Por Eduardo Guimarães
A coluna da jornalista Monica Bergamo na Folha de São Paulo
da última quinta-feira feira (10) deu uma informação algo surpreendente: na
segunda-feira (8), a presidente Dilma Rousseff recebeu o vice-presidente das
Organizações Globo, João Roberto Marinho, que foi a ela com pleitos sobre a
suposta interferência da rede de telefonia celular 4G na transmissão de tevê
digital.
Segundo a jornalista em questão, Dilma teria manifestado a
Marinho desconforto com o noticiário da Globo contra o governo federal. A
matéria, tal como foi veiculada na coluna de Bergamo, deixa entender que a
presidente teria, de alguma forma, vinculado o atendimento do pleito do barão
da mídia a maior comedimento no partidarismo político da Globo.
Não se sabe se houve mesmo algo nesse sentido, mas não
parece verossímil que Dilma propusesse tal barganha. O mais provável é que ela
apenas tenha aproveitado a oportunidade, mas sem proposição de qualquer troca
de favores. Até porque, para os barões da mídia seria uma troca muito aquém de
suas pretensões hegemônicas.
Seja como for, Dilma teria ponderado com Marinho que sua
emissora vem “carregando nas tintas” do noticiário contra o governo federal, e
não só no caso Petrobrás. O Jornal Nacional da mesma terça-feira em que o
vice-presidente da Globo e a presidente da República se encontraram teve 16
minutos de pancadaria contra o governo.
O telejornal em questão tem duração de pouco mais de 30
minutos. Ou seja: a Globo gastou metade de seu principal telejornal para atacar
o governo com atraso nas obras da Copa, críticas à economia e, claro, com
ataques à Petrobrás.
Naquele mesmo dia, enquanto Dilma e Marinho se encontravam,
Lula dava entrevista a blogueiros…
Na noite do mesmo 8 de abril, o Jornal Nacional começou a
artilharia com uma matéria sobre atraso em obras da Copa que durou 4:01
minutos. Mais 2:27 minutos foram gastos com o tema que levou Marinho a Dilma, a
interferência da rede 4G na TV digital. E mais pancadaria sobre o governo com
matéria sobre baixo crescimento da economia que durou 35 segundos, com o caso
do deputado André Vargas por 2:47 minutos, com ataques à Petrobrás por 3:08
minutos, com a CPI da Petrobrás por mais 2:36 minutos. No total, foram 15
minutos e 56 segundos de espancamento do governo.
Até aí, a ponderação de Dilma com Marinho talvez não pudesse
ter surtido efeito; tinham conversado horas antes da edição massacrante do JN.
Vejamos, então, o que ocorreu nos dias seguintes.
Em 9 de abril, em 5 minutos de Jornal Nacional, durante 21 segundos
o primeiro ataque ao governo Dilma se dá na questão da energia elétrica,
supostamente subfaturada aos brasileiros por razões políticas. Eis que, como
que para afetar “isenção”, o JN apresenta uma reportagem de 1:05 minuto
desfavorável ao PSDB, sobre o racionamento de água que já ocorre na grande São
Paulo, mas a Globo não diz. E a reportagem não toca na responsabilidade do
governo Alckmin, apenas apresenta o problema que pode se abater sobre a grande
São Paulo. Porém, logo o telejornal retoma o ataque ao governo. Foram 2:38
minutos para o deputado André Vargas, 2:04 minutos para a inflação, 2:58
minutos para a CPI da Petrobrás. Ao total, foram 7:23 minutos contra o governo
do PT e 1:05 minuto contra o do PSDB.
Em 10 de abril, dia da nota na Folha sobre a queixa de Dilma
a Marinho, mais 2:19 minutos para inflação, 2:02 minutos para incentivar as
pessoas a economizarem água em São Paulo (uma bela ajuda a Alckmin), 2:39
minutos para criticar atraso nas obras das Olimpíadas de 2016, 38 segundos
(isso mesmo, 38 segundos) para noticiar que o ex-ministro de FHC e candidato de
Aécio ao governo de Minas Gerais (Pimenta da Veiga) foi indiciado por lavagem
de dinheiro, 43 segundos contra o deputado André Vargas, 4:25 minutos para
vincular Dilma e Lula a compra por FHC em 2001 de usinas termelétricas da
Alstom (o que obrigou os petistas a manterem contratos que o tucano assinou),
23 segundos contra a Petrobrás e 1:44 minutos para dar razão à oposição contra
o governo na ampliação do escopo da CPI da Petrobrás, atacando decisão de Renan
Calheiros de permitir a investigação, também, de escândalos envolvendo PSDB e
PSB. No total, foram 12:23 minutos contra o governo, 2:02 minutos a favor de
Alckmin e 43 segundos contra o PSDB.
Em 11 de abril, o JN começa com Dilma na defensiva, dando
explicações sobre a inflação em matéria de 52 segundos. Em seguida, notícia
distorcida de 2:21 minutos de duração sobre recuo na atividade econômica,
reportagem de 23 segundos sobre problemas nas obras da Copa, reportagem de 1:57
minuto sobre corrupção na Petrobrás, mais 1:36 minuto sobre o mesmo tema e mais
33 segundos sobre o doleiro envolvido com o deputado André Vargas. Desta vez,
foram “só” 7:10 minutos, mas só contra o governo Dilma e o PT, sem nada contra
a oposição.
Em ano eleitoral, quando a mídia escolhe maioria tão
avassaladora de matérias desfavoráveis a um lado e gasta tão pouco contra o
outro lado, provoca efeitos eleitorais. Alguns dirão que tudo que o JN noticiou
contra o governo Dilma e o PT tinha que ser noticiado. Só que não existem
problemas só desse lado.
O caso de Pimenta da Veiga, candidato do presidenciável
Aécio Neves ao governo de Minas e que foi indiciado por lavagem de dinheiro,
por certo mereceria bem mais do que 38 segundos. O racionamento de água no
maior centro urbano da América Latina – bem como as responsabilidades pelo
problema – mereceria muito mais atenção de um jornalismo sério. O escândalo do
cartel de trens em São Paulo, já em fase adiantada de investigação, inclusive
com políticos do PSDB sendo investigados pelo STF, esse sumiu de vez.
Ao deputado André Vargas poder-se-ia contrapor Robson
Marinho, homem forte do tucanato paulista no Tribunal de Contas do Estado de
São Paulo e que está envolvido até o pescoço no escândalo dos trens paulistas,
mas continua trabalhando normalmente. Ou poder-se-ia contrapor o caso de
Pimenta da Veiga, muito mais grave. Mas o JN faz suas escolhas…
O que impressiona é a presidente Dilma ter achado – se é que
a matéria de Monica Bergamo é verdadeira – que poderia chamar um dos irmãos
Marinho à razão. Aliás, melhor dizendo, chamá-lo à responsabilidade, já que,
por ser uma concessão pública, a faixa do espectro radioelétrico que a Globo
ocupa não pode ser usada com fins político-partidários.
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