Por Dedé Rodrigues.


Diz um especialista citado por David Fialkow Sobrinho que “os EUA estão diante do risco de uma
“estagnação secular” é o que prognosticou Lawrence Summers, proeminente
ex-Secretário do Tesouro dos EUA (equivalente a Ministro da Fazenda), em
Conferencia de Pesquisa do FMI, em 8 de novembro de 2013.
E ele continua dizendo “Resumida e grosseiramente, seguem
algumas linhas do raciocínio. Segundo Summeres, a crise de 2007/2008 foi muito
bem e rapidamente abordada pelas autoridades, mas isso não foi suficiente para
permitir a retomada do ritmo da economia norte-americana, que segue
arrastando-se.
Ele compara a curva do PIB dos EUA no pós-crise com a do PIB do
Japão nos anos 90, identificando semelhança de comportamento, ao que se referiu
como sendo “estagnação secular”, usando expressão de seu ex-professor Stanley
Fischer para designar um conjunto de ideais sobre um longo período de ritmo
lento. Acrescenta que, antes da crise, havia algo estranho na economia dos EUA,
que nos últimos trinta anos parecia crescer apenas puxada por bolhas, o que ele
demonstra com gráfico mostrando que, desde o governo Reagan, sucederam-se três
fases de crescimento as quais coincidiram com a existência de bolhas. Essa
bolhas foram geradas por juros baixos, enormes facilidades e quantias de
crédito, que foram empregados para fazer a economia crescer. Mas,
paradoxalmente, tal frouxidão monetária não redundou no que seria usual segundo
a teoria hegemônica, uma vez que não provocou inflação, nem excessivo nível de
empregoou de utilização da capacidade instalada, o que impediu acionar os
alarmes de praxe.
A conclusão a que Lawrence chega é a de que na economia
norte-americana a taxa de juros neutra é significativamente negativa. Taxa de
juros neutra ou natural é aquela que equilibra os elementos macroeconômicos,
ensejando crescimento.
Em suma, na ausência de bolhas, a taxa de juros natural é
negativa, ou seja, para retomar o crescimento os EUA precisariam de juros
negativos, da ordem de -2 a -3%. Mas isso é impossível pois, estando em zero
por cento, a taxa não pode descer além disso (zero lower bound), embora na
prática seja negativa frente a uma inflação anual de 1,2%, mas mesmo assim
insuficiente.
Afora os elogios sem limites ao auxílio de trilhões de
dólares aos bancos que o governo dos EUA deu, e outras demonstrações de
conservadorismo, há uma série de implicações e comentários possíveis acerca da
fala, que serão feitos em outro artigo. Por hora, destaquem-se duas.
A primeira é a noção do cenário de longo prazo que aponta
para a manutenção do declínio relativo da economia dos EUA. Relativo porque há aspectos
que lhe são favoráveis, como o petróleo de xisto em abundancia, o fato de deter
algumas das principais empresas de tecnologia (Google, Apple, Microsoft,
Facebook, etc.), ser a principal praça financeira do mundo, etc.
Mas, os problemas estruturais apontados por Lawrence vão no
rumo da lentidão, o que, em perspectiva, é perda de terreno vis-a-vis às
economias emergentes que crescem em ritmo superior.
É interessante registrar que pensadores de ideologias tão
diversas e mesmo antagônicas ao marxismo cheguem a conclusões que a esquerda já
havia posto. Exceto, em parte, o Krugman, cujas análises mostraram viés crítico
ao mainstream, Summers e Wolf são figuras proeminentes do pensamento econômico
conservador mundial. É verdade que chegam por outros meios, conceitos e
argumentos e mais verdade ainda que não vão tão fundo nas causas e que suas
soluções visam tão-somente salvar o capitalismo em geral e o norte-americano em
particular. Mas, sua confluência ao tema evidencia que os fenômenos sobre os
quais se debruçam são reais e exigem interpretação e ação.
A segunda é a possibilidade de tal diagnóstico dar margem a
novas e mais drásticas medidas, no desespero para sair do “buraco secular”.
Lawrence não mencionou soluções, mas os comentaristas sim. Entre elas, taxar os
depósitos dos correntistas para induzi-los a retirar seu dinheiro dos bancos e,
na sequência, para evitar que o levem para debaixo do colchão, cotar o valor do
dinheiro em moeda abaixo do valor do dinheiro virtual, ou seja, trata-se de
“produzir” ao público uma taxa de juros negativa, para que assim invistam na
economia real. Em todas estas formas, a vítima é o trabalhador, que não tem
alternativas imediatas a não ser vender sua força de trabalho, piorando a
angústia de quem vive assustado com o desemprego, o emprego precário, a baixa
remuneração, a perda de direitos sociais, o risco de aposentadoria
sub-remunerada. O declínio da superpotência ameaça com penalizações adicionais
aos trabalhadores que lá habitam.
Em terceiro, de passagem ele afirma que em tal situação “a
macroeconomia convencional nos deixa com um problema muito sério...”. Aqui
residem elementos que podem começar a pôr em cheque importantes componentes da
economia mainstream, tradicional, como se a concebeu até agora, que terão implicações
no pensamento, no ensino e na pesquisa.
(*) David Fialkow Sobrinho é economista (mestre pela UFRGS),
membro da assessoria do Governador Tarso Genro e do Comitê Estadual do PcdoB/RS
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