Nove aliados pediram a palavra durante o encontro, que foi revelado por investigação da Polícia Federal
Bruno Alfano/O Globo
A reunião realizada no dia 5 de julho
de 2022, no Palácio do Planalto, na qual Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados
discutiram o que a Polícia Federal classifica como uma "dinâmica
golpista" teve falas de nove pessoas, entre ministros, militares e
políticos, além do próprio ex-presidente.
No encontro, tomaram a palavra os
seguintes aliados:
Filipe Barros, deputado federal
(PL-PR
Anderson Torres (Justiça e Segurança
Pública)
Walter Braga Netto (Casa Civil)
Célio Faria Junior (Secretaria de
Governo)
Paulo Sérgio Oliveira (Defesa)
Bruno Bianco (AGU)
Wagner Rosário (CGU)
Mario Fernandes (assessor da
Secretaria-Geral da Presidência da República)
Augusto Heleno (GSI)
Veja, ponto a
ponto, alguns trechos mais relevantes.
1 - Abin
A última fala da reunião é de Augusto
Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência
da República. De acordo com a PF, ele afirma que conversou com um
diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para “infiltrar
agentes nas campanhas eleitorais, mas adverte do risco de se identificarem os
agentes infiltrados”.
— Já conversei ontem com o Victor,
novo diretor da Abin, e vamos montar um esquema para acompanhar (o que) os dois
lados estão fazendo. O problema todo disso é se vazar... se houver qualquer
acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer lugar — afirmou o
general.
Nesse momento, o então presidente
Jair Bolsonaro interrompe o general e pede para que "conversem em
particular" sobre o tema.
2 - VAR nas
eleições
Heleno, então, prossegue o discurso
afirmando que não tem VAR nas eleições e que “o que tiver que ser feito, tem
que ser feito antes”.
— Se tiver que dar soco na mesa, é
antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. Depois,
será muito difícil que tenhamos uma nova perspectiva. Até porque eles vão fazer
tão bem feito que essa conversa do Fachin com os embaixadores foi exatamente
para que elimine a possibilidade do VAR acontecer. No dia seguinte, todo mundo
reconhece e fim de papo. E vai chegar a um ponto que não vamos poder mais
falar. Vamos ter que agir. Agir contra determinar instituições e determinadas
pessoas.
3 - ‘Vamos nos
foder’
Ao começo da reunião, Anderson Torres
afirmou que o grupo iria "se foder" em caso de uma vitória do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que o cenário era "ameaçador".
— Tem muitos aqui que eu não sei nem
se têm estrutura pra ouvir o que a gente está falando aqui. Com todo o respeito
a todos. Mas eu queria começar por uma frase que o presidente colocou aqui, que
eu acho muito verdadeira. E o exemplo da Bolívia é o grande exemplo pra todos
nós. Senhores, todos vamos se foder! (sic) Eu quero deixar bem claro isso.
Porque se...Eu não estou dizendo que...Eu quero que cada um pense no que pode
fazer previamente porque todos vamos se foder (sic). Não tenho dúvida
disso”
4 - ‘Atuar agora’
Titular da Justiça e Segurança
Pública, Torres também defende que é preciso agir antes das eleições.
— A gente precisa atuar agora. Não
estou desrespeitando poder nenhum, não quero atropelar ninguém. O outro lado
joga muito pesado, senhores. Essa consciência, tem que ter. É o momento de
entender o que está sendo colocado aqui, o que vai acontecer com a gente nos
próximos meses. A pressão está cada dia maior.
5 - ‘Inimigo’
O general Paulo Sérgio Oliveira
também pediu a palavra e fez um longo discurso. Ele explicou a atuação das
Forças Armadas durante a Comissão de Transparência das Eleições (CTE), criada
em 2021 pelo TSE, e afirmou que estava “na linha de contato com o inimigo”.
— O que eu sigo nesse momento é
apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja, na guerra, tem a linha de
contato, linha de partida, vou romper aqui e iniciar a minha operação. Eu vejo
as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos
que intensificar e ajudar nesse sentido para que a gente não fique sozinho no
processo — afirmou.
6 - ‘Entre a gente’
Oliveira ainda defendeu que as
conversas realizadas na reunião não deveriam ser vazadas.
— Esses comentários, penso que fiquem
entre a gente. Fico muito cioso pq não é uma reunião aberta e as ações têm que
ser firmes. O TSE tem o controle do processo. Decide e não tem instância
superior. A gente fica de mãos atadas dele (TSE) aceitar isso ou aquilo. Vou
falar e muito claro: a comissão é para Inês ver. Nunca sentou numa mesa e
discutiu uma proposta. É retórica, discurso, ataque à democracia. E eles fazem
o que tem que ser feito. Algumas reuniões são só conversa pra boi dormir. Que
fique bem claro isso.
7 - ‘Sonho de
reeleger o senhor’
O general também afirmou que estava
trabalhando com os “comandantes das Forças” para organizar um esquema de
fiscalização das urnas.
— Não vão deixar a gente por a mão na
máquina, mas vamos estar do lado da máquina. Por exemplo, quando forem lacrar o
sistema. Nessa hora, vamos exigir um teste de integridade, por exemplo. Se ele
se negar a fazer o teste, vou ficar duvidando mais ainda, registrar, tornar
público em ata para que a gente possa fiscalizar todo o processo (...). Agora,
vamos ter sucesso, resultado, transparência, segurança? Uma condição de dizer
que é mínima chance de fraude ou é grande a chance de fraude? Estou realizando
reuniões com comandantes das Forças quase semanalmente. Trabalhamos para ver
que ações poderão ser tomadas para que a gente possa ter transparência,
segurança, condições de auditoria e que as eleições transcorrem da forma como a
gente sonha e que tenhamos êxito de reeleger o senhor, esse é o desejo de todos
nós.
8 - ‘Prazo’
De acordo com a Polícia Federal, o
general Mário Fernandes, assessor da Secretaria-Geral da Presidência da
República, defendeu a necessidade de cobrar um prazo para que o TSE autorize o
acompanhamento das eleições pelos três Poderes. Ainda segundo a denúncia, o
militar propõe o que ele chama de "uma alternativa se isso não acontecer
nesse prazo".
— Temos que ter um prazo para isso
acontecer por parte do TSE e uma previsão, de uma próxima reunião, de
alternativas para se isso não acontecer nesse prazo. Eles têm sido muito hábeis
de trocar espaço por tempo. Daqui a pouco estamos nas vésperas do primeiro
turno. E aí tem pressão internacional, a liberdade de ação do senhor e do
governo vai ser bem menor, a população vai começar a acreditar: “Não, então tá
tranquilo, o governo não tomou a medida mais radical, então tá,
tranquilo”.
9 - ‘É 64 de novo?’
Fernando ainda afirmou que tem que
“acontecer antes, como nós queremos”.
— É preciso ter um prazo (...) para
que uma alternativa seja tomada antes que aconteça (as eleições). No momento
que acontecer, o que vai… É 64 de novo? É uma junta de governo? É um governo
militar? É um atraso de tudo que se avançou no país? Isso que vai acontecer.
Tem que ser antes, tem que acontecer antes, como nós queremos, dentro de um
estado de normalidade. Mas é muito melhor assumir um pequeno risco de conturbar
o país pensando assim, para que aconteça antes, do que assumir um risco muito
maior da conturbação no 'the day after', né? Quando a fotografia lá for de quem
a fraude determinar.
10 - 'Essa reunião
tá sendo gravada?'
Durante a fala de Wagner Rosário, o
então chefe da Controladoria-Geral da União afirmou que o órgão não tinha
competência técnica para participar da Comissão de Transparência das Eleições
(CTE) e pediu apoio da Polícia Federal e das Forças Armadas num trabalho em
conjunto. Em certo momento, perguntou:
— Essa reunião está sendo gravada?
O então presidente Jair Bolsonaro
afirmou que pediu para gravar só sua fala. E houve o seguinte diálogo:
— O TCU já soltou o relatório dizendo
as urnas são seguras — disse Rosário.
— Qual foi o ministro desse
relatório? — respondeu Bolsonaro.
— Bruno Dantas — devolveu o titular
da CGU.
— Olhem pra minha cara, por favor.
Todo mundo olhou pra minha cara? Acho que não tem bobo aqui. Pô, mais claro do
que tá aí? Mais claro ... impossível! Eu acredito que essa proposta de cada um
da Comissão de Transparência Eleitoral tem que ... quem responde pela CGU vai,
quem responde pelas Forças Armadas aqui... é botar algo escrito, tá? Pedir à
OAB. A OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Uma nota conjunta com vocês,
com vocês todos, que até o presente momento dadas as condições de se definir a
lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser atingidas. E o pessoal
assina embaixo — disse Bolsonaro.
11 - 'Mostrar para
o mundo'
Em sua participação, o
ex-advogado-geral da União Bruno Bianco defendeu que Bolsonaro estava
"corretíssimo com relação à reunião com embaixadores".
— O senhor também está correto em
mostrar para o mundo, como chefe de Estado, a sua postura.
12 - 'Auditoria não
muda'
O encontro também teve pequenas
participações do deputado Filipe Barros, de Braga Netto e de Célio Faria
Junior.
O então candidato a vice-presidente
afirmou que havia "acabado de sair" uma notícia a respeito do
ministro Edson Fachin, que ocupava a presidência do TSE.
— Saiu uma notícia agora do Fachin
dizendo que a auditoria não muda resultado da eleição, não sei se o senhor viu
isso — informou Netto.
A notícia era de quatro dias antes,
do discurso de Fachin no encerramento do semestre da Corte Eleitoral.
— Auditar trata-se de auditar os
meios, instrumentos e procedimentos, e não veículo de uma preposição aberta
direcionada aprioristicamente a rejeitar o resultado das urnas que por ventura
retrate que a vontade do povo brasileiro é oposta aos interesses pessoais de um
ou de outro candidato — disse Fachin na ocasião.
A fala de Braga Netto foi comentada
por Célio Faria Junior durante a reunião:
— Foi aquilo que o presidente falou.
Depois que acontecer, auditoria não muda.
Já Filipe Barros foi o primeiro a
falar depois do presidente Bolsonaro. Ele acusou um servidor do Tribunal
Superior Eleitoral de demorar a entregar dados do sistema de votação depois de
um suposto ataque hacker.
Decifrando
labirintos https://bit.ly/3Ye45TD
Postado por Luciano Siqueira às 11:25 Nenhum comentário:
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