Por Altamiro Borges
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) decidiu nesta
segunda-feira (21) solicitar informações sobre as operações irregulares no
aeroporto do tio-avô de Aécio Neves na cidade de Cláudio, no interior de Minas
Gerais. Já o PT estuda mover uma ação judicial por improbidade administrativa
contra o cambaleante presidenciável tucano, questionando o uso de R$ 14 milhões
dos cofres públicos numa obra privada. Diante das críticas, o ex-governador
mineiro afirma que é vítima de uma armação política e setores da mídia já
começam a abafar o escândalo, dando maior espaço para as desculpas do
grão-tucano. De qualquer forma, como escreveu o jornalista Ricardo Mello, Aécio
Neves levou um “choque de indigestão”.
No caso da Anac, como relata o site do Estadão, o objetivo é
obter informações do governo estadual e da prefeitura de Cláudio sobre
“eventuais” pousos e decolagens no local. A agência já confirmou que o
aeroporto está em situação irregular. “O processo de homologação, iniciado em
julho de 2011, ainda não foi concluído. Desta forma, o aeródromo não tem
autorização para receber operações aéreas. A principal pendência para a
conclusão deste processo é a apresentação pelo governo de Minas Gerais de um
parecer do Comando da Aeronáutica. A agência reguladora também precisa
inspecionar o empreendimento para verificar se foi construído de acordo com os
requisitos técnicos do setor”.
“Se comprovadas estas irregularidades, a Anac adotará as
medidas cabíveis. Pilotos e operadores de aeronaves que porventura tenham
realizado operações aéreas irregulares poderão ser multados em até R$ 10 mil
por operação”, afirma a nota divulgada pelo órgão na tarde desta segunda-feira.
A rápida iniciativa da Anac irritou os tucanos, que adoram posar de vestais da
ética. A direção nacional do PSDB já anunciou que processará a Anac. Segundo o
jornal Valor, Aécio Neves também promete retaliar os que o acusam. “Não
podermos aceitar é que em razão da proximidade do processo eleitoral se
deturpem os fatos”, afirmou após visitar o santuário Nossa Senhora da Piedade,
em Minas Gerais.
O cambaleante tucano não citou o PT, mas insinuou que as
denúncias publicadas na Folha deste domingo foram fabricadas por inimigos
políticos – logo ele que até o mês passado era colunista deste jornal e goza da
intimidade da famiglia Frias. Já o PT parece que desta vez não ficará passivo,
preso à falsa “postura republicana”. O presidente da legenda, deputado Ruy
Falcão, não vacila em afirmar que “Aécio não distingue o público do privado” e
que “usou o governo de Minas Gerais como extensão de suas propriedades”.
Segundo o site do Jornal do Brasil, a ideia é mover uma ação judicial por
improbidade administrativa contra o tucano. Já o PT de Minas Gerais proporá a
abertura de uma CPI para investigar o caso.
Diante da saraivada de críticas, que pode ser fatal para a
imagem do cambaleante tucano, já está em curso uma “operação-abafa”. Os
jornalões e os telejornais já estão concedendo generosos espaços para as
justificativas do PSDB. Até a própria Folha, que revelou o ruidoso escândalo,
já dá sinais de recuo. A “operação-abafa”, porém, talvez não contenha a
sangria. Para o colunista Ricardo Melo, uma das poucas vozes críticas deste
jornal, o caso representa um verdadeiro “choque de indigestão” para Aécio
Neves. Vale conferir seu artigo:
*****
Choque de indigestão
Aécio presenteou a família com um aeroporto; a conta, R$ 14
milhões, foi espetada no lombo do contribuinte
"Os equívocos em relação à Petrobras foram muitos. E
taí. Hoje a empresa frequenta mais as páginas policiais [...] do que as páginas
de economia." As palavras são do candidato tucano Aécio Neves em sabatina
realizada na quarta (16), ao criticar o governo Dilma Rousseff.
Nada como um dia depois do outro. Graças ao repórter Lucas
Ferraz, ficamos sabendo neste domingo (20) que, antes de deixar o cargo de
governador, nosso impoluto Aécio presenteou a própria família com um aeroporto
no interior de Minas Gerais, na cidade de Cláudio. Deu de presente é modo de
dizer. A conta, R$ 14 milhões, foi espetada novamente no lombo do contribuinte.
Tudo dinheiro público.
O Brasil conhece à exaustão obras e estradas construídas
perto de propriedades de políticos, sempre sob o argumento de pretensos
interesses rodoviários e sociais. Cinismo à parte, para não dar muito na vista,
ao menos se permite a circulação de anônimos pelas rodovias.
No caso do aeroporto de Cláudio dispensaram-se maiores
escrúpulos. "Choque de gestão" na veia. A pista é de uso praticamente
privado da família Neves e seus apaniguados. Um diálogo esclarecedor: perguntado
pelo repórter se alguém poderia usar o aeroporto, o chefe de gabinete da
prefeitura local foi direto. "O aeroporto é do Estado, mas fica no terreno
dele. É Múcio que tem a chave." O dele e o Múcio citados referem-se a
Múcio Tolentino, tio-avô de Aécio e ex-prefeito do município. Pela reportagem,
descobre-se ainda que Aécio é figura frequente no lugar --a cidade abriga um de
seus refúgios favoritos.
Pego no escândalo, o candidato embaraçou-se todo. Alega que
a área do aeródromo particular foi desapropriada. O que, vamos e venhamos, já é
discutível: no mínimo não pega bem um governador indenizar sua própria família
para uma obra de utilidade social mais do que duvidosa.
Mas a coisa só piora: o processo de desapropriação está em
litígio, ou seja, a propriedade permanece sob controle do clã Neves & Cia.
Talvez uma ou outra aeronave de conhecidos, ou algum Perrella da vida, tenha
acesso à pista. Fora isso, ignoram-se benefícios econômicos gerados pela
empreitada ao povo mineiro. Questionado pela reportagem sobre quantas vezes
esteve no estacionamento aéreo familiar e o motivo pelo qual uma obra custeada
com dinheiro público tem uso privado, Aécio não respondeu. Ou melhor: o
silêncio equivale a uma resposta. E a campanha mal começou.
*****
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