A temperatura média de 2023 se aproxima perigosamente do limite de 1,5ºC considerado pelos cientistas como o ponto crítico para evitar as consequências climáticas mais devastadoras.
por Cezar Xavier
Publicado
10/01/2024 14:20 | Editado 10/01/2024 16:00
Cientistas
confirmaram oficialmente nesta terça-feira (9) que o ano de 2023 entrou para os
anais como o mais quente já registrado na história, lançando um alerta global
sobre a urgência de medidas concretas contra o aquecimento global.
O
Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, divulgou dados
alarmantes, revelando que a temperatura média em 2023 foi 1,48 ºC mais quente
do que as médias do período pré-industrial, marcado pelo início do uso massivo
de combustíveis fósseis. Esse número se aproxima perigosamente do limite de
1,5ºC considerado pelos cientistas como o ponto crítico para evitar as
consequências climáticas mais devastadoras.
Em
termos práticos, o planeta está à beira do abismo climático, alertando para a
necessidade de ações imediatas para conter o aquecimento global. Caso não haja
contenção, prevê-se o agravamento de desastres como ondas de calor extremas,
enchentes destrutivas e secas, como a registrada na Amazônia no ano passado.
Adicionalmente, o risco da elevação dos níveis dos oceanos, ameaçando a
existência de várias ilhas, se torna mais iminente.
As
expectativas de que 2023 quebrasse recordes anteriores foram confirmadas, mas
os dados revelados pelo serviço Copernicus superaram as previsões, destacando a
gravidade da situação. De junho a dezembro de 2023, todos os meses foram os
mais quentes registrados desde 1850, comparados com os anos anteriores.
Adicionalmente, as temperaturas ultrapassaram o limite crítico de 1.5 ºC em
quase metade dos dias do ano, estabelecendo um terrível precedente, conforme
destacou Carlo Buontempo, diretor do Copernicus.
O
fenômeno El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico, contribuiu para o
aumento das temperaturas globais em 2023, intensificando ainda mais o cenário.
Pela primeira vez, dois dias de novembro foram 2ºC mais quentes do que no
período pré-industrial.
As
atividades humanas, especialmente o uso indiscriminado de combustíveis fósseis,
foram identificadas como as principais responsáveis pelo aquecimento global em
2023. Buontempo ressaltou que o ano foi “muito excepcional, em termos
climáticos”, mesmo em comparação com outros anos extremamente quentes.
A
crescente urgência para ação climática é reforçada, sinalizando a necessidade
de líderes mundiais adotarem medidas concretas para conter as mudanças
climáticas. A resposta global até o momento tem sido tímida, com as COPs
(Conferências das Partes) refletindo progressos limitados na mudança para
fontes de energia mais sustentáveis e no abandono dos combustíveis fósseis. A
ciência ressalta que o tempo para ação é agora, e apenas ações enérgicas dos
líderes mundiais poderão reverter o quadro alarmante revelado por 2023, o ano
mais quente da história.
Dados divulgados
O
Copernicus confirma e ecoa o alerta feito pelo secretário-geral da ONU, António
Guterres, sobre a “era da ebulição”. Os dados divulgados destacam uma
aceleração preocupante do aquecimento global, quebra de recordes sucessivos e
um panorama climático que demanda ações urgentes.
Com
base no conjunto de dados de reanálise do modelo ERA5, o relatório Global
Climate Highlights de 2023 apresenta um resumo dos extremos climáticos mais
relevantes e seus impulsionadores. As temperaturas globais excepcionalmente
elevadas, especialmente a partir de junho, fizeram de 2023 o ano mais quente
registrado, superando significativamente 2016, o ano anterior detentor desse
título.
O
ano de 2023 registrou uma temperatura média global de 14,98°C, sendo 0,17°C
mais quente do que em 2016. Comparado à média de 1991-2020, o aumento foi de
0,60°C, e em relação ao período pré-industrial de 1850-1900, o aumento foi
alarmante, atingindo 1,48°C. Esses dados indicam uma proximidade perigosa com o
limite crítico de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.
O
diretor do Copernicus, Carlo Buontempo, alertou que, nos próximos meses, a
temperatura global pode exceder 1,5°C acima do nível pré-industrial, marcando
um ponto crítico para o aquecimento planetário. Pela primeira vez na história,
todos os dias de um ano ultrapassaram 1°C acima do nível pré-industrial, sendo
que quase metade do ano registrou temperaturas mais de 1,5°C acima desse nível,
com novembro vendo pela primeira vez dois dias com mais de 2°C de aumento.
O
panorama climático desafiador se estendeu globalmente. Cada mês, de junho a
dezembro de 2023, foi o mais quente registrado em comparação com anos
anteriores. Julho e agosto de 2023 foram os dois meses mais quentes já
registrados globalmente, e o verão boreal foi a estação mais quente. Setembro
de 2023 apresentou um desvio de temperatura acima da média maior do que
qualquer outro mês do modelo ERA5, enquanto dezembro foi o dezembro mais quente
registrado globalmente.
As
águas dos oceanos contribuíram significativamente para as altas temperaturas,
com anomalias sem precedentes sendo registradas em diversas bacias oceânicas.
As ondas de calor marinhas afetaram o Atlântico Norte, o Mediterrâneo, o Golfo
do México, o Caribe, o Oceano Índico e o Pacífico Norte.
O
continente europeu também sentiu os impactos, registrando o segundo ano mais
quente, com destaque para o verão e outono, que foram os mais quentes já
registrados. O derretimento do gelo marinho na Antártida e no Ártico atingiu
níveis recordes, evidenciando os impactos devastadores do aquecimento global
nos polos.
As
concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e metano atingiram níveis
alarmantes, atingindo 419 partes por milhão (ppm) e 1.902 partes por bilhão (ppb),
respectivamente. Eventos extremos, como ondas de calor, inundações, secas e
incêndios florestais, foram registrados globalmente, com as emissões de carbono
provenientes de incêndios florestais aumentando em 30% em relação a 2022.
Os
cientistas afirmam que 2023 representa uma virada na história climática,
exigindo ação urgente e enérgica para conter as mudanças climáticas e preparar
a civilização para os impactos crescentes. Buontempo destaca a necessidade
premente de descarbonizar a economia e de lideranças mundiais adotarem medidas
significativas para enfrentar os desafios climáticos, enfatizando que “os
extremos que observámos nos últimos meses fornecem um testemunho dramático de
quão longe estamos agora do clima em que a nossa civilização se desenvolveu.” O
ano de 2023, sem dúvida, será lembrado como um alerta inequívoco sobre os
efeitos do aquecimento global, lançando um apelo urgente para ação imediata.
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