Por Breno Altman, em seu blog:
O ator e poeta Gregório Duvivier, integrante do grupo Porta
dos Fundos, está longe de ser petista. No primeiro turno, declarou seu voto em
Luciana Genro, do PSOL.
Critica com acidez os governos de Lula e Dilma. Chegou a
dizer que, reeleita, a presidente também faria acordo “com os setores mais
reacionários da sociedade”.
Especulou sobre a possibilidade de votar nulo, mas o ódio
conservador “contra causas humanitárias e direitos civis” determinou seu apoio
à candidata do PT na segunda volta das eleições presidenciais.
Sua declaração de voto está lhe custando caro. No início,
eram apenas mensagens ofensivas nas redes sociais. Ontem ele foi insultado em
um restaurante do Rio de Janeiro, no nobre bairro do Leblon.
Um sujeito começou a xingá-lo. Avisou que saía do recinto
para não “acabar metendo a porrada”. Chamando Duvivier de “esquerda caviar”,
mandou o comediante comer em um bandejão, “já que gosta tanto de pobre”.
Estes fatos foram contados pelo colunista Ancelmo Gois, do
Globo.
Não é acontecimento isolado. Há uma onda reacionária em
movimento, que abala e ameaça os fundamentos mais comezinhos da vida civilizada
e democrática. Sua encarnação política é o antipetismo. Seu redentor, o
candidato tucano Aécio Neves.
Os piores valores animam aqueles que mergulham e surfam
nesta onda. Preconceito social, racismo, homofobia, machismo, ódio regional,
xenofobia, fundamentalismo religioso. A cruzada da direita para derrotar o PT
convocou todos os demônios da sociedade brasileira.
Os conservadores perderam a vergonha na cara. Batem no peito
e se enchem de orgulho em ser o que são: um grupo político-social que veste
simbolicamente as camisas pardas dos inimigos mais ferrenhos da civilização.
Estes indivíduos abandonaram os porões nos quais vicejavam
como ratos gordos e vieram à superfície, atraídos pelas letras, sons e imagens
de uma mídia disposta a qualquer coisa para impedir a continuidade da esquerda
no poder.
O PT e seus governos têm parcela de responsabilidade. A luta
contra a pobreza e a miséria, tão bem sucedida, não foi devidamente acompanhada
pelo enfrentamento de ideias e valores que vertebram o comportamento
reacionário.
Faltou empenho para enfrentar o monopólio da comunicação e
garantir pluralidade de vozes, criando condições legais e materiais para a
liberdade de expressão não ser direito censitário de umas poucas famílias.
Não é hora para se lastimar o passado, é verdade. Estamos em
plena batalha para que os fascistas do Leblon e seus ídolos não voltem a
governar o país.
Oxalá a vitória de Dilma Rousseff abra uma nova etapa na
democracia brasileira. Conquistar uma sociedade mais justa não é apenas obra
administrativa, por mais avançada que seja.
Também depende de libertar corações e mentes dos entulhos
políticos, ideológicos e culturais tão bem representados pelo truculento
eleitor de Aécio Neves que insultou Gregório Duvivier.
Altamiro Borges: Duvivier e as entranhas da direita
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