Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:
Quando Vladimir Safatle escreveu um artigo intitulado Não
Teve Copa, publicado na Folha, que reproduzimos - aliás, com uma argumentação
convincente para alguém que defende aquele ponto-de-vista -, acrescentei um
adendo como PS do Viomundo, que dizia:
O meu conhecimento (do Azenha) da Copa do Mundo, de ter
vivido algumas pessoalmente nos países-sede, é de que depois de duas semanas o
país literalmente enlouquece pelo evento. Tenho a impressão de que o Safatle
desconhece o poder do futebol no imaginário do brasileiro.
Ainda é cedo para declarar a organização da Copa como tendo
sido absolutamente bem sucedida. Muita água ainda vai rolar.
Porém, as pessoas estão começando a se encantar com o
evento, para dizer o mínimo - e a primeira rodada nem terminou.
Há mesmo algo de especial num acontecimento que consegue
arrastar 35 mil colombianos para ver uma partida de futebol no Mineirão, bem
longe de casa.
Enfatizemos: a Copa privatizada é um evento frequentado
majoritariamente por ricos e classe média alta. Mas isso não diminui o encanto
nas cidades que sediam as partidas, por conta do clima criado por gente do
mundo todo, cujas interações são baseadas unicamente na paixão pelo esporte. De
repente, você se descobre falando sobre futebol com um camaronês, um nigeriano
e dois norte-americanos que nunca viu antes na vida…
Em Belo Horizonte, num aeroporto, o jogo Uruguai vs. Costa
Rica juntou norte-americanos, colombianos, brasileiros, chineses e japoneses na
plateia, além de gregos de cabeça inchada (haviam perdido de 3 a 0).
Só tenho como comparar o evento do Brasil às três Copas que
acompanhei bem de perto: Itália, em 1990, onde passei 40 dias; Estados Unidos,
onde eu vivia em 1994; França, em 1998, de onde fiz viagens aos países
adversários do Brasil.
Dessa vez a qualidade do futebol e o número de gols nos
surpreendeu positivamente.
Mas a mídia corporativa, que por motivos políticos promoveu
a maior campanha já vista contra um evento esportivo em nossa História, jamais
vai admitir o que também está se confirmando: no essencial, a organização foi
bem sucedida.
É possível apontar erros e obras inacabadas, mas nada que
comprometa o essencial para os torcedores: capacidade de transporte,
comunicação e qualidade dos estádios - em termos de conforto e visão dos jogos.
Em Belo Horizonte, por exemplo, há transporte bom e barato
entre os aeroportos e o Mineirão, o que facilita muito para aqueles que
acompanham suas seleções e fazem viagens rápidas, num país continental.
Embora falte sinalização em inglês e espanhol em muitos
lugares, há um grande número de pessoas fornecendo informações, especialmente
mas não apenas nos aeroportos.
Em Confins, turistas estrangeiros no saguão reclamaram do
sinal de transmissão dos jogos, baixado pela internet (depois descobrimos
tratar-se de algo bancado por um patrocinador). Um dos visitantes pediu que eu
reclamasse em nome dele. Fui fazê-lo e, para nossa surpresa, descobrimos que
havia um ambiente especial para os passageiros em espera (retratado abaixo).
Tudo muito bacana, bem organizado.
Ah, sim, algo absolutamente essencial existe em grande
quantidade nos aeroportos: torres para recarregar aparelhos eletrônicos.
Ninguém merece ficar sem bateria no meio de um jogo, né mesmo?
É óbvio que você pode fazer uma longa lista de problemas,
aqui e ali, coisas que acontecem em eventos complexos como a Copa.
Mas parece que nas questões absolutamente essenciais -
estádios, aeroportos e comunicação - as coisas estão funcionando num padrão que
não deve nada aos eventos anteriores que acompanhei de perto.
Muito cedo, a Copa brasileira já é bem mais empolgante que a
dos Estados Unidos; já teve exibições brilhantes em campo, melhores que as da
Copa da Itália e, pelo jeito, logo vai arrastar as multidões que promoveram
festas empolgantes nas ruas de Paris na segunda fase do Mundial de 1998.
Obviamente que aqueles que sofrem da síndrome de vira-latas
vão fazer uma lista dos motivos pelos quais prefeririam ver a Copa em outro
país. Mas, como escrevi anteriormente, isso não tem a ver com as condições
objetivas da organização. É a necessidade da classe média de se diferenciar dos
outros pelo status social, de imaginar que fez algo que seu interlocutor jamais
conseguirá fazer.
Tirando isso, lentamente o “imagina na Copa” vai sendo
enterrado.
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