Por Izaías Almada, no Blog da Boitempo:
Pelos eriçados, nervos à flor da pele. Aproximam-se as
eleições de outubro e os brasileiros, bem ou mal, vão tomando conhecimento
daquilo que pretendem os candidatos.
Alguns não pretendem nada como sempre, mas vendem seus
segundos na televisão a preço de ouro. Nosso “quadro eleitoral”, como se
costuma dizer, a sua composição pelo menos em vésperas de eleição se assemelha
por vezes a uma mesa de cassino.
Enquanto a sonhada reforma política não vem, o festival de
siglas partidárias atrai para o seu palco um fantástico balé de alianças
envolvendo bailarinos dos mais variados interesses, alianças esdrúxulas, apoios
imorais, onde muitos se candidatam desavergonhadamente na esperança de
participar na distribuição dos butins municipais, estaduais e federais dos
próximos quatro anos. É só observar atentamente na maioria dos cartazes e
panfletos espalhados e distribuídos pelo Brasil.
Tudo em nome de uma democracia que antes de chegar à
adolescência já é dependente química dos conchavos eleitoreiros, das barganhas
entre políticos bandidos e bandidos políticos. E sob tutela de uma imprensa
calhorda, partidária do atraso, irresponsável, que aposta suas fichas na
construção de um país de fancaria e dependente.
Jagunços de Goiás se unem a malandros cariocas. Velhos
coronéis nordestinos a mafiosos paulistas. Gaúchos machões a mineirinhos
espertos, escancarando ao país mais uma vez o jogo que, sob certos aspectos,
gostaríamos de ver definitivamente encerrado.
Como a ideologia da maioria dos partidos e candidatos é o
que menos interessa nessa sopa de letrinhas, muitos de nós desejaríamos também
que os próximos quarenta e cinco dias se passassem em 24 horas, o que nos
pouparia de assistir a uma guerra que consegue ser mais chata que novelas de
televisão. Mais medíocre que esses programas policiais de fim de tarde, mais
idiota do que determinadas entrevistas de “celebridades”. Mais vazia que a
cabeça de Bush Jr.
Portanto, ideologias e programas partidários à parte,
desculpem a redundância, vamos ao que interessa:
Brasil velho ou Brasil novo?
Futuro ou passado?
Azeite de oliva extra virgem ou manteiga rançosa?
Emprestar ao FMI ou pedir emprestado ao FMI?
BRICS ou BREQUES?
Justiça com J maiúsculo ou justiceiros de aluguel?
Informação com seriedade ou manipulação criminosa?
Soberania ou dependência?
O petróleo é nosso ou é dos outros?
Vamos voltar a tirar os sapatos em determinados aeroportos
do mundo?
A tolerar governos que agem “no limite da
irresponsabilidade”?
Aceitaremos o neofascismo brasileiro ou o combateremos?
Estava eu nessa altura do artigo quando fui surpreendido com
a trágica notícia da morte do governador Eduardo Campos, um dos candidatos à
presidência.
A matilha conservadora, nem bem o país se refazia do choque
com a notícia do desastre aéreo, já saia a campo até com pesquisa sobre como e
por quem substituir o candidato desaparecido, numa demonstração inequívoca de
sua truculência e de sua falta de ética e educação cívica, para usarmos uma
linguagem minimamente civilizada. Pesquisa eleitoral genialmente definida pelo
cartunista Bessinha como a primeira pesquisa de boca de túmulo.
Comentários e “análises” vieram à tona nos últimos dez dias
e serviram – em inúmeros casos – para confirmar a tese desse modesto artigo: o
Brasil vai com sacrifício e a duras penas saindo de seu secular
subdesenvolvimento, em seus hiatos de governos desenvolvimentistas, correndo o
risco de cair nas mãos de uma oposição fratricida e impatriótica. Um salto no
escuro.
Aécio Neves e Marina Silva significam um salto no escuro, um
desastre anunciado. Somados em ideologia, visão de país e programas
partidários, se assim posso me expressar, representam a visão ultrapassada de
vários conceitos e mecanismos econômicos, o fundamentalismo religioso a serviço
do atraso, o ambientalismo de algibeira, o progresso visto com o binóculo ao contrário.
Nessa altura, e por conta da mórbida exposição midiática do
alento conservador com a morte de Eduardo Campos, peço licença aos leitores
para reproduzir carta enviada “post-mortem” por um cidadão brasileiro a Eduardo
Campos. Assino embaixo:
*****
Carta a Eduardo Campos
Por Carlos Francisco da Silva, de Bezerros (PE)
Eduardo, você não imagina o quanto eu e todo povo
pernambucano estamos lamentando a tua trágica e inesperada partida. Temos
muitos motivos para isso. Primeiro, pela falta que irás fazer a tua família e
aos teus amigos. Depois, pelo exemplo de homem público que representavas para o
nosso Estado e para o Brasil.
No entanto, eu tenho um motivo particular para lamentar a
tua morte. Depois da tua entrevista no Jornal Nacional, eu fiquei com muita
vontade de te encontrar, de apertar a tua mão, olhar no teu olho e te
perguntar: Quem disse que eu desisti do Brasil, Eduardo? Infelizmente, no dia
seguinte, ocorreu o trágico acidente e eu nunca vou poder te dizer isso.
Eduardo, não fui eu, nem o povo brasileiro que desistimos do
Brasil.
Quem desistiu do Brasil foram setores da política e da mídia
brasileira, quando promoveram o golpe militar de 1964 que mergulhou o nosso
país em 21 anos de ditadura militar e que submeteu o povo brasileiro aos anos
mais difíceis de nossa história. Inclusive, sua família foi vítima na carne
daquele momento, quando o seu avô e então governador de Pernambuco, o
inesquecível Miguel Arraes, foi retirado à força do Palácio do Campo das
Princesas e levado ao exílio.
Eduardo, você não imagina o que essa mesma mídia está
fazendo com a tragédia que marcou a queda do teu avião. Eu nunca pensei que um
dia pudesse ver carrascos do jornalismo político brasileiro como William
Bonner, Patrícia Poeta, Alexandre Garcia e Miriam Leitão falando tão bem de um
homem público. Os mesmos que, um dia antes do acidente, quiseram associar a tua
imagem ao nepotismo no Brasil choram agora a tua morte como se você fosse a
última esperança do povo brasileiro ver um Brasil melhor. Reconheço as tuas
qualidades, governador, mas não sou ingênuo para acreditar que sejam elas o
motivo de tanta comoção no noticiário político brasileiro.
A pauta dos veículos de comunicação conservadores do Brasil
sempre foi e vai continuar sendo a mesma: destruir o projeto político do
partido dos trabalhadores que ameaça por fim às concessões feitas até então a
eles. O teu acidente, Eduardo, é só mais uma circunstância explorada com esse
fim, do mesmo jeito que foi o mensalão, os protestos de julho e a refinaria de
Pasádena. Se amanhã surgir um escândalo “que dê mais ibope” e ameace a reeleição
de Dilma, a mídia não hesitará em enterrar você de uma vez por todas. Por
enquanto, eles vão disseminando as suposições de que foi Dilma quem sabotou o
teu avião, e que fez isso no dia 13 justamente pra dizer que quem manda é o PT.
Pior do que isso é que tem gente que acredita e multiplica mentiras e ódio nas
redes sociais.
Lamentável! A Rede Globo e a Veja não estão nem aí para a
dor da família, dos amigos e dos que, assim como eu, acreditavam que você não
desistiria do Brasil. Você é objeto midiático do momento.
Eduardo, não fui eu quem desistiu do Brasil. Quem desistiu
foi o PSDB, que após o regime militar teve a oportunidade de construir um novo
projeto de nação soberana e, no entanto, preferiu entregar o Brasil ao FMI e ao
imperialismo norte americano, afundando o Brasil em dívidas, inflação,
concentração de renda e miséria. O mesmo PSDB que, antes do teu corpo ser
enterrado, já estava disseminando disputas entre o PSB e REDE para inviabilizar
a candidatura de Marina, aliança que custou tanto a você construir.
Eu não desisti do Brasil, Eduardo. Quem desistiu foi a
classe média alta que vaiou uma chefe de Estado num evento de dimensões como a
abertura de uma Copa do Mundo porque não se conforma com o Brasil que distribui
renda e possibilita a ricos e pobres, negros e brancos as mesmas oportunidades.
E tem mais uma coisa, Governador. Se ao convocar o povo
brasileiro para não desistir do Brasil o senhor quis passar o recado de que
quem desistiu foi Lula e Dilma, eu gostaria muito de dizer que nem eu, nem o
povo e, nem mesmo o senhor, acredita nisso. Muito pelo contrário. A gente sabe
que o PT resgatou o Brasil do atraso imposto pelo nosso processo histórico de
colonização, do intervencionismo norte americano e da recessão dos governos
tucanos. Ao contrário de desistir do Brasil, Lula e Dilma se doaram ao nosso
povo e promoveram a maior política de distribuição de renda do mundo, através
do bolsa família. Lula e Dilma universalizaram o acesso às universidades
públicas através do PROUNI, do FIES e do ENEM. Estão criando novas
oportunidades de emprego e renda através do PRONATEC e estão revolucionando a
saúde com o programa Mais Médicos.
Eduardo, eu precisava te dizer: não fui eu, nem o povo
brasileiro, nem Lula, nem Dilma que desistimos do Brasil. Quem desistiu do
Brasil, meu caro, foram os mesmos que hoje estão chafurdando em cima das
circunstâncias que envolvem o acidente que de forma lamentável tirou você do
nosso convívio. Fazem isso com o motivo único e claro de desgastar a reeleição
de Dilma e entregar o país nas mãos de quem, de fato, desistiu do Brasil.
Descanse em paz, Eduardo. Por aqui, apesar da falta que você
vai fazer a todo povo pernambucano, eu, Lula, Dilma e os brasileiros que
acreditam no futuro do Brasil vamos continuar na luta, porque NÓS NUNCA
DESISTIREMOS DO BRASIL.
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