Por Eduardo Guimarães:
Houve repercussão aquém da desejável de uma das notícias
mais estarrecedoras dos últimos tempos. Uma ONG britânica teve uma percepção
brilhante, fez uma pesquisa para confirmá-la e, assim, produziu um relatório
singelamente objetivo, o qual mostrou que 1% dos terráqueos concentram 46% da
riqueza do planeta.
A ONG em tela é a Oxfam International. Segundo a Wikipedia,
trata-se de “Uma confederação de 13 organizações e mais de 3000 parceiros que
atua em mais de 100 países na busca de soluções para o problema da pobreza e da
injustiça através de campanhas, programas de desenvolvimento e ações
emergenciais”.
O estudo chega a causar pânico quando se leva em conta que a
população mundial chegou a 7,2 bilhões de pessoas em meados do ano passado e
que 1% desse montante corresponde a 72 milhões de pessoas. Ora, se riqueza
mundial atingiu em 2013 US$ 241 trilhões, descobre-se que 72 milhões de pessoas
acumulam 46% dessa riqueza, ou US$ 110 trilhões.
Os 7 bilhões e 128 milhões de terráqueos restantes,
portanto, têm que se virar com os US$ 131 trilhões igualmente restantes.
Se a riqueza total da humanidade fosse dividida de forma
equânime pelos 7,2 bilhões de seres humanos, cada um teria um patrimônio de US$
33.472, ou quase R$ 80 mil. A humanidade, nesse caso, viveria uma era de paz e
prosperidade. Não haveria guerras, fome, violência e criminalidade, conquanto
todos se conformassem em ter o suficiente para viver dignamente.
A concentração de quase metade da riqueza do mundo nas mãos
de uma parcela tão infimamente pequena da humanidade tem como subproduto
conflitos entre nações que lutam contra os efeitos deletérios da miséria e que
buscam minimizar tais efeitos tomando recursos de outras nações.
Internamente, os países veem se reproduzir o mesmo processo
de luta por recursos financeiros que conflagra nações. Da pobreza nasce a
revolta e desta a opção por conseguir com a violência aquilo que não pode ser
conseguido com o trabalho, pois as condições de disputar bons cargos no mercado
são absurdamente desiguais.
Tudo o que você leu até aqui serve para chegar ao ponto
central deste texto.
Como a divisão dos 54% da riqueza mundial por 99% da
humanidade tampouco é equânime, a desigualdade vai se reproduzindo nos outros
estratos. Aqueles que têm o suficiente para viver e até para alguns luxos não
querem saber do 1% que causa tamanha conflagração por recursos entre os 99%;
preferem achar que fazem parte daquele contingente microscópico.
É comum, pois, ver a tal “classe média”, que consegue
sobreviver com dignidade, ficar contra a distribuição de renda porque acha que
esta, preferencialmente, dar-se-ia através da perda de recursos desse setor
médio, que não vive na miséria mas sofre os efeitos da riqueza abjeta do 1%
mais rico.
Contudo, as classes médias – sobretudo as classes
médias-altas – não percebem que ao combaterem a ideia de distribuição de renda
não estão ajudando a si, mas ao 1% que gera a conflagração social que atinge os
que têm mais do que a maioria, mas que têm pouco diante dos que têm quase tudo
só para si.
A grande luta política e ideológica que a humanidade deve
travar nos dias contemporâneos, portanto, é a de convencer os setores que
conseguem sobreviver com dignidade a que também se unam aos que não conseguem
para combater esse 1% que detém uma quantidade de recursos que se fossem melhor
distribuídos fariam do mundo um lugar muito melhor.
Como convencer os setores de renda média das sociedades de
que os seus inimigos não são os mais pobres, mas, sim, o contingente
microscópico que concentra aqueles US$ 110 trilhões? Parece impossível. O 1% em
questão controla as comunicações, as igrejas e até o ensino escolar, de forma
que vai doutrinando os 99% desde a infância.
A situação que mantém o mundo e as nações
conflagradas, portanto, deriva exclusivamente do controle da comunicação de
massas, que, se fosse bem usada, despertaria os que acreditam que integram o 1%
mais rico da humanidade, mas que pertencem aos 99% mais pobres sem jamais se
darem conta
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