Por Altamiro Borges
Na semana passada, o IBGE divulgou sua Pesquisa Mensal de
Emprego (PME) que mostra que a taxa média de desocupação em 2013 foi de 5,4%, o
menor índice da série iniciada pelo instituto em 2003. Em 2012, a média foi de
5,5%. A notícia positiva, num mundo que afunda na crise e no desemprego, não
foi manchete dos jornalões e revistonas e nem virou motivo de comentários
elogiosos nos telejornais. Pelo contrário. Os tais analistas de mercado – nome
fictício dos comentaristas a soldo dos banqueiros – fizeram de tudo para
relativizar o menor índice de desemprego da história recente do país. A notícia
foi dada sempre com ressalvas – mais, porém, todavia, contudo.
A presidenta Dilma Rousseff, que finalmente parece que
resolveu mexer no setor de comunicação do seu governo, até festejou os números
da PME em seu Twitter na quinta-feira (30): “O IBGE divulgou hoje que a taxa de
desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país em 2013 foi a menor
da história”. Em outro post, ela comentou: “É o retrato de um país que vem
criando oportunidades de emprego. Os números são impressionantes quando
analisados ao longo do tempo” - desde 2003. Ela ressaltou o aumento do nível de
ocupação dos jovens (de 53,8% para 59,2%), da população negra (de 48,5% para
53,5%) e dos trabalhadores com carteira de trabalho assinada (de 39,7% para
50,3%).
Estes e outros dados da pesquisa do IBGE simplesmente foram
ofuscados pela mídia hegemônica, que envenena milhões de brasileiros. Para a
maioria da sociedade, a informação bombardeada diariamente é que o Brasil
caminha para o desfiladeiro. No final de 2013, a velha imprensa garantiu que o
país teria seu pior Natal dos últimos anos e que o desemprego iria explodir.
Nada disso ocorreu. As vendas natalinas aumentaram quase 3% e o taxa de desemprego
em dezembro caiu para 4,3% da população economicamente ativa. Já a renda do
trabalhador superou em 3,2% a média registrada em dezembro de 2012. Foram os
melhores resultados desde o início da série histórica medida pelo IBGE.
A mídia oposicionista, com seus colunistas militantes
regiamente pagos, não faz autocrítica de suas mentiras e erros. E, num ano de
eleições, ela tende a ser ainda mais catastrofista. Os urubólogos de plantão
ficarão ainda mais venenosos. Em recente coluna na Folha tucana, Suzana Singer,
voltou a alertar o jornal sobre o seu “pessimismo injustificado”. A coluna da
ombudswoman é corajosa e meritória, mas não terá maiores efeitos, ainda mais no
tumultuado ano de 2014. Mesmo assim, vale reproduzir sua crítica, sempre feita
com luvas de pelica e compreensível cautela:
*****
Nuvens negras
Economistas avaliam se a cobertura da Folha está dominada
por uma onda de pessimismo injustificado
Virou hit na internet a entrevista de Luiza Trajano, dona do
Magazine Luiza, ao programa "Manhattan Connection", especialmente o
trecho em que ela aponta um pessimismo excessivo sobre o estado da economia.
"Nós, brasileiros, olhamos bem o lado do copo meio vazio, e a imprensa
coloca esse lado. A gente nunca vê o copo meio cheio", disse.
Quem passa os olhos pelos títulos da Folha pode ficar com a
mesma impressão que a empresária. "Comércio tem o pior resultado no Natal
em 11 anos" (27/12), "61 milhões estão fora da força de
trabalho" (18/1), "Brasil cria 1,1 milhão de empregos em 2013, pior
saldo em dez anos" (22/1), "Arrecadação federal sobe, mas fica aquém
da meta oficial" (23/1).
Todas as afirmações estão corretas, mas é possível
contra-argumentar em cada caso. O resultado do Natal foi positivo, com um
crescimento de 2,7% em relação a 2012. A nova pesquisa sobre o desemprego
mostrou um grande contingente que não trabalha, mas em qualquer país existe
muita gente fora da força de trabalho. Criar mais de um milhão de vagas com um
crescimento de apenas 2% não é desprezível, assim como é notável aumentar a arrecadação,
mesmo com tantas desonerações.
A ênfase em dados negativos é uma característica geral da
Folha. "O jornal tem uma predileção pelo mal-estar, pelo desconforto. Em
política, é até mais acentuado do que em Mercado'", definiu o economista
Eduardo Giannetti da Fonseca.
Avaliar como exagerada a cobertura depende de como se
enxerga a situação do país. Perguntei a 11 economistas, entre acadêmicos e
profissionais do mercado, se "a Folha está pessimista demais na área
econômica": cinco responderam enfaticamente que "não" e seis
disseram que "sim", mas que o jornal apenas reflete o mau humor do
mercado. Ninguém apontou um viés intencional na cobertura.
"Estamos há três anos com pouco crescimento e inflação
resistente, apesar de manipulada, com grande dificuldade em aumentar o
investimento. Os números fiscais estão perdendo credibilidade e há muita tensão
no mercado de câmbio", explicou o ex-presidente do Banco Central, Armínio
Fraga, um dos que, como Giannetti, não veem exagero nas tintas da Folha.
Já Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista-chefe da Quest
Investimentos e colunista da Folha, acha que há negativismo demais desde o
final de 2013, num processo em que mídia e mercado financeiro se alimentam.
"Como a imprensa faz cobertura quase diária de mercado, ela reflete o
estado de ânimo dos principais agentes econômicos e acaba criando condições
para mais pessimismo", diz.
Luiz Fernando Figueiredo, sócio-diretor da Mauá Sekular
Investimentos, não vê esse tipo de influência da imprensa. "Investidores
nacionais e estrangeiros têm dado sinais de maior desconfiança. Houve forte
desvalorização dos ativos brasileiros. É uma visão pragmática do que está
acontecendo", diz.
Marcos Lisboa, vice-presidente do Insper, lembra que a
política econômica mudou desde o segundo governo Lula, com a adoção de um
projeto desenvolvimentista, que não teria dado certo. "O PIB fraco gerou
uma enorme frustração, que se reflete no jornal", diz.
Mansueto de Almeida, pesquisador do Ipea, sublinha que os
economistas erraram muito nos últimos anos. "Havia um otimismo geral em
2011. A projeção era que o Brasil fosse crescer cerca de 4% até 2020."
Ninguém vê, porém, o país à beira do abismo. "Não
estamos, por enquanto, perto de passarmos pelas dificuldades atuais da
Argentina", afirma Lisboa.
Da mesma forma, não há quem veja tudo rosa. "A situação
não é tão ruim como pintam nem tão boa quanto poderia ser, caso a indústria
brasileira tivesse um desempenho melhor", avalia Luiz Gonzaga Belluzzo,
professor da Unicamp.
Vários dos entrevistados apontam um peso grande do mercado
financeiro nas páginas de economia. De fato, é mais difícil obter uma
declaração importante de um grande industrial, que muitas vezes depende de
empréstimos do governo, do que colher aspas de quem lida com investidores. Além
disso, o mercado financeiro produz constantemente relatórios e projeções, que
facilitam muito a vida dos jornalistas.
O economista-chefe de um grande banco, que pediu para manter
o anonimato, afirmou: "Com honrosas exceções, há relativamente pouca
distância analítica na imprensa econômica, que, até involuntariamente, ventila
teses que traduzem interesses de mercado. Certas análises são feitas com o
bolso, e não com o bom senso".
Parece que a questão é bem mais complicada do que um duelo
entre otimistas e pessimistas.
*****
Leia também:
0 comentários :
Postar um comentário