Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Ali Kamel, diretor da Globo, abriu processo contra o bravo
blogueiro Miguel do Rosário – de “O Cafezinho”. Por uma coincidência
lancinante, Miguel foi o blogueiro que denunciou a bilionária sonegação fiscal
de que a Globo é acusada.
Hum… Vamos por partes. Ali Kamel tem, evidentemente, o
direito inalienável de processar quem bem entender. E nós temos o dever de
mostrar: os processos movidos por Kamel são uma forma de intimidação e
vingança.
Passada a eleição de 2010, ele abriu processos quase
simultâneos contra 5 blogueiros: Cloaca, Nassif, Marco Aurélio Mello, Azenha e
este escrevinhador. Paulo Henrique Amorim já era processado pelo diretor da
Globo. Reparem: ele usou a Justiça numa tentativa de intimidar justamente
aqueles que, durante a campanha de 2010, haviam ajudado a mostrar o golpe
frustrado da “bolinha de papel”.
Os blogs desmontaram a farsa da bolinha. Kamel levara o
perito Molina – que já servira como perito em ações particulares movidas por
Kamel contra vizinhos dele, num prédio luxuoso do Leblon (sim, Kamel é dado a
processar até vizinhos!!!) – para o JN. A tentativa era dar uma força ao Serra,
na reta final da eleição. Aqui no Escrevinhador, você leu que até a Redação da
Globo sentiu vergonha da ação perpetrada por Kamel: “O dia em que até a Globo
vaiou Ali Kamel”.
Kamel perdeu em 2010. Como já perdera em 2006 (no episódio
do delegado Bruno, que terminou levando à minha demissão da Globo). E como já
perdera ao dizer que no Brasil “não há racismo”, ou ao atacar o Bolsa-Família.
Kamel foi desmoralizado pelos fatos. Esses não podem ser processados. Kamel foi
derrotado pelos blogs, e contra esses – sim – ele decidiu reagir. Na Justiça.
Não foi coincidência. Foi vingança.
No processo contra mim, Kamel alega que eu o teria acusado
(?!) de ser ator pornográfico. Francamente… Os meus textos estão todos aí,
basta uma leitura primária: jamais disse que Kamel era (ou deixava de ser) ator
pornográfico. O que fiz foi usar a aparente homonímia entre ele e um ator
pornográfico dos anos 80 (o filme “Solar das Taras Proibidas” é estrelado por
um tal de Ali Kamel) para criticar o jornalismo que ele comanda na Globo.
Disse, sim, que o jornalismo de Kamel é – muitas vezes –
pornográfico. Fui condenado por uma metáfora. Arnaldo Jabor, ex-cineasta que
trabalha para Kamel, usou a mesma metáfora (“Pornopolítica”) como título de um
livro – recheado de ataques a Lula. Jabor pode fazer metáforas. Blogueiro que
critica a Globo não pode. Ok. Fui condenado em primeira e segunda instâncias na
Justiça do Rio. Os amiguinhos de Kamel na “Folha” e “na “Veja” comemoraram.
Recorri a Brasília. Escrevi minha resposta aqui. E a vida seguiu…
O bravo blogueiro Miguel do Rosário, indignado com minha
condenação, escreveu em janeiro de 2013 (atentem para essa data) um duro texto
contra Kamel. Pois bem: o diretor da Globo levou dez meses para abrir o
processo contra as supostas ofensas cometidas por Miguel. Não foi uma (suposta)
ofensa que o fez babar na gravata imediatamente, nem ganir pela redação de
ódio. Não. Chamado de “sacripanta” por Miguel do Rosário, Kamel esperou. Levou
dez meses, talvez, para procurar no dicionário o significado de sacripanta.
Nesse meio tempo (entre o texto de Miguel do Rosário e a
abertura do processo Kamel x Miguel), que fato novo surgiu? Ora, Miguel foi o
autor da denúncia bombástica da sonegação fiscal que teria sido cometida pela
Globo. Foi Miguel quem publicou na internet as páginas originais do processo
(páginas que – logo depois, este Escrevinhador revelaria – haviam sido
surrupiadas de uma agência da Receita no Rio). Quem roubou o processo? A mando
de quem?
Nos meses seguintes, a denúncia de Miguel (titular do blog
“O Cafezinho”) espalhou-se pelas redes sociais, foi parar nas telas da TV
Record, e virou mote para manifestações na porta da Globo.
“Globo sonega”, diziam os cartazes na porta da Globo.
Roberto Requião, bravo senador, acaba de pedir explicações ao governo sobre a
dívida da Globo. Dívida bilionária. E tudo começou lá, com a denúncia de “O
Cafezinho”. Então, vocês imaginem o ódio da família Marinho contra o blogueiro
Miguel.
Dia desses, encontrei com um velho amigo, funcionário da
Globo, num evento em São Paulo. Por coincidência, Miguel do Rosário estava
presente. Apresentei os dois: “fulano, esse é o Miguel do Rosário, blogueiro no
Rio. Miguel, esse é o fulano, que trabalha na Globo”. Miguel riu e disse a meu
amigo global: “bem, acho que lá na empresa onde você trabalha não devem gostar
muito de mim”. Todos sorrimos, discretamente.
Perguntei ao amigo funcionário da Globo (mas que não é
nenhum bozó, bem ao contrário) qual havia sido a reação, internamente, quando
Miguel revelou o episódio da sonegação. E ele: “Rodrigo, foi uma bomba; você
não tem ideia, uma bomba”.
Quem lançou a bomba foi Miguel do Rosário. Bomba contra a
Globo, baseada em fatos.
Três meses depois da denúncia bombástica contra a Globo,
Kamel resolve processar Miguel – por um texto escrito em janeiro.
Pura coincidência.
Que nome dar a isso? Vingança? Retaliação judicial?
O Miguel do Rosário respondeu ao processo de Kamel com a
firmeza que se esperava. Caracterizou a ação como “ataque sórdido”; e disse
mais:
“ele [Kamel] simplesmente pretende destruir o blog que
noticiou um dos maiores crimes de sonegação da história da mídia brasileira,
cometido pela empresa para a qual ele mesmo trabalha, porque o blogueiro lhe
chamou de “sacripanta reacionário” e fez críticas à sua empresa?
Tenho esperança que o Judiciário não vai deixar barato esse
ataque sórdido à liberdade de expressão, ainda mais grave porque cometido por
uma pessoa que dirige uma concessão pública confessadamente golpista e, como
tal, com obrigação de ser humilde e tolerante no trato com aquelas mesmas vozes
que ela ajudou a calar nos anos de chumbo.
O advogado de Ali Kamel, João Carlos Miranda Garcia de
Souza, é também advogado da Rede Globo. É pago, portanto, com recursos oriundos
de uma concessão pública que se consolidou durante um regime totalitário, e com
apoio de um governo estrangeiro (EUA).”
Aqui, você lê a resposta do Miguel, na íntegra.
O Miguel tem força moral, e mostrou isso na resposta ao Ali
Kamel. Mas precisa da nossa solidariedade. O Miguel não está enfrentando o Ali
Kamel – que é uma espécie de capataz da família Marinho. Está enfrentando os
mais poderosos barões da imprensa da América do Sul, de todos os tempos.
Os bilionários irmãos Marinho não aceitam ser desafiados por
ninguém. Usam seus prepostos para dar o troco, sempre.
Por isso, dizemos bem alto: Miguel, conte com a gente!
E prepare-se para a dura batalha: na justiça do Rio, a Globo
joga em casa.
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