Perseguição a religioso combina discurso de ódio, uso de fake news e criminalização de quem defende os direitos humanos
Bernardo Mello Franco/O Globo
Em outubro de 2020, o Papa Francisco
ligou para um padre brasileiro que sofria ameaças. No dia seguinte, o pontífice
disse ter conversado com um “mensageiro de Deus”. Falava de Júlio Lancellotti,
coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo.
O padre é conhecido pelo trabalho em
defesa dos excluídos. Dedica-se a trabalhadores sem-teto, menores abandonados,
dependentes químicos. Gente que vive na miséria na cidade mais rica do país.
Além de distribuir donativos, Lancellotti denuncia abusos e humilhações
praticadas por agentes do Estado. Por isso tornou-se alvo de campanhas
difamatórias. A mais recente é liderada pelo vereador Rubinho Nunes, do União
Brasil.
O político propôs uma CPI a pretexto
de investigar ONGs que atuam na Cracolândia. Em entrevistas e tuítes,
escancarou que a ideia é montar um palanque contra o padre. “Vou arrastar ele
para cá em coercitiva, nem que seja algemado”, provocou, em dezembro.
O objetivo do vereador é claro:
agitar o eleitorado de extrema direita em ano de eleição municipal. De quebra,
ele busca desgastar a imagem de Guilherme Boulos, ex-líder dos sem-teto que
lidera as pesquisas para a prefeitura.
Rubinho Nunes é fundador do MBL. Sua ofensiva contra Lancellotti segue os
métodos do grupo: discurso de ódio, uso de fake news, criminalização de quem
defende os direitos humanos.
Dizendo-se apartidário, o MBL se
aliou a Eduardo Cunha a título de combater a corrupção. Hoje atua como
incubadora de políticos de extrema direita. Um de seus próceres era o deputado
Arthur do Val, cassado após ofender mulheres ucranianas em plena guerra.
Não é a primeira vez que a turma
tenta montar uma arapuca para Lancellotti. Em 2020, integrantes do MBL usaram
um perfil falso para forjar uma acusação de pedofilia contra o padre. A trama
visava turbinar a candidatura de Do Val a prefeito, admitiram dois
participantes à revista Piauí.
“Se este episódio tem algo a nos
ensinar, é que a extrema direita está disposta a tudo para promover o caos,
inclusive destruir reputações e atacar o trabalho de instituições religiosas.
Não há limites para esses facínoras”, diz o ministro dos Direitos Humanos,
Silvio Almeida.
Se topar a CPI, a Câmara Municipal de
São Paulo vai passar a mensagem de que é cúmplice disso.
Cada
qual em sua trincheira https://bit.ly/3Ye45TD
Postado por Luciano Siqueira às 20:38 Nenhum
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