Por Conceição Lemes, no blog Viomundo:
Nessa sexta-feira 29, Marina Silva, candidata do PSB à
Presidência da República, divulgou o seu programa de governo. Um calhamaço de
245 páginas.
No capítulo LGBT, ela promete, entre outras coisas:
Apoiar no Congresso “propostas em defesa do casamento civil
igualitário, com vistas à aprovação dos projetos de lei e da emenda
constitucional em tramitação, que garantem o direito ao casamento igualitário”.
Uma referência à “aprovação dos projetos de lei e da emenda constitucional em
tramitação, que garantem o direito ao casamento igualitário na Constituição e
no Código Civil.”
“Articular no Legislativo a votação da PLC 122″. O objetivo
desse projeto de lei, que tramita desde 2006, é equiparar o crime de homofobia
ao racismo, com a aplicação das mesmas penas previstas em lei.
Em menos de 24 horas após o lançamento oficial do programa,
pressionada por lideranças evangélicas, ela recuou.
Alegando “falha processual na editoração do texto”
divulgado, Marina emitiu nota oficial para retificar o que havia prometido em
relação à defesa dos direitos da comunidade homossexual.
Na proposta modificada, diz que vai “garantir os direitos
oriundos da união civil entre pessoas do mesmo sexo”.
Em outras palavras: vai se limitar a cumprir determinações
legais já existentes, que surgiram do Supremo Tribunal Federal (STF) e do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que reconhecem a união civil entre pessoas
do mesmo sexo e obriga os cartórios a registrar essas uniões. A promessa,
portanto, apenas informa que a determinação do Supremo será cumprida.
O que os gays reivindicam é uma lei que garanta o direito à
união na Constituição. Isso os deixaria livres de mudanças nas interpretações
do STF e do CNJ. Portanto, teriam mais segurança.
“O Malafaia [pastor Silas Malafaia] tuitou umas três ou
quatro frases e Marina sucumbiu ao fundamentalismo”, avalia Toni Reis. “Ela tem
bipolaridade ideológica. Num dia, ela fala uma coisa, no dia seguinte faz tudo
diferente, de forma extremamente demagógica. Se em relação a uma questão
específica, como os direitos da comunidade LGTB, ela age assim, imagine o que é
capaz de fazer nas questões econômicas, nos programas sociais, nos programas do
Ministério da Educação.”
Toni Reis é secretário de Educação da Associação Brasileira
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Vive junto com
David Harrad em Curitiba (PR) há 25 anos.
Hoje, mais cedo, recebi um texto seu elogiando a candidata
do PSB à Presidência da República. Você dizia: “Marina Silva, estou espantado,
surpreso e incrédulo com seu Programa de Governo para a comunidade LGBT”.
Foi isso mesmo. Ontem, quando li essa parte do programa,
achei realmente muito bom. Na hora, pensei em escrever. Mas, depois, achei
melhor fazer hoje. Reuni minha família - meu marido e meus filhos - para
comentar isso. Publiquei o meu texto. Umas duas horas depois veio a nota do
PSB, desdizendo o que estava no programa. A nota dizia que era uma errata.
A coordenação da campanha disse que houve “falha processual
na editoração do texto” divulgado.
Errar uma ou outra palavra, tudo bem. Mas mudar pontos
vitais para a comunidade LGBT, não é errata. A proposta que estava no programa
é a do Partido Socialista Brasileiro. O coletivo LGBT do PSB é muito bom. Eu
confio muito neles, trabalho muito bem com eles. Agora, o que a Marina quer
mudar a posição do partido sobre essa questão.
O que achou das alterações?
Estou estarrecido. O Malafaia tuitou três ou quatro frases e
a Marina sucumbiu ao fundamentalismo. Ela tem bipolaridade ideológica. Num dia
ela fala uma coisa, no seguinte faz tudo diferente, de forma extremamente
demagógica.
Aí, eu fico imaginando. Se numa questão tão específica, como
os direitos da comunidade LGBT, ela está fazendo isso, imagine o que ela pode
fazer nas questões econômicas, nos programas sociais, nos programas do
Ministério da Educação.
Agora, realmente , não dá para confiar no que a Marina
falar. Ela pode no outro dia fazer uma errata do que falou anteriormente.
Ela não é candidata a síndica de um prédio de quatro
andares… Nós estamos entre as maiores economias do mundo!
A que atribui essa mudança?
Instabilidade, insegurança, incoerência, inconsistência.
Para mim, neste momento, a palavra que melhor define a Marina é bipolaridade
ideológica. Ela muda de posição conforme o humor das ondas.
Para ser candidata à presidência é preciso um mínimo de
coerência. E coerente por coerente o Aécio é mais coerente que a Marina.
Com este episódio, ela realmente mostrou uma outra cara.
Eu insisto. Se ela pensa dessa forma de um tema tão
importante que atinge 10% da população, imagine em questões econômicas. Será
que ela vai transferir a sede do Banco Central para Nova York? Será que ela vai
fazer o que está falando? Fica uma insegurança política.
E as demais candidaturas?
Nós estamos acompanhando todas. Eu apoio o projeto do
presidente Lula, que por sua vez apoia a presidenta Dilma. Ideologicamente a
minha candidata é a Dilma.
Mas quando vem uma proposta bacana a gente tem que elogiar.
Foi o caso dessa da Marina. Mas aí teve toda essa transformação. Esperamos que
as pessoas percebam que o discurso da Marina é falacioso.
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