Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação começa a mobilização para as conferências estaduais que ocorrem entre fevereiro e março para garantir ampla diversidade no evento nacional.
Por Cezar Xavier
Publicado 01/02/2024 09:36 | Editado 01/02/2024 07:51
12/07/2023 - 1ª reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia no
Palácio do Planalto Foto: Luara Baggi (ASCOM/MCTI)
Brasília se prepara
para sediar a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI),
um evento que marca o retorno desse importante fórum, após 14 anos de sua
última edição, realizada em 2010. Em entrevista ao Portal Vermelho,
Elisangela Lizardo, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do
Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, revelou os detalhes e a
importância desse encontro que ocorrerá de 4 a 6 de junho na capital
brasileira.
Com o tema
“Ciência, Tecnologia e Inovação para um Brasil Justo, Sustentável e
Desenvolvido”, a 5ª CNCTI se destaca como um marco relevante em um contexto de
retomada da democracia participativa e fortalecimento da participação social,
alinhado com os objetivos do governo federal. “O evento tem como objetivo
central acolher propostas provenientes de diversos setores da sociedade,
incluindo a sociedade científica, poder legislativo, judiciário, instituições
de inovação tecnológica, universidades, escolas, movimentos sociais e
trabalhadores da área de ciência e tecnologia”, ressalta Elisangela.
A conferência
assume um papel crucial ao ouvir e acolher propostas que poderão subsidiar a
elaboração da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI), divulgada
em portaria no ano anterior. Essa estratégia, fundamentada em quatro eixos
centrais, serve como base para a criação do Plano Nacional de Ciência e
Tecnologia, destacando-se como um instrumento fundamental para orientar o
desenvolvimento do setor no país. Os eixos centrais buscam envolver a área
acadêmica, a indústrias, as transições energética e digital, saúde, meio
ambiente, clima e inteligência artificial e, finalmente, o eixo estratégico do
desenvolvimento social.
“A importância da
5ª CNCTI também está intrinsecamente ligada à atual conjuntura, marcada pelo
ressurgimento e fortalecimento da ciência como ferramenta essencial no combate
ao negacionismo e a ataques ao pensamento científico”, salienta ela. A gestora
destaca que a conferência reflete a retomada do processo de participação
social, oferecendo um espaço valioso para o diálogo e a troca de ideias.
Um aspecto inovador
desta edição é a inclusão da etapa livre, permitindo que a sociedade se
organize e participe ativamente, expressando suas perspectivas e propostas. A
mobilização para a 5ª CNCTI envolve conferências estaduais, municipais e
regionais, com um calendário que se estende até o final de abril.
Financiamento e
sustentabilidade
O financiamento na
ciência e tecnologia será abordado considerando o Sistema Nacional de Ciência e
Tecnologia, um dos eixos da Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia (ENCT).
O Sistema Nacional, que passou por esforços de fortalecimento desde 2010,
agora, em 2024, recebe uma atenção ainda mais intensa. Elisangela ressaltou a
importância de estruturar esse financiamento, envolvendo a Secretaria de
Ciência e Tecnologia em todos os estados e as fundações de amparo à pesquisa.
“O objetivo é que
cada ente federativo possa destinar uma parte do seu orçamento para o
financiamento da Ciência, Tecnologia e Inovação, buscando inspiração em
iniciativas bem-sucedidas, como o caso de São Paulo”, diz ela, citando o
exemplo paulista como um dos mais significativos, destinando 2% do PIB para a
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A discussão
sobre o financiamento gira, portanto, em torno da conscientização da
importância de investir em ciência e tecnologia para o desenvolvimento do país.
A gestão atual, de
acordo com Elisangela, sob a liderança da ministra Luciana Santos e com o
empenho do presidente Lula, celebrou uma grande conquista: o
descontingenciamento dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (FNDCT). Elisangela destaca que todos os esforços da
gestão visam discutir, junto com todos os estados do país, a conscientização
sobre a importância do financiamento para o avanço da ciência e tecnologia.
A 5ª CNCTI surge
como uma oportunidade única para reunir especialistas, gestores, representantes
de instituições e a sociedade em geral para discutir não apenas o
financiamento, mas também a sustentabilidade, e a justiça social, consolidando
estratégias que impulsionem o país para o futuro por meio da inovação e
desenvolvimento científico.
O mote da 5ª CNCTI
é “Ciência, Tecnologia e Inovação para um Brasil Justo, Sustentável e
Desenvolvido”. Isso destaca um compromisso renovado com a ciência voltada para
o desenvolvimento social, em prol de uma democracia mais justa e inclusiva. “A
ênfase recai sobre a necessidade de atender às demandas da maioria da
população, sem negligenciar a importância estratégica de projetos ligados à
defesa, soberania e meio ambiente”, salienta.
Os avanços no
debate
A 5ª CNCTI não
apenas marca a retomada desse importante espaço de diálogo, mas também reflete
os desafios e transformações enfrentados desde a última edição ocorrida em
2010. A comparação com a última conferência é inevitável, considerando os 14
anos que se passaram desde então. “Nesse período, o Brasil enfrentou um golpe,
passou por um período de governo conservador e testemunhou ataques à ciência,
culminando em um desmonte da estrutura de ciência e tecnologia no país. No
entanto, mesmo diante desses desafios, a nova conferência será marcada por um
clima democrático e participativo”, observa Elisangela.
A 5ª CNCTI,
portanto, herda a essência propositiva da conferência anterior, mantendo a
lógica de ouvir não apenas a comunidade científica, mas toda a sociedade. O
evento busca refletir sobre os rumos da ciência no Brasil, considerando os planos
estratégicos e projetos associados à última conferência. Elisangela destaca
que, apesar dos desafios enfrentados nos últimos anos, a atual conferência
mantém um olhar estratégico para projetos de defesa, soberania, meio ambiente
e, principalmente, o desenvolvimento da inovação no país.
Resiliência em meio
ao negacionismo
A Conferência traz
à tona a importância de promover o diálogo e fortalecer a ciência em um
contexto marcado por desafios, incluindo períodos de negacionismo. A gestora da
assessoria do MCTI compartilhou perspectivas sobre como o atual cenário pode
influenciar o debate regional durante a conferência.
Questionada sobre o
impacto do período de negacionismo nos últimos anos, Elisangela ressaltou os
esforços significativos do atual governo, liderado pelo presidente Lula e com a
gestão da ministra Luciana Santos, na retomada e valorização da ciência em
todos os ambientes. Ela destacou o empenho para garantir um financiamento
adequado, a alocação de recursos e o descontingenciamento da gestão dos
recursos da FNDCT, potencializando apoios para diversas instituições e para o
desenvolvimento estratégico do governo federal.
“Apesar do
pensamento negacionista que ainda persiste na sociedade brasileira, todos os
esforços da atual gestão estão alinhados no sentido oposto a esse projeto. A
expectativa é que as diversas etapas da conferência, como estaduais,
municipais, livres e regionais, sejam conduzidas por aqueles que têm uma
preocupação e responsabilidade com o desenvolvimento da ciência”, afirma.
“A nossa temática,
a nossa ação é pelo positivo. É buscar dialogar com aqueles que querem
dialogar”, destaca Elisangela, ressaltando que as conferências estaduais vão
ter a sua grande realização entre final de fevereiro e final de março. Ela
ressalta que as etapas que já ocorreram, como a conferência estadual de
Pernambuco e as conferências temáticas em andamento, têm sido marcadas por um
clima muito positivo. Esse ambiente reflete a retomada de um projeto de
desenvolvimento que valoriza a ciência, tecnologia e inovação.
Participação e
representatividade
Elisangela
compartilhou detalhes sobre os esforços realizados para garantir uma
participação forte e representativa de diversos setores da sociedade durante o
evento marcado para junho.
Ela destaca a
presença de uma Comissão Organizadora Nacional atenta e engajada, composta por
53 instituições representativas de diferentes esferas da sociedade. Entre essas
instituições, incluem-se órgãos do Poder Público, representantes do Legislativo
e Judiciário, a Câmara de Ciência e Tecnologia, entidades da comunidade
científica como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a
ABC (Academia Brasileira de Ciências), além de centrais sindicais, Fóruns de
Servidores do Ministério, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior (Andifes), Movimento Estudantil, União Nacional dos
Estudantes (UNE) e Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
O grande esforço da
Comissão Organizadora Nacional concentra-se na divulgação, mobilização e
articulação de todos esses setores para garantir a participação ativa no debate
sobre a Conferência de Ciência e Tecnologia. “A ministra tem desempenhado um
papel crucial ao realizar reuniões institucionais não apenas com outros
ministérios, mas também com diversas instituições, convocando e convidando
todos a participar da conferência”, conta ela.
Além disso, a
divulgação e mobilização também se estendem às redes sociais e contatos
institucionais, buscando alcançar um público mais amplo e diversificado. “A
abordagem adotada envolve um convite aberto a todos os interessados em
contribuir para as discussões e propostas que visam fortalecer a ciência,
tecnologia e inovação no contexto brasileiro”.
Assim, a 5ª CNCTI
se configura não apenas como um espaço de diálogo, mas como uma plataforma
inclusiva que busca amplificar as vozes e perspectivas de diferentes segmentos
da sociedade. A diversidade representativa na Comissão Organizadora Nacional é
um reflexo do comprometimento em garantir que a conferência seja
verdadeiramente um reflexo das pluralidades que compõem a sociedade brasileira.
Com um clima de
expectativa e engajamento, a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação promete ser um ponto de convergência para ideias inovadoras, propostas
transformadoras e o fortalecimento do papel estratégico da ciência e tecnologia
no desenvolvimento sustentável do Brasil. O evento representa não apenas um
marco histórico, mas também um passo significativo na promoção da participação
social e no avanço do conhecimento científico no país.
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