Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Se Dante Alighieri fosse vivo, poderia reescrever a Divina
Comédia trocando o Paraíso pelo PSDB. É lá que os políticos descansam felizes,
intocáveis, seguros, ao lado do Deus-mídia.
A coisa funciona assim. Se um assessor petista é pego com
dinheiro na cueca, todas as fúrias do mundo se desatam contra o pobre coitado.
O próprio presidente do partido é forçado a renunciar, tamanha a pressão. A
coisa não pára aí. O presidente do partido é achincalhado por anos na imprensa,
e por fim, condenado e enviado a um presídio, onde é humilhado por juízes e
juntas médicas, os quais desdenham de seus graves problemas cardíacos. Oito
anos depois, lá está o político petista, num apartamentozinho de 50 metros
quadrados, em prisão domiciliar, com a mídia ainda tentando lhe destruir a
moral dia e noite.
Quando o funcionário tem alguma ligação com o PSDB, contudo,
podem encontrar, em sua casa, plutônio enriquecido com capacidade para destruir
metade de São Paulo, junto com uma mala contendo meio bilhão de dólares, um
monte de cartas assinadas por comandantes da Al Qaeda. A mídia e a polícia irão
concluir que o funcionário foi vítima de algum complô, e que, sobretudo, não há
envolvimento nenhum do partido na história.
De certa forma, tem sido assim com o trensalão. A quantidade
de provas, confissões, testemunhas, documentos, auditorias, investigações
internacionais, emails, é impressionante. Todas confirmam o envolvimento de
autoridades de governos tucanos nas mutretas (que alguns chamam cartel) das
empresas que forneciam trens e acessórios ao estado de São Paulo. Esta semana,
a Istoé aparece com novas revelações. A grande mídia, no entanto, permaneceu
muda. Quer dizer, no domingo, a Folha atacou a… testemunha e hoje a única
notícia no jornal O Globo é que a “comissão de ética” pediu explicações ao
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que cometeu o “crime” de encaminhar
uma denúncia à Polícia Federal.
Para completar o quadro de beatitude tucana, um delegado da
Polícia Federal, Leonardo Damaceno, afirmou ontem que a família Perrella não
tem ligações com os 445 quilos de cocaína encontrados num helicóptero, há
algumas semanas.
Ora, essa. A droga estava em helicóptero do deputado
estadual Gustavo Perrela, filho do senador Zezé Perrella, ambos grandes aliados
de Aécio Neves. Não apenas aliados. A empresa deles, Limeira Agropecuária,
ganhou três contratos sem licitação do governo de Minas Gerais, durante a
gestão de Aécio.
O piloto do helicóptero, preso durante a apreensão da droga,
era assessor de Gustavo Perrella – além de funcionário da Limeira Agropecuária.
O delegado, nem o jornal, não informaram a quem pertence a
cocaína. E tudo fica por isso mesmo. Enquanto isso, a Folha de São Paulo
comemora que um tetraplégico preso na Papuda, que fora flagrado em casa com 60
gramas de maconha, teve sua prisão domiciliar negada, transformando isso em
mais um fato para humilhar e prejudicar José Genoíno – afinal, ele não é
tetraplégico e pleiteia prisão domiciliar.
É assim: um tetraplégico pode ser preso por causa de 60
gramas de maconha. E tem prisão domiciliar negada!
Quando é um político ligado ao PSDB, nem meia tonelada de
cocaína bastam para fazer um escândalo.
Há rumores (bem fundamentados!) de que uma grande emissora
de TV recebeu mais de R$ 600 milhões do Banco Rural (o mesmo cujos empréstimos
ao PT motivaram a prisão de Genoíno), sendo que este dinheiro veio de paraíso
fiscal, mas aí ninguém faz nada.
Genoíno é condenado sem que haja qualquer prova contra ele
de que “comprou” deputados. Tudo que ele fez foi assinar empréstimos junto ao
Banco Rural, devidamente quitados, para pagar dívidas do PT.
Joaquim Barbosa é nosso herói!
A imprensa, tão feroz e tão investigativa quando se trata de
qualquer coisa ligada ao PT, dessa vez não mostrou nenhum interesse. Ninguém
pesquisou a vida do piloto. Ninguém investigou a vida de Gustavo, nem do
senador. Todos foram comoventemente blindados na mídia.
Teremos que repetir uma piada que vem correndo as redes: o
helicóptero era dos Perrella; o piloto era duplamente empregado dos Perrela
(funcionário da Limeira e assessor do deputado); o combustível era abastecido
com verba pública dos Perrella (pai e filho usaram dinheiro parlamentar para
isso); mas a droga era do… Espírito Santo!
Francamente, eu estou ficando com pena da família Perrella.
Afinal, isso podia acontecer com qualquer um, né? A gente compra um helicóptero
e, de repente, ele aparece com meia tonelada de pó. Que culpa tem o dono se
isso acontece? Pó e helicóptero são dois elementos que se atraem
inexoravelmente. É difícil, quase impossível, evitar que essa união se realize.
0 comentários :
Postar um comentário