O assessor de movimentos sociais e escritor Frei Betto
afirmou que o narcotráfico e o uso de drogas pela população jovem que não tem
acesso a serviços básicos de educação e cultura são fruto de uma “política
equivocada do governo em relação aos direitos sociais.”
“Não basta assegurar renda e encher os bolsos, mas sobretudo
encher as cabeças das pessoas, com acesso a cultura, à arte, de modo que haja
protagonismo empreendedor”, disse à Rádio Brasil Atual.
O combate à fome, de acordo com ele, também não pode ser
encarado como política pontual, mas parte de um todo mais amplo de políticas
sociais. “A fome não se combate apenas com prato de comida, pois abre-se o oco
na barriga, o buraco negro da cidadania. É preciso evitar que haja pessoas
desprovidas dos bens essenciais da vida. Para que o direito à cidadania não
fique restrito aos discursos políticos, o combate a fome exige, no mínimo,
reforma agrária, distribuição de renda, e escolarização compulsória das
crianças.”
Segundo ele, se a maioria da população brasileira tivesse
acesso à terra, a melhores salários e a educação de qualidade, problemas graves
estariam resolvidos. “Se a juventude tivesse acesso ao lazer, ao esporte a
atividades culturais, não teríamos mortos-vivos destruídos pelo crack e outras
drogas.”
A juventude atual, de acordo com Frei Betto, encontra
dificuldades para encontrar-se em espaços que incentivem a formação cultural e
subjetiva de suas personalidades, e isso é fruto da opressão de ideias do
período da ditadura (1964-85), ressalta ele. “A violência do narcotráfico não é
causa, é fruto de uma violência maior de uma elite que manteve este país
amordaçado ao longo de 21 anos de ditadura, ceifando ideais e utopia. Esses
filhos e netos nascidos durante e após o regime não tiveram a educação para a
cidadania dos grêmios escolares e dos movimentos estudantis, cineclube, da
academia literária.”
Essa juventude, ainda de acordo com Frei Betto, é
prejudicada pelo tipo de programação televisiva hegemônico no país. “Os jovens
são embotados pelo entretenimento consumista, a publicidade hedonista,
encharcados de sites e programas que nada adicionam à formação de subjetividade
e ao aprimoramento de cultura. Na falta de quem indique, buscam o caminho do
absurdo, sustentado por narcotráfico”, comentou.
Fonte: Rede Brasil Atual
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