Segundo climatologista, em entrevista ao Vermelho, calor extremo também afeta precipitações de chuva e prejudica biomas e seus ecossistemas, assim como afeta a agropecuária no Centro-Oeste.
por Cezar Xavier
Publicado 10/11/2023 16:20 | Editado 11/11/2023 10:05
Cidades habituadas a altas temperaturas poderão sofrer acréscimos
inéditos nestas próximas semanas.
O Brasil está
prestes a enfrentar uma onda de calor histórica pelo terceiro mês consecutivo,
com temperaturas extremas previstas em vários estados, alertou a MetSul
Meteorologia. Com temperaturas extremas projetadas em vários estados, há uma
alta probabilidade de quebra de recordes históricos, com marcas 10ºC a 15ºC
acima da climatologia histórica previstas para algumas tardes.
Segundo
o climatologista Alexandre Costa, professor da Universidade Estadual do
Ceará (UECE), em entrevista ao Portal Vermelho, o mais grave é
considerar que isto pode se tornar o clima normal no Brasil, com possibilidade
de agravamento. “Se o aquecimento global continuar escalando aos patamares que
se discutem nas cúpulas internacionais, com aumento de até 4,5 graus, a
tendência desse cenário é sofrer consequências climáticas ainda mais graves”,
afirmou.
Alexandre Araújo Costa,
climatologista
O pesquisador afirmou que, quando se fala em aumento de alguns graus no clima, as pessoas tendem a acreditar que isso não faz tanta diferença para o clima de sua região, que já é extremo. “No entanto, o que o aumento de um grau, em termos globais, representa, vai muito além de um desconforto térmico, para uma série de consequências drásticas na precipitação de chuvas, por exemplo, o que afeta profundamente o bioma em termos de secas, problemas no sistema hídrico e energético e na segurança alimentar”, afirma ele.
A MetSul, empresa
especializada em meteorologia, ressaltou que a intensidade desta onda de calor
pode superar os eventos históricos de setembro e outubro. A onda de calor já
está em seus estágios iniciais e espera-se que ganhe força nos próximos dias.
Alexandre concorda com esta análise e aponta que “a situação é tão extraordinária
que esta onda de calor pode se tornar a mais intensa já registrada no país em
termos de temperaturas máximas”.
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mudança climática
A onda de calor já
está em seus estágios iniciais e espera-se que ganhe força nos próximos dias.
Na terça-feira, municípios como Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, registraram
uma temperatura impressionante de 42,3ºC, enquanto Cuiabá, no Mato Grosso,
atingiu 40,4ºC. A situação não é exclusiva do Brasil; países vizinhos, como
Argentina, Bolívia e Paraguai, também enfrentam temperaturas extremas.
O Centro-Oeste
brasileiro é a região mais afetada inicialmente, com temperaturas concentradas
nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Contudo, espera-se que a massa
de ar quente se expanda, atingindo áreas mais amplas, incluindo o interior de
São Paulo. O período de altas temperaturas será prolongado, podendo durar até
duas semanas em algumas localidades.
Alexandre destacou
este aspecto dos biomas mais afetados serem justamente aqueles mais agredidos
pelo negacionismo climático, no último período, como o cerrado dominado pela
agropecuária e a própria Amazônia, atingida por desmatamentos e garimpo ilegal.
“Embora o Brasil contribua menos para o aquecimento global e tenha matrizes
energéticas que emitem menos gás carbônico, a criação de gado em larga escala é
um dos piores vetores de emissões de gás metano. Além disso, toda a logística
de transporte dessa produção de alimentos no país, assim como a mobilidade
urbana, em geral, é baseada no consumo de combustível fóssil, quando já deveria
estar se eletrificando”, pondera ele.
O cientista também
citou estudos que já apontam, pela primeira vez, áreas de caatinga que deixaram
de ser semiáridas para se tornar áridas, impossibilitando qualquer atividade
econômica nestas regiões do Nordeste brasileiro. O meteorologista Humberto
Barbosa verificou o aumento do processo de degradação ambiental e da
desertificação no Semiárido brasileiro, prejudicando os ecossistemas e o
bem-estar da população.
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é agora”
A pesquisa foi realizada para atender a um pedido do Tribunal de Contas da Paraíba, que atribuiu o agravamento da situação à paralização que se deu, em nível nacional, com a desativação da Comissão Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (CNCD), por meio do Decreto Federal no 9.759/2019. Alexandre ressaltou o quanto o governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), era negacionista da ciência ao desmontar os mecanismos de fiscalização ambiental e as iniciativas de mitigação das mudanças climáticas.
Risco para saúde
Esta onda de calor
é considerada fora do comum e potencialmente a mais intensa já registrada no
Brasil em termos de temperaturas máximas nominais. A MetSul Meteorologia alerta
para temperaturas excepcionalmente altas, podendo atingir até 46ºC em algumas cidades,
o que representa um risco significativo para a saúde.
Os especialistas
alertam que o calor extremo pode persistir por até duas semanas em algumas
áreas, representando um risco significativo, especialmente para grupos
vulneráveis, como idosos e doentes. A MetSul destaca que as altas temperaturas
podem ter impactos graves, aumentando os riscos de mortes relacionadas ao
calor.
Especialistas em
saúde alertam para os riscos significativos associados a essa onda de calor,
que vai além do desconforto térmico. A exposição prolongada a temperaturas
extremas pode causar sérios danos à saúde, incluindo insolação, desidratação e
complicações cardiovasculares e respiratórias. Recomenda-se que a população
tome medidas preventivas, como manter-se hidratada, evitar esforço físico
excessivo e proteger-se contra a exposição direta ao sol.
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climática
Diante da situação,
autoridades de saúde recomendam medidas preventivas, como manter-se hidratado,
vestir roupas leves, evitar a exposição ao sol nas horas mais quentes, e ter
cuidado com medicamentos que podem afetar a capacidade do corpo de dissipar o calor.
Além disso, alertam para os riscos do choque de calor, uma condição séria que
pode ocorrer devido à exposição prolongada ou esforço físico em altas
temperaturas. Sintomas incluem confusão mental, delírio, convulsões e coma.
Mudança climática
Os recordes
estabelecidos nas ondas de calor de setembro e outubro já foram superados, e há
uma probabilidade substancial de que novos recordes sejam estabelecidos durante
esta onda de calor. Capitais como Cuiabá, Campo Grande, Goiânia, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo podem registrar temperaturas extremamente
altas, colocando em cheque os registros históricos.
A explicação
meteorológica para essa onda de calor sem precedentes está relacionada a uma
bolha de calor ou cúpula de calor, um fenômeno causado por uma área de alta
pressão que atua como uma cúpula, gerando ar descendente e aquecendo a coluna
de ar. Esse padrão climático, conhecido como “dome de calor,” pode durar dias
ou até semanas, desviando sistemas meteorológicos ao seu redor.
Especialistas, como
Alexandre Costa, ressaltam que eventos climáticos extremos, como essas ondas de
calor, estão se tornando mais frequentes e intensos devido às mudanças
climáticas. Estudos indicam que a frequência e a intensidade das ondas de calor
estão aumentando, alertando para a necessidade urgente de mitigação e adaptação
para reduzir os impactos na saúde humana.
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de Paris
Alexandre destacou
boas notícias recentes de que os níveis de desmatamento caíram muito no país.
“Mas isso é insuficiente. O governo precisa zerar este índice e também deixar
de financiar projetos que envolvam exploração de combustíveis fósseis, direcionando
todos os recursos para energias renováveis. Há resistências em setores do
governo em fazer isso, quando não há mais tempo para continuar retardando uma
transição energética”, afirmou o climatologista.
O Brasil enfrenta
não apenas uma crise climática imediata, mas também um chamado à ação para
combater as mudanças climáticas e proteger a população contra eventos extremos
cada vez mais frequentes e intensos.
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