Deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) afirmou que a aprovação foi fruto de árdua articulação e visa garantir permanência de estudantes no ensino médio, técnico e superior da rede federal
Christiane Peres/Vermelho
Uma luta de mais de uma década
avançou esta semana no Congresso. Na noite desta terça-feira (31), o relatório
da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) ao projeto de lei que cria a Política
Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) foi aprovado. A proposta (PL
1434/11) pretende garantir as condições de permanência dos estudantes em cursos
de educação superior e de educação profissional científica e tecnológica
pública federal. A proposta, agora, será analisada no Senado.
“Vitória dos estudantes! Este momento
representa o fruto de um incansável esforço em parceria com estudantes,
professores, reitores, universidades e entidades do setor educacional, visando
criar uma política que atenda às necessidades cruciais para garantir a
permanência de estudantes no ensino médio, técnico e superior da rede federal
de ensino. Agora, nossa luta continua no Senado Federal. Que todos possam ter a
oportunidade de realizarem seus sonhos através da educação e ajudarem na
construção do Brasil”, comemorou Alice Portugal.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP)
destacou que democratizar o acesso à universidade requer políticas consistentes
de permanência para os jovens mais pobres. “É preciso pensar que estamos
investindo nos próximos profissionais, cientistas e mão de obra especializada
para desenvolver o país. Vamos reconstruir o Brasil”, disse.
Leia mais: Aprovada urgência
para PL que cria a Política de Assistência Estudantil
Para a líder do PCdoB na Câmara,
deputada Jandira Feghali (RJ), “esta é uma conquista para os estudantes e para
o Brasil”.
As entidades estudantis acompanharam
de perto a votação na Câmara. Para a presidente da União Nacional dos
Estudantes (UNE), Manuella Mirella, a Pnaes é investimento no futuro e na
igualdade de oportunidades.
“Assim, todos os estudantes podem
trilhar o caminho do sucesso. Continuamos na pressão para que a Pnaes vire lei,
política de Estado. Nós queremos entrar, permanecer e concluir a graduação”,
destacou a dirigente da UNE.
Em sua conta no X (antigo Twitter), a
União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), destacou a importância da
inclusão do ensino médio técnico no Pnaes. Segundo a entidade, isso significa
“que mais uma porta se abre para o futuro dos estudantes, ampliando
oportunidades de formação e desenvolvimento”.
“A inclusão do ensino médio técnico
visa garantir que todos os estudantes tenham igualdade de oportunidades,
independentemente de sua situação socioeconômica. É um passo fundamental para
fortalecer a educação e preparar nossos jovens para o mundo.”
Segundo o substitutivo aprovado, a
política abrangerá dez programas e um benefício em torno dos principais
aspectos que colaboram para o desempenho acadêmico, permanência na instituição
e conclusão do curso.
Se houver disponibilidade
orçamentária, a política poderá atender ainda estudantes de mestrado e
doutorado dessas instituições ou estudantes de instituições de ensino superior
públicas gratuitas de estados, municípios e do Distrito Federal por meio de
convênios.
Para famílias de baixa renda
inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal
(CadÚnico) e que recebam o Bolsa Família, o governo poderá criar e pagar o
Benefício Permanência na Educação Superior se algum membro dependente estiver
matriculado em cursos de graduação de instituições de ensino superior.
Pelo texto, as instituições federais
de ensino superior receberão recursos do Pnaes no mínimo proporcionais ao
número de estudantes cotistas admitidos em cada instituição.
Programa atual
O governo federal já conta com o
Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), criado pelo Decreto
7.234/10, e o projeto torna lei esse programa na forma de uma política mais
abrangente.
O Pnaes atual concede, para
estudantes com renda per capita familiar de até 1,5 salário mínimo, auxílios
para moradia estudantil, alimentação, transporte, saúde, inclusão digital,
cultura, esporte, creche e apoio pedagógico.
A escolha de qual subsídio ofertar e
a execução dos recursos são de responsabilidade da própria instituição de
ensino.
Abandono
Alice Portugal lembrou que a falta de
condições dos estudantes para continuar no curso levou a alto índice de
abandono. “Nos últimos quatro anos, 60% dos alunos em situação vulnerável se
evadiram dos institutos federais de educação e das universidades federais. A
evasão dói, e o Estado brasileiro precisa reforçar essa política de assistência
estudantil”, ressaltou.
Benefício direto
O projeto cria o Programa de Assistência Estudantil (PAE) para conceder
benefício direto ao estudante por meio de ações em áreas como moradia,
alimentação, transporte e atenção à saúde.
Para ter acesso, o estudante deverá
atender ao menos um de sete critérios, com prioridade para quilombolas,
indígenas e de outras comunidades tradicionais e para estudantes estrangeiros
em condição de vulnerabilidade socioeconômica, especialmente refugiados.
Confira os critérios:
·
egresso da rede pública de educação básica;
·
egresso da rede privada na condição de bolsista integral na educação
básica;
·
matriculado por meio de cota de vagas;
·
ser de família de baixa renda (renda bruta familiar mensal per capita de
até 1 salário mínimo);
·
estudante cuja deficiência requeira acompanhamento pedagógico necessário
à sua permanência na educação superior, independentemente de sua origem escolar
ou renda;
·
estudante oriundo de entidade ou abrigo de acolhimento institucional e
não adotado em idade de saída;
·
alto desempenho acadêmico e esportivo;
·
estudante quilombola, indígena ou de comunidades tradicionais; ou
·
estudantes estrangeiros em condição de vulnerabilidade socioeconômica e
refugiados.
Em razão de sua autonomia
administrativa, as instituições federais definirão critérios e metodologia para
a seleção dos beneficiários; documentação exigível; requisitos adicionais; e
mecanismos de acompanhamento e avaliação.
O Programa de Assistência Estudantil
deverá garantir a participação dos estudantes, por meio de suas entidades
representativas, desde a formulação e execução até a avaliação das ações.
Bolsa permanência
O texto de Alice Portugal cria o
Programa de Bolsa Permanência (PBP), destinado a estudantes que não recebam
bolsa de estudos concedida por órgãos governamentais.
O valor do PBP, a ser estabelecido em
regulamento, não será inferior ao das bolsas de iniciação científica para
estudantes de graduação e ao das bolsas de iniciação científica júnior para
estudantes de educação profissional técnica de nível médio.
Ambos os valores tomam como
referência aqueles concedidos pelo governo federal. Se a bolsa de permanência
for estendida a alunos de mestrado ou doutorado, terão prioridade aqueles que
não recebam bolsa de outros órgãos governamentais.
Para ter acesso, o interessado deverá
cumprir, cumulativamente, algumas condições:
·
possuir renda familiar mensal per capita não superior a 1 salário
mínimo;
·
estar regularmente matriculado em curso presencial de graduação com carga
horária média igual ou superior a cinco horas diárias, ou em curso presencial
de educação profissional técnica de nível médio;
·
não ultrapassar, para conclusão do curso, dois semestres do tempo
regulamentar do curso de graduação em que foi primeiramente matriculado;
·
ter assinado termo de compromisso; e
·
ter seu cadastro aprovado e mensalmente homologado pela instituição
federal.
Essa bolsa será acumulável com outras
modalidades de bolsas acadêmicas e com outros auxílios destinados à assistência
estudantil.
Entretanto, a soma total desses
benefícios pecuniários não poderá ultrapassar 1,5 salário mínimo por estudante.
Indígenas e
quilombolas
O texto concede tratamento especial a
estudantes indígenas e quilombolas, permitindo o recebimento de benefícios
acumulados com valor total superior a 1,5 salário mínimo, inclusive porque
prevê o pagamento em dobro das bolsas para esse público.
Eles poderão ainda usar até quatro
semestres além do tempo normal para concluir o curso de graduação, contados do
primeiro curso em que foram matriculados.
Outro benefício é para indígenas e
quilombolas matriculados em cursos de licenciaturas interculturais para a
formação de professores, que poderão receber, durante os períodos de atividades
pedagógicas formativas na instituição federal, uma bolsa de permanência por até
seis meses.
Alimentação
saudável
Já o Programa de Alimentação Saudável
na Educação Superior (Pases) terá ações articuladas com as políticas do Sistema
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, valendo-se das compras do
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Os recursos do Pases deverão garantir
as condições para a oferta de alimentação saudável e adequada nessas
instituições federais por meio de restaurantes universitários. Para estudantes
do PAE, a alimentação deverá ser gratuita.
Por meio de recursos adicionais a que
tiverem acesso com parcerias ou convênios, as universidades poderão criar
restaurantes universitários populares para atendimento à população com
vulnerabilidade socioeconômica das localidades em que se encontram sediadas.
Outros programas
O texto de Alice Portugal especifica
ainda como serão os outros programas listados:
– Programa Estudantil de Moradia
(PEM) para estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica;
– Programa Incluir de Acessibilidade
(Incluir) para prestar apoio pedagógico específico a estudantes com deficiência
e implantar e consolidar núcleos de acessibilidade;
– Programa de Apoio ao Transporte do
Estudante (Pate) para oferecer transporte gratuito a estudantes que morem em
regiões onde não haja disponibilidade de transporte público para acesso regular
às respectivas instituições de ensino;
– Programa de Permanência Parental na
Educação (Propepe) para criar infraestrutura para mães e pais estudantes
deixarem seus filhos menores de 6 anos de idade em espaços com atividades
lúdico-pedagógicas;
– Programa de Acolhimento nas
Bibliotecas (PAB) para oferecer salas e espaços adequados para estudo e
pesquisa em bibliotecas em funcionamento 24 horas por dia;
– Programa de Atenção à Saúde Mental
dos Estudantes (PAS) para promover a cultura do cuidado no ambiente estudantil
por meio da melhoria das relações entre estudantes, professores e servidores
técnicos administrativos das instituições federais de ensino;
– Programa Milton Santos de Acesso ao
Ensino Superior (Promisaes) para apoiar, inclusive financeiramente, estudantes
estrangeiros matriculados nessas instituições em razão de cooperação
técnico-científica e cultural com países com os quais o Brasil mantenha acordos
educacionais ou culturais.
Com informações da
Agência Câmara
Sem tambores e sem
clarins ttps://bit.ly/3Ye45TD
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