Além do governo central em Pequim ter definido este alvo como estratégico, o país asiático conta com um contingente de 1,4 bilhão de habitantes para produzir talentos e abriga algumas das mais importantes empresas do ramo de tecnologia do planeta
João Sorima Neto/O Globo
A China estabeleceu uma meta ambiciosa em relação à inteligência artificial (IA), tecnologia que atua na reprodução de padrões de comportamento semelhantes ao humano por dispositivos e programas computacionais. O país asiático quer se tornar líder em desenvolvimento desses sistemas até 2030 e comandar a corrida global nesse campo.
Os especialistas no assunto não
duvidam que a China possa assumir essa ponta, mas alertam que ela não está
sozinha: os Estados Unidos também buscam a liderança nessa tecnologia numa
disputa pela soberania global.
Pesa a favor da China a participação
do governo nesse objetivo. Pequim definiu esse alvo como estratégico, o que
significa que não vai poupar esforços para atingi-lo. Também conta a escala
para testar essas novidades — a China tem 1,4 bilhão de habitantes —, talentos
para criar produtos e o fato de o país reunir algumas das mais importantes
empresas do ramo de tecnologia do planeta, como Alibaba, Tencent, BYD, GWM,
Baidu, Huawei e ByteDance. As companhias chinesas planejam investir juntas algo
como US$ 40 bilhões ao ano para avançarem neste campo até 2030.
— As empresas decidem o que será tendência de mercado nesse segmento, e para o
governo central chinês trata-se de um campo estratégico. É um objetivo que que
tem tudo para ser atingido. A China tem mercado com escala para testar na
prática as novidades em IA, tem muitas empresas de tecnologia de ponta e
talentos para desenvolver essa tecnologia — diz In Hsieh, sócio da
Chinnovation, aceleradora de negócios digitais entre Brasil e China.
Alguns números já divulgados pelo governo chinês sobre os avanços de IA
impressionam. Segundo o Instituto de Informação Científica e Técnica da China,
79 modelos de IA em grande escala já foram desenvolvidos no país, e estão sendo
testados. Cada um tem mais de 1 bilhão de parâmetros. São modelos que realizam
tarefas complexas, como processamento de linguagem natural, reconhecimento de
imagem, geração de texto e análise de dados.
De acordo com os dados da
International Data Corporation (IDC), empresa de inteligência de mercado e
consultoria em tecnologia, o mercado mundial de software de inteligência
artificial — sem contar a IA Generativa, sistema capaz de gerar textos, imagens
em resposta a solicitações em linguagem comum — vai crescer de US$ 64 bilhões
em 2022 para quase US$ 251 bilhões em 2027, a uma taxa de crescimento anual de
31%. A IDC prevê que a IA generativa vai gerar receita extra de US$ 28,3
bilhões nesse período.
Junior Borneli, especialista em IA no
Brasil e CEO da StartSe, maior escola de tecnologia do país, lembra que há
alguns anos os chineses incluíram programação e inteligência artificial como
matéria básica nas escolas. As crianças chinesas têm contato com essas
tecnologias muito cedo e isso faz com que elas cresçam com uma “cabeça
digital”.
— A educação digital desde a base faz
muita diferença. E para que a inteligência artificial funcione bem, ela precisa
ser treinada com dados. E a China, com 1,4 bilhão de pessoas, observadas o
tempo todo, tem muita massa crítica para fazer com que o aprendizado dos seus
algoritmos seja exponencializado — lembra Bornelli.
Ele observa que, para o governo
chinês, investir em IA é uma questão de soberania nacional, dada a capacidade
que essa tecnologia tem. Portanto, o financiamento da China em iniciativas de
IA é forte, assim como o país apostou em carros elétricos.
Táxi autônomo
Na vida cotidiana, as empresas e a
população já vem testando e usando alguns sistemas com AI em setores como
finanças, varejo, transporte, governo e telecomunicações. Moradores de grandes
cidades chinesas como Pequim e Xangai já têm à disposição serviço de táxi com
veículos autônomos. Em Pequim, os táxis autônomos podem trafegar em uma área
delimitada de 60 quilômetros quadrados entre 10h e 16h.
O carro é solicitado por um
aplicativo e está equipado com sensores e câmeras capazes de guiá-lo pelas
ruas. Mas, em caso de emergência, há operadores humanos prontos para agir. O
sistema, desenvolvido pela Baidu, empresa de tecnologia e que vem se especializando
em IA, possibilita também que esses veículos lidem com situações imprevistas:
conseguem mudar de faixa, estacionam, trafegam em trânsito congestionado.
Os governos de algumas províncias
estão utilizando sistemas de IA para melhorar o fluxo no transporte público. É
possível fazer controle de tráfego, através de semáforos inteligentes, adaptar
a frota à demanda e também trabalhar com prevenção de acidentes.
Há alguns anos os chatbots, robôs
baseados em grandes modelos de linguagem, já realizam integração de dados e
informações, traduzem conversas e fazem resolução de alguns problemas simples.
Agora ambém estão sendo capacitados para fazer planejamento de negócios.
Empresas de e-commerce da China já
utilizam esses chatbots, que apresentam características de inteligência
artificial. O Grupo Alibaba, líder em tecnologia digital e computação em nuvem,
criou um modelo de IA para redigir emails e registrar o conteúdo de reuniões.
A futurista Amy Webb, em seu livro
“Os Nove Titãs da IA”, em que esmiuça a competição entre EUA e China nesse
campo, observa que a China investe bilhões de dólares em pesquisa e
desenvolvimento de IA anualmente, com apoio do governo. Isso faz com que os
cientistas chineses criem tecnologias de ponta mais rápido.
E, diz a futurista, o acesso que o governo e as empresas têm a grandes volumes
de dados coletados por câmeras e sensores nas ruas e no transporte público
ajuda na aplicação dessas tecnologias, colocando o país à frente dos demais.
Para Borneli, da StartSe, o Brasil
pode aprender com os chineses na busca por avanços em IA. O primeiro ponto, diz
o especialista, é a educação tecnológica. Quanto maior o repertório, mais
preparados para os novos movimentos nesse campos o país estará.
— E isso precisa começar na base,
assim como os chineses fizeram. Incluir tecnologia como matéria básica nas
escolas é fundamental — diz Bornelli.
As novidades em IA das empresas
chinesas também chegam ao Brasil. A GWM, montadora de carros elétricos, está
implantando um sistema em suas concessionárias daqui: o atendimento ao
consumidor tem redução de até 75% do tempo, desde o agendamento até a entrega
do carro.
— Com IA, o cliente em breve poderá
fazer o agendamento da sua revisão pelo WhatsApp, a qualquer dia e hora. Antes
este processo só era possível em horário comercial. A informação já vai direto
para o sistema das concessionárias, eliminando etapas e agilizando a vida do
cliente e também do profissional do atendimento — diz Daniel Conte, diretor de
pós-venda da GWM.
Para além
do horizonte visível https://bit.ly/3Ye45TD
Postado por Luciano Siqueira às 13:19 Nenhum comentário:
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