Por Renato Rovai, em seu blog:
É impressionante como os casos de corrupção têm dois pesos e
duas medidas na mídia tradicional paulista (leia-se Folha, UOL, Estadão, Veja,
Globo). Na recente máfia dos auditores fiscais, denunciada pelo prefeito de São
Paulo, Fernando Haddad, as atenções se voltaram contra o secretário de governo
Antonio Donato. A máfia que cobrava propina de construtoras em troca de
desconto no ISS (Imposto Sobre Serviço) atuava nas gestões Serra e Kassab, e
foi desvendada graças à investigação da atual prefeitura que criou a
Controladoria Geral do Município.
Estima-se que o esquema tenha causado prejuízo de até R$ 500
milhões aos cofres públicos. Mas a mídia voltou todas as atenções de sua
cobertura para Antonio Donato, que de forma decente pediu exoneração do cargo
para se defender sem causar desgaste à gestão Haddad. Nesta semana, Donato
volta à Câmara Municipal para exercer seu mandato de vereador, o mais votado do
PT.
Depois de blindar Serra e Kassab e derrubar um secretário de
Haddad, o caso dos auditores perdeu destaque, já não ocupa as manchetes dos
jornalões e seus portais. Aliás, foi emblemática a capa da Folha de S. Paulo de
8/11, que trazia como manchete “Prefeito sabia de tudo, diz fiscal preso, em
gravação”. A frase induzia o leitor a associar a denúncia ao prefeito de São
Paulo, que é Fernando Haddad, mas o fiscal estava se referindo a Kassab, o
ex-prefeito da cidade.
Agora a história se repete. Revelado mais um caso de
corrupção envolvendo tucanos, quem passou a ser cobrado por explicações é o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Na última quinta-feira (21), foi
divulgado um relatório entregue ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade), onde o ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer cita diversos
políticos do PSDB como beneficiários de propinas pagas pelo cartel dos trens em
São Paulo.
Rheinheimer afirma ter “uma série documentos que provam a
existência de um forte esquema de corrupção no Estado de São Paulo durante os
governos (Mário) Covas, Alckmin e (José) Serra, e que tinha como objetivo
principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM”. São citados no
relatório o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), os secretários estaduais
José Aníbal (Energia), deputado (PSDB-SP); e Jurandir Fernandes (Transportes
Metropolitanos) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico), do DEM.
Estima-se que o cartel dos trens de São Paulo e Distrito
Federal pode ter superfaturado os serviços em R$ 577 milhões.
Dois dias depois de revelada o suposto envolvimento com os
políticos, as manchetes dos jornais dizem que o ministro da Justiça do PT deve
explicações sobre a denúncia contra tucanos.
Mas não seriam os tucanos que deveriam dar explicações? Não
seria hora de exigir que se expliquem e cobrar o governador para afastas os
denunciados?
Qual nada. Quem deve explicações é o ministro da Dilma, que
é do PT. É ele que tem que explicar como políticos tucanos podem estar
envolvidos em denúncias de corrupção.
Em nota, o ministério da Justiça “esclarece que, tendo
recebido do deputado Simão Pedro denúncias, acompanhadas de documentos,
envolvendo a ocorrência de eventuais atos ilícitos na execução de obras do
metrô de São Paulo, encaminhou-as, no estrito cumprimento do dever legal, à
Policia Federal (PF) para as devidas investigações. O Ministério reafirma que a
documentação não foi encaminhada à PF pelo Conselho Administrativa de Defesa
Econômica (Cade)”.
A Polícia Federal é submentida ao ministério da Justiça,
assim como o Cade. Já o deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT-SE) é
autor de representações ao Ministério Público sobre o cartel. Vale lembrar que
é papel do parlamentar enquanto poder Legislativo investigar irregularidades na
aplicação de verbas públicas municipais e estaduais.
Vale a teoria do “domínio do fato” também neste caso. É
preciso criminalizar alguém do PT, mesmo que ele seja o investigador ou
denunciante. Foi assim com Donato. Está sendo agora com Simão Pedro e José
Eduardo Cardozo.
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