Na 37ª Cúpula da União Africana do Brasil, na Etiópia, o presidente falou sobre a conjuntura global e defendeu que “o desenvolvimento não pode ser privilégio de poucos”
Publicado
17/02/2024 11:31 | Editado 17/02/2024 11:35
Foto: Ricardo
Stuckert
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva participou, neste sábado (17), da abertura da 37ª Cúpula da União
Africana do Brasil, em Adis Abeba, na Etiópia. Em seu discurso, Lula reafirmou
a necessidade de combater as desigualdades sociais e disse que “a alternativa
às mazelas da globalização neoliberal não virá da extrema direita racista e
xenófoba” e que “o desenvolvimento não pode ser privilégio de poucos”.
Ao abrir seu discurso, o presidente
lembrou as similaridades entre os países da África e o Brasil. “A luta africana
tem muito em comum com os desafios do Brasil. Mais da metade dos 200 milhões de
brasileiros se reconhecem como afrodescendentes. Nós, africanos e brasileiros,
precisamos traçar nossos próprios caminhos na ordem internacional que surge”,
disse.
Em seguida, destacou que, na
atualidade, “já não vigoram as teses do Estado mínimo. Planejar o
desenvolvimento agrícola e industrial voltou a ser parte das políticas públicas
em todos os quadrantes. As transições energética e digital demandam o incentivo
e a orientação dos governos”.
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Ahmed
Lula voltou a criticar a atual
divisão global e salientou que “a multipolaridade é um componente inexorável e
bem-vindo do século 21”. O presidente seguiu argumentando que “a
consolidação do BRICS como principal espaço de articulação dos países
emergentes é um avanço inegável. Sem os países em desenvolvimento, não será
possível a abertura de novo ciclo de expansão mundial, que combine crescimento,
redução das desigualdades e preservação ambiental, com ampliação das
liberdades”.
Neste sentido, enfatizou que “o Sul
Global está se constituindo em parte incontornável da solução para as
principais crises que afligem o planeta” e criticou o atual modelo concentrador
de riquezas que prejudica, sobretudo, os países e populações mais vulneráveis,
entre as quais os imigrantes, que fogem de conflitos e da miséria.“A alternativa
às mazelas da globalização neoliberal não virá da extrema direita racista e
xenófoba. O desenvolvimento não pode ser privilégio de poucos”, declarou.
Lula completou dizendo que “só um
projeto social inclusivo nos permitirá erigir sociedades prósperas, livres,
democráticas e soberanas. Não haverá estabilidade nem democracia com fome e
desemprego”. Ele também apontou que o momento é propício para “resgatar as
melhores tradições humanistas dos grandes líderes da descolonização
africana”.
O presidente pontuou, então, que ser
humanista hoje “implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis
israelenses, e demandar a liberação imediata de todos os reféns. Ser humanista
impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase
30 mil palestinos em Gaza – em sua ampla maioria mulheres e crianças – e
provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população”.
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guerras, em vez de pacificar
Ele voltou a defender a necessidade
da criação de um Estado palestino “que seja reconhecido como membro pleno das
Nações Unidas”. E aproveitou para reafirmar ser preciso uma ONU fortalecida e
que tenha um Conselho de Segurança “mais representativo, sem países com poder
de veto, e com membros permanentes da África e da América Latina”.
Ao falar da guerra na Ucrânia, disse
que sua duração “escancara a paralisia do Conselho” e que além da “trágica
perda de vidas, suas consequências são sentidas em todo o mundo, no preço dos
alimentos e fertilizantes. Não haverá solução militar para esse conflito. É
chegada a hora da política e da diplomacia”.
Cenário nacional e parceria
Ministros Wellington Dias, Luciana Santos, Silvio Almeida e Anielle
Franco durante cúpula. Foto: Ricardo Stuckert
Depois de tratar do panorama global,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre o Brasil e a parceria com a
África. “O povo brasileiro está recuperando sua soberania política e econômica.
Estamos adotando um projeto de transformação ecológica, que nos permitirá dar
um salto histórico. Estamos resgatando nossa democracia, tornando-a cada vez
mais participativa”, afirmou.
O presidente falou da disposição de o
Brasil desenvolver programas educacionais na África e colaborar para que o
continente possa se tornar independente na produção de alimentos e energia
limpa. Na área da saúde, disse que há “muito a aprender com as estratégias
sanitárias de ambos os lados, e a possibilidade de estruturar sistemas públicos
robustos e de alcance amplo”.
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inação da ONU
Ao tratar da questão ambiental, o
presidente disse que o “imperativo de proteger as duas maiores florestas
tropicais do mundo, a Amazônica e a do Congo, nos torna protagonistas na agenda
climática. Os instrumentos internacionais hoje existentes são insuficientes
para recompensar de forma eficaz a proteção das florestas, sua biodiversidade e
os povos que vivem, cuidam e dependem desses biomas”.
De acordo com o presidente, “ com a
recuperação de áreas degradadas, podemos criar um verdadeiro cinturão verde de
proteção das florestas do Sul Global”.
Outro ponto destacado de seu discurso
foi o combate à fome. “É inadmissível que um mundo capaz de gerar riquezas da
ordem de US$ 100 trilhões de dólares por ano conviva com a fome de mais de 735
milhões de pessoas. Estamos criando no G20 a Aliança Global contra a Fome,
para impulsionar um conjunto de políticas públicas e mobilizar recursos para o
financiamento dessas políticas”.
Por fim, Lula tratou da inteligência
artificial. O presidente destacou que essa tecnologia “não pode tornar-se
monopólio de poucos países e empresas” e alertou para o fato de que a IA pode
se transformar em “terreno fértil para discursos de ódio e desinformação, além
de causar desemprego e reforçar vieses de raça e gênero, que acentuam injustiças
e discriminação”.
Nesse campo, ele lembrou que o Brasil
vai promover a interação do G20 com o Painel de Alto Nível criado pelo
Secretário-Geral da ONU para apoiar as discussões sobre o Pacto Digital Global.
“Esperamos, com isso, contribuir para uma governança efetiva e multilateral em
Inteligência Artificial e que incorpore plenamente os interesses do Sul
Global”, concluiu.
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