Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
“Acho que já chegou a hora de sair”. O anúncio, oficioso,
não poderia ter sido publicado em local mais apropriado: as páginas mal
cheirosas de “Veja”.
Joaquim Barbosa não convocou uma entrevista coletiva, não
lançou uma nota oficial por sua assessoria no STF. Não. Fez vazar a informação
através da revista que é o núcleo duro (e obtuso) do conservadorismo no Brasil:
criticado por juristas das mais variadas extrações, o homem que avacalhou as
instituições jurídicas brasileiras corre da verdade para lançar-se às urnas.
Sob os auspícios da Globo e da Veja, Barbosa deve deixar o STF nos próximos
meses.
Desde novembro, registrei nesse blog minha avaliação: estava lançada pela direita midiática a “Operação Joaquim Barbosa“.
As prisões no 15 de novembro, e antes disso a estranha viagem aos EUA
(Barbosa foi visitar e conversar com quem? A candidatura dele tem quais
conexões com os EUA? Por que pediu que prendessem, até, uma repórter que ousou se aproximar da universidade onde daria “palestra”?), o
discurso moralista rastaquera – mas tão a gosto de certa classe média
brasileira… Tudo isso era o prenúncio de uma candidatura que não parece
improvisada. Está sendo construída nos dutos mal iluminados que ligam o
Jardim Botânico à Marginal Pinheiros.
Depois da capa anterior da “Veja” (Civilização e Barbárie), explorando
de forma canhestra a foto do jovem negro preso pelo pescoço, eu
reafirmara: ali estava o programa e a pauta que embalariam Barbosa: o candidato da “ordem“, do falso moralismo.
Na última semana, Barbosa aprofundou a agenda de candidato:
desfez decisões de seus pares no STF, mostrou-se como o “anti-PT” extremado.
Barbosa – como a lei permite -pode sair do STF e filiar-se a um partido ali por
abril ou maio. A filiação precisa ser feita (PPS, PTN, PRTB, ou qualquer outro
nanico disposto à aventura?). Mas ele não precisa lançar-se candidato a
presidente imediatamente. Pode esperar a Copa, avaliar se a agenda da “ordem”
(que depende do “caos” nas ruas) pode se aprofundar.
Se a conjuntura (e a mão de gato de quem, desde os anos 60,
quer colocar o Brasil de joelhos – como ocorre na Ucrânia, na Venezuela)
ajudar, ele sai candidato a presidente. Tira votos – sim – de Aécio e de
Eduardo Campos. Embola o jogo na oposição. Mas pode, no limite, tirar votos
também de Dilma – entre setores mais afetos ao moralismo, na “nova classe
média”.
Sem Barbosa, Aécio é candidato para 20% ou 25% dos votos.
Eduardo pode chegar a 15%. A oposição precisa de outro nome para garantir
segundo turno. Barbosa pode reduzir a votação de Aécio e Eduardo. Sim. Para a
direita midiática, o que interessa é que ele tenha algo em torno de 15%, e que
esse montante (somado a Aécio e Eduardo) leve a eleição pro segundo turno.
Se Barbosa sair mesmo do Supremo, qualquer movimento no STF
daqui até a eleição – procurando reverter as decisões atropeladas e
destemperadas por ele adotadas – lançará água no moinho da candidatura
aventureira.
Barbosa – se vingar a Operação capitaneada pela direita
midiática - será o candidato do anti-petismo, da “ordem”, do moralismo
rastaquera.
Não é à toa que essa agenda tem adotado como símbolo a
vassoura verde-amarela. É o janismo reciclado. Barbosa: o jeito é Janio!
Se a pauta da “ordem” não vingar, Barbosa sai candidato ao
Senado. Ganha uma tribuna para defender, no Congresso, seus malfeitos
jurídicos.
Mas há um detalhe: o feitiço pode virar contra o feiticeiro…
Barbosa está sendo lançado para garantir um segundo turno em que Aécio possa
enfrentar Dilma. Mas quem garante que ele não atropele tucanos e demos e vire -
sozinho – um salvador da pátria? Perigoso, irascível…
A “Veja” já inventou Collor. Sorrateiramente, começa a
inventar um novo “salvador”. Haja estômago para aguentar o janismo do século
XXI.
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