Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:
Quem vai ganhar a final no Maracanã em julho de 2014? Dilma
se reelegerá ou outro postulante ficará com a faixa presidencial? Não, a
pergunta que mais ouvi em conversas com colegas jornalistas de redações de São
Paulo, Rio e Brasília nos últimos meses não foram essas, mas sim qual será o
tamanho e o impacto das manifestações que devem acontecer aproveitando a Copa
do Mundo e as eleições gerais?
O tamanho de alguns dos grandes protestos de junho, como o
que juntou mais de 250 mil pessoas na segunda (17), em São Paulo, é resultado
de uma catarse, fomentada por uma série de fatores – das demandas por
mobilidade urbana, passando pela insatisfação com a violência policial, a
exigência de liberdade de expressão em espaços públicos, o desejo de
participação política dos mais jovens e a crítica às autoridades políticas,
econômicas e midiáticas, sejam eles quem forem, como já discutimos à exaustão
neste espaço.
Mas como um mesmo rio não passa duas vezes pelo mesmo lugar,
é difícil reproduzir os mesmos elementos que trouxeram uma enxurrada de gente
para as ruas de cidades em todo o país. E, mesmo reproduzidos, imaginar que
eles irão influenciar da mesma forma um tecido social que não tem as mesmas
características exatamente porque já passou por junho e todo o seu rescaldo
também é complicado.
Manifestações ocorrerão certamente – basta analisar os
debates que estão ocorrendo nas redes, em organizações e movimentos sociais,
partidos políticos, redações, enfim, com finalidades sociais ou eleitorais. O
tamanho delas é que é a grande incógnita.
Se eu tivesse que apostar, diria que uma grande massa com
mais de 50 mil almas em um só lugar, como aquela do 17 de junho não se repetirá
no ano que vem – o que não significa que os protestos não poderão ser fortes,
vigorosos e contundentes. Mas a menos que algum novo elemento se apresente, seu
tamanho e frequência, fruto da explosão catártica dita acima, será menor. Uma
faísca, com o mesmo impacto das cacetadas da PM transmitidas pela internet e
televisão.
Como a morte de um grupo de manifestantes (batendo na
madeira três vezes e torcendo para que isso não aconteça, é claro) pelas mãos
de agentes do Estado – o que, considerando a truculência de determinados
setores de nossa força policial e da sua forma, muitas vezes, criminosa de atuar
nesses momentos, não é de se descartar. Isso sem contar que policiais
estaduais, Força Nacional e, muito provavelmente, o Exército irão ter presença
ostensiva para garantir que tudo fique na mais completa ordem. O que pode frear
ou incendiar manifestantes.
Ou talvez a completa incapacidade de análise de conjuntura e
de gestão de crises por parte de governos municipais, estaduais e federal.
Afinal de contas, erra quem acha que o processo iniciado em junho acabou. Pelo
contrário, ele foi responsável por elevar no imaginário popular o status da rua
como local de protestos e cobranças públicas. Novos manifestantes fizeram sua
incursão e gostaram. E os antigos, que sempre estiveram lá, ganharam com a
diminuição (ainda que pequena) do preconceito contra eles.
Dependendo da incompetência, ignorância, má fé ou
prepotência de gestores que acreditam piamente ter controlado a situação ou que
a população esqueceu das pautas reivindicadas, as condições para uma nova
catarse que junte mais de 50 mil, por mais difícil que isso seja, podem voltar.
Às vezes, a faísca reside, na teimosia de gestores em querer aumentar novamente
o preço da tarifa de ônibus e metrô, por exemplo.
Vale ressaltar, porém, que alguns milhões foram às ruas em
todo o país, mas eles representam menos de 5% da população nacional. Isso não
tira um centímetro da legitimidade do que aconteceu, até porque muita gente que
não foi às ruas apoiou os atos. Mas isso põe em dúvida como isso será recebido.
Pois é claro que milhares de pessoas podem parar uma cidade
em dias de jogos, mas a pergunta é como o restante dos 95% irão reagir se o
Brasil estiver em uma final no Coliseu, quer dizer, no Maracanã. Nem todo mundo
está conectado e é informado pela rede ou possui fontes alternativas de
informação. E cada um reage à propaganda de forma diferente, às vezes de forma
crítica, mas na maior parte do tempo passivamente.
Nesse ponto de vista, para entender o que vai acontecer,
adoraria receber um DVD com os comerciais que serão veiculados pelas marcas
patrocinadoras durante a Copa do Mundo e os vídeos patrióticos produzidos pela
Globo, rede que detém os direitos de transmissão.
Creio que essas peças terão maior influência sobre a
formação do espírito da massa no ano que vem do que a maior parte das matérias
produzidas por alguns jornalistas tentando induzir ou murchar essas
manifestações.
Bem, tudo isso é especulação. Certo mesmo é que Fuleco é um
péssimo nome para mascote.
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