Araújo, ex- brizolista e ex-marido da Dilma: hoje, ela não
tem adversário
O Conversa Afiada reproduz entrevista de Carlos Franklin
Paixão Araújo, ex-marido da Presidenta Dilma e ex-brizolista, dada ao Globo:
‘A crítica de que o PT perdeu conteúdo ideológico é correta’
Carlos Franklin Paixão Araújo, ex-marido da presidente
Dilma, mantém a paixão pela política, e diz que o governo hoje não tem
adversários
Ex-preso político, o advogado Carlos Franklin Paixão Araújo,
de 76 anos, foi casado por mais de 20 com a presidente Dilma, de quem ainda é
próximo. De saúde frágil e com um enfisema pulmonar inoperável, mantém a paixão
pela política. E, apesar da visão crítica sobre o PT, ele diz que o governo
hoje não tem adversários.
O senhor acredita que mensalão pode atrapalhar a reeleição
da presidente?
Acho que não. A crítica que se faz ao PT, de que o partido
perdeu seu conteúdo ideológico, é absolutamente correta. Mas, mesmo que o tenha
perdido, é um partido que sempre cresce politicamente. Essa é uma contradição
interessante da política brasileira: a cada eleição, apesar de tudo, o PT faz
mais e mais votos.
Por quê?
Porque o PT, de uma forma ou de outra, corresponde às
aspirações das camadas brasileiras mais necessitadas. É simples assim. E também
tem uma política que consegue agregar setores de várias classes sociais, desde
a classe média até as elites. Parte das elites apoia o PT, compreende a sua
política.
Isso é mérito de quem?
Da intuição e, principalmente, do aprendizado do Lula.
Quando ele fez a “Carta aos Brasileiros”, em 2002, precisou ver como é que
faria tudo aquilo que estava escrito e prometido. Então eu acho que, nesse
sentido, o PT fez as alianças corretas. É impossível desenvolver o capitalismo
brasileiro sem alianças com setores capitalistas, como temos. As tormentas que
ocorreram, o PT soube assimilá-las perfeitamente. Veio a tormenta do mensalão,
e o Lula foi reeleito. Veio a outra onda do mensalão agora, com as prisões, e a
Dilma está crescendo. Como explicar isso? A mídia colabora muito com o PT.
O PT discorda.
Mas está sendo infantil ao dizer isso. Porque é a mídia que
elege o PT, ao ser tão radical e sectária como tem sido. A mídia fala durante
seis meses que o Brasil irá à falência. Não foi. Depois o Brasil não exporta
mais nada e tal. Ou então esgotou o mercado interno. Não acontece nada. Agora é
inflação. De novo não acontece nada. A mídia esgota todos os temas e não
acontece nada. O povo brasileiro, com sua sabedoria e sua esperteza, aproveita
o futebol e as novelas que passam de graça na TV, mas para o resto não dá bola.
O senhor acredita que a presidente Dilma tem adversário?
Por enquanto, não. Claro, daqui a pouco acontece um acidente
de percurso e tudo muda. Mas dadas as condições atuais, não tem adversário. O
Eduardo Campos, a meu ver, cometeu um erro tremendo, se antecipou ao debate. O
Lula tem essa visão de que o PT precisará passar o poder para alguém, desde que
seja do mesmo viés ideológico. Deveria ser o Campos, naturalmente, mas ele
precipitou as coisas. Não tem como se recuperar. O Aécio Neves simplesmente não
existe.
E Marina Silva?
Ao não ter validado seu partido para concorrer, é natural
que ela tenha que apoiar alguém. Mas trata-se de uma contradição ambulante: ela
tem um partido do qual é presidente, enquanto a secretária-geral é a dona do Itaú
(Neca Setúbal) e o vice-presidente é dono da Natura (Guilherme Leal). Mas que
partido é esse? E assim mesmo ela é anticapitalista e evangélica, uma coisa
gozadíssima.
A oposição não tem propostas?
O problema da oposição é que eles brigam demais entre si,
nunca criam uma aliança sólida. Se houvesse essa aliança, poderia ser uma força
expressiva. Mas eles não conseguem porque, na minha opinião, o PT teve a
sabedoria de pegar parte das elites para ficar com ele. Vários partidos, mesmo
pequenos, representam essa parcela que apoia o PT. São frações das elites? São.
São frações do capital? São. Mas são frações significativas.
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