Fosse o Brasil um país minimamente racional, a solução do caso Enel
seria o da reestatização, a exemplo de outras economias e cidades modernas.
Luis Nassif/Jornal GGN
O governador Mário Covas foi enganado, ao permitir a privatização da Eletropaulo. A informação é de Paulo Roberto Feldman, que presidiu a empresa no período. Houve uma reunião no Palácio Bandeirantes com uma grande consultoria americana, presentes Covas, Feldman e David Zylbersztajn. Na época, vendia-se o peixe de que a privatização permitiria competição entre empresas na mesma área de distribuição.
A consultoria mostrou, então, como
supostamente funcionava o modelo londrino. Cada residência tinha dois ou três
botões, cada qual correspondendo a um fornecedor de energia. O consumidor
poderia escolher na hora.
A exposição entusiasmou os três espectadores e levou Covas a autorizar a
privatização da Eletropaulo. Depois, conta Feldman, descobriu-se que o exemplo
não existia, era falso. Mas, aí, não dava para recuar.
A primeira concessionária foi a AES.
Depois, desistiu e vendeu a Eletropaulo para a estatal italiana Enel.
O segundo grande erro foi na
definição do valor das tarifas. Permitiu-se que investimentos fossem
considerados na definição das tarifas; já os gastos com manutenção, não.
Tudo que é capex (investimento novo),
entra na revisão tarifária. Tudo que é manutenção, não entra na métrica da
tarifa.
A saída encontrada foi automática.
Na época da Eletropaulo, havia 12 caminhões de manutenção preventiva e 2 de
correção corretiva , que eram de emergência. Inverteu-se. Instalaram nas redes
religadores automáticos que seccionam circuitos. Em vez de manutenção
preventiva no circuito como um todo, isola onde deu problema e manda uma equipe
resolver. A equipe preventiva tinha 8 homens em cada. Na de emergência,
apenas 2.
Muito tempo sem manutenção, as
cruzetas degradam, a rede fica carcomida, a poda mal feita. Os problemas surgem
quando ocorre um ciclone que atinge vários pontos ao mesmo tempo. Muitos dos
problemas que ocorreram foram por desligamento de cabo tocando no outro,
cruzeta partindo, galhos de árvore tocando na rede.
Mais ainda. É essencial uma
mão-de-obra permanente na empresa. São os técnicos mais gabaritados, com
conhecimento técnico e a memória do sistema. Quando entrou, a AES tentou
terceirizar parte da mão-de-obra e quebrou a cara. Em 2014, houve outro ciclone
com as mesmas consequências do atual. A AES percebeu o erro e voltou a
recontratar trabalhadores permanentes, aumentando o quadro de 6 mil para 8.800.
Quando entrou, a Enel inverteu
novamente o jogo, investindo pesadamente na terceirização, com trabalhadores
ganhando 1,5 salários mínimos. O número de trabalhadores próprios caiu de 7 mil
para 3.900.
No fundo, é uma lógica inerente ao
modelo de gestão inaugurado por Jack Welch e que tem em Jorge Paulo Lemann seu
maior seguidor brasileiro. Adquire-se uma estatal, em setor com monopólio –
portanto, com pouco incentivo a manter a qualidade -, e trata-se de reduzir
tudo o que pode diminuir os dividendos, como manutenção, investimentos etc.
O equilíbrio deveria ser proporcionado pelas agências reguladoras. Mas, no
Brasil – e na maior parte das economias – elas acabam apropriadas pelo mercado.
Fosse o Brasil um país minimamente
racional, a solução do caso Enel seria o da reestatização, a exemplo de outras
economias e cidades modernas.
O mito da empresa
privada no serviço público
Um apagão que atingiu o norte do
Brasil na manhã de 15 de agosto de 2023 deixou cerca de 15 milhões de pessoas
sem energia elétrica. O apagão afetou os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará,
Rondônia e Roraima.
Na cobertura geral da imprensa, a
culpa era de uma suposta empresa estatal que não deu conta do recado. Demoraram
algumas horas para aceitar que o problema foi de uma empresa de transmissão
privada que não investiu adequadamente na infraestrutura de rede.
O episódio ensinou várias lições não
aprendidas.
A primeira é a de que nem toda empresa pública é ineficiente; a segunda, é que
nem toda empresa privada é eficiente.
De algumas décadas para cá, o mito da
eficiência da empresa privada em setores públicos – especialmente
oligopolizados – não existe mais.
Internacionalmente, está havendo uma
reestatização de serviços de eletricidade.
·
Canadá: O governo está considerando a privatização da Hydro-Québec, uma
empresa de energia elétrica que opera na província de Quebec.
·
Estados Unidos: O governo está considerando a
privatização da Tennessee Valley Authority, uma empresa de energia elétrica que
opera no sul do país e fio uma pioneira dos projetos de desenvolvimento do
país..
·
Reino Unido: O governo está considerando a
privatização da National Grid, uma empresa de energia elétrica que opera em
todo o país.
·
Austin, Texas: Em 2021, os eleitores de Austin
aprovaram uma medida para municipalizar a Austin Energy, a distribuidora de
energia da cidade. A medida foi tomada para garantir o fornecimento de energia
a preços acessíveis e para proteger a segurança energética da cidade.
Outras cidades norte-americanas estão
considerando a municipalização de suas distribuidoras de energia, incluindo:
·
Denver, Colorado: Em 2022, o prefeito de Denver
anunciou a intenção de municipalizar a Xcel Energy, a distribuidora de energia
da cidade.
·
Oakland, Califórnia: Em 2022, o
prefeito de Oakland anunciou a intenção de municipalizar a Pacific Gas &
Electric Company, a distribuidora de energia da cidade.
·
Seattle, Washington: Em 2023, o
prefeito de Seattle anunciou a intenção de municipalizar a Seattle City Light,
a distribuidora de energia da cidade.
Aqui estão alguns exemplos de cidades
europeias que municipalizaram suas distribuidoras de energia:
Barcelona, Espanha: Em 2018, a
cidade de Barcelona municipalizou a Enel-Distribución España, a distribuidora
de energia da cidade. A medida foi tomada para garantir o fornecimento de
energia a preços acessíveis e para proteger a segurança energética da cidade.
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Bilbao, Espanha: Em 2019, a cidade de Bilbao
municipalizou a Iberdrola Distribución Eléctrica, a distribuidora de energia da
cidade. A medida foi tomada para garantir o fornecimento de energia a preços
acessíveis e para proteger a segurança energética da cidade.
·
Berlin, Alemanha: Em 2022, a cidade de Berlim
anunciou a intenção de municipalizar a Vattenfall, a distribuidora de energia
da cidade. A medida foi tomada para garantir o fornecimento de energia a preços
acessíveis e para proteger a segurança energética da cidade.
·
Lisboa, Portugal: Em 2021, a cidade de Lisboa
municipalizou a E-Redes, a distribuidora de energia da cidade. A medida foi
tomada para garantir o fornecimento de energia a preços acessíveis e para
proteger a segurança energética da cidade.
·
Roma, Itália: Em 2023, a cidade de Roma
anunciou a intenção de municipalizar a Acea, a distribuidora de energia da
cidade. A medida foi tomada para garantir o fornecimento de energia a preços
acessíveis e para proteger a segurança energética da cidade.
Outras cidades europeias estão
considerando a municipalização de suas distribuidoras de energia, incluindo:
·
Londres, Reino Unido: Em 2022, o
prefeito de Londres anunciou a intenção de municipalizar a London Power, a
distribuidora de energia da cidade.
·
Paris, França: Em 2023, o prefeito de Paris
anunciou a intenção de municipalizar a Enedis, a distribuidora de energia da
cidade.
·
Viena, Áustria: Em 2023, o prefeito de Viena
anunciou a intenção de municipalizar a Wien Energie, a distribuidora de energia
da cidade.
Tão
diferentes quanto o maracatu e a valsa https://bit.ly/3Ye45TD
Postado por Luciano Siqueira às 15:10 Nenhum comentário:
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