Novembro 2023
Luciano Siqueira
Em país marcado por
tremenda desigualdade social, agravada pelo conturbado ambiente de
polarização política e ideológica em que um dos polos navega em realidade
paralela e confunde milhões via fake news, há um "detalhe" na
anunciada "faixa 4" do programa Minha Casa, Minha Vida de duplo
significado.
O objetivo é alcançar parcela expressiva da chamada
"classe média", beneficiando, famílias com
renda mensal de até R$ 12 mil.
Além de socialmente justa, a
intenção anunciada pelo presidente Lula alcança a superação de uma
lacuna verificada em seus dois governos anteriores e nos governos de Dilma
Rousseff: milhões de brasileiros e brasileiras pertencentes a essa faixa social
intermediária, digamos assim, entre os 41% mais pobres e os 10% mais ricos,
não se sentiu beneficiária das políticas sociais.
À época, pesquisas
revelavam a insatisfação dessa faixa da população, caldo
de cultura onde prosperaram a antipolítica, disseminada
amplamente pela pelos conglomerados midiáticos, e a ascensão da extrema
direita bolsonarista.
Por enquanto, até o fim de 2026, o governo pretende
entregar mais de 2 milhões de casas no formato atual do programa.
Ainda insuficiente, porém de um simbolismo muito
forte. No governo Bolsonaro o programa mudou de nome e estacionou,
deixando 188 mil unidades com obras paradas.
Porém não basta a retomada do
benefício. É preciso abordar politicamente a população beneficiária,
contribuindo para elevar o seu nível de consciência.
Tanto porque desde o segundo governo Lula,
contraditoriamente, a bandeira da Reforma Urbana se enfraqueceu - parte
considerável das energias do movimento popular deslocada para as linhas de
financiamento habitacional comunitário - , como o conjunto dos programas sociais
vitoriosos não produziram a elevação do nível de consciência da população,
conforme se constatou em sondagens como as realizadas pelo Instituto
Locomotiva.
Realizações de governo eram apresentadas como dádivas, não como conquistas do
povo.
A agenda da reconstrução nacional, que dá conteúdo
e sentido ao atual governo, tem necessariamente a dupla face das realizações
objetivas e a abordagem subjetiva da maioria da população. Sem o que não
se melhora a difícil correlação de forças inóspita a transformações sociais
consistentes.
*Texto da minha
coluna semanal (publicada às quintas feiras) no portal Vermelho
Para além do risco de
giz https://bit.ly/3Ye45TD
Postado por Luciano Siqueira às 14:08 Nenhum
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