — que abrange os
quatro anos de Jair Bolsonaro e um ano de Michel Temer na presidência da
República — houve um agravamento das desigualdades e violências
historicamente praticadas contra as comunidades quilombolas.
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“Um olhar sobre a
motivação desses casos mostra que, ainda que sejam vítimas de diferentes tipos
de violência – que são também resultado de processos de negação de outros
direitos – quilombolas têm morrido mais por conta dos conflitos por terra ou em
razão de feminicídios”, diz o relatório.
No caso do recorte
por gênero, o levantamento mostra que a maioria dos caos, 23, foram
assassinatos de homens e nove de mulheres entre 2018 e 2022. No entanto,
aponta, “a proporcionalidade de mulheres quilombolas assassinadas mais do que
dobrou em relação à pesquisa anterior. A primeira edição (2008-2017)
identificou oito lideranças femininas assassinadas em dez anos, enquanto o
segundo volume registrou o assassinato de nove mulheres em cinco anos”.
Segundo a pesquisa,
no caso das mulheres assassinadas, cônjuges, companheiros, ex-cônjuges e
ex-companheiros foram identificados como os autores em 100% dos casos de
feminicídio. Já os homens foram majoritariamente mortos por outros agentes
privados, ou seja, sujeitos que não estão ligados ao Estado.
O principal meio
utilizado para os assassinatos de quilombolas foram as armas de fogo (19),
seguido de arma branca (dez). Demais casos foram causados por arma de
compressão, estrangulamento e espancamento.
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Quando analisadas
as regiões onde houve mais casos, o Nordeste vem na frente (65,6%), seguidos da
região Norte (12,5%) e Sudeste (9,4%). As regiões Sul e Centro-Oeste
registraram 6,25% dos casos de assassinatos.
Outro dado
importante trazido pela pesquisa diz respeito à ligação dessas mortes com a
disputa de terras: 69 % dos assassinatos foram registrados em quilombos que não
foram titulados.
“Um olhar sobre a
violência registrada nos quilombos a partir do estágio do processo de titulação
revela que a garantia do território é essencial para a amenização da violência
resultante de conflitos fundiários, mas que é preciso avançar na efetivação de
outras políticas públicas para proteção das famílias. Os casos de feminicídio,
por exemplo, foram registrados em quilombos que estavam em diferentes fases do
processo de titulação, inclusive em quilombos titulados. A titulação é um
primeiro passo no combate às violências, mas é preciso ir além”, salienta o
estudo.
Para lidar com essa
situação, o relatório aponta medidas que precisam ser tomadas para combater o
racismo e a violência contra quilombos no Brasil. Entre elas estão, além das
titulações, o acesso a políticas públicas de saúde, educação, cultura e geração
de renda; a efetivação de políticas públicas de enfrentamento à violência
contra mulheres, considerando as especificidades quilombolas; proteção integral
e interinstitucional de quilombolas ameaçados; investigação e responsabilização
dos envolvidos nas ameaças e assassinatos de quilombolas e o estabelecimento de
ações antirracistas pelo poder público, entre outras.
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