Autor: Miguel do Rosário
Aproveitando-se da tolice do governo de ter desmontado
praticamente todo esquema de comunicação que havia sido organizado durante a
campanha eleitoral, a oposição continua espalhando boatos e mentiras, como
esse, mais recente, de que Dilma irá promover um confisco da poupança.
É a mesma fonte que, às vésperas da votação no segundo
turno, espalhou boatos, via whatsapp e facebook, e redes sociais em geral,
sobre a morte do doleiro Alberto Youssef, acusando Dilma Rousseff.
Se alguém tinha dúvida de onde veio a mentira: ela foi
publicada, com ares de verdade absoluta, no site do PSDB.
Naquele momento, porém, o governo ainda se beneficiava de
uma estrutura de campanha, e havia uma postura pró-ativa de todo o governo e
seu eleitorado para desmentir boatos.
Esses boatos, mesmo desmentidos, geram mal estar e
desconfiança, na população, em relação ao governo, sobretudo quando este
permanece em silêncio.
Quer dizer, houve uma novidade. O blog do Planalto
respondeu, pela primeira vez, uma mentira da Globo, sobre uma modificação em
verbete do Wikipédia.
Bom sinal, mas ainda extremamente tímido, e ineficaz, porque
é preciso antes construir uma audiência para o blog do Planalto.
De que adianta publicar um desmentido que ninguém lê? De que
adianta, se o blog do Planalto não entrevista a própria presidenta, e se esta
não faz propaganda dele em seus discursos?
Dilma não poderia, em seus pronunciamentos na TV aberta,
pedir aos brasileiros para acessarem o seu blog? Com isso, pavimentaria uma
comunicação mais direta entre ela e o público, reduzindo o poder da mídia como
intermediária.
Por que essa dependência voluntária da TV aberta, um meio em
declínio, e onde o governo sofre uma profunda desvantagem política?
A mídia, conforme o blog da Cidadania já denunciou, publica os
desmentidos de boatos de um jeito tão dúbio que o resultado é o leitor
continuar desconfiado. Parece até que a intenção não é esclarecer.
Por enquanto, a resposta do Blog do Planalto à matéria
mentirosa do Globo, sobre a alteração no Wikipédia, é como um cachorrinho
pequeno latindo para um imenso pitbull.
Não adianta mostrar coragem se não há força.
A produção de imagens, por exemplo: charges, memes, etc, por
parte da oposição e da direita, culpando o governo e o PT por todos os males,
continua com força total. E isso é um processo cumulativo, porque se cria um
gigantesco banco de imagens na internet.
Suponho que o PT ache que está produzindo um material de
comunicação espetacular. Não está. Seus responsáveis por comunicação contam
número de visitas, como se todos os visitantes lhes fossem simpáticos. Não são.
O PT nunca esteve tão por baixo, em décadas. Sua comunicação
é um completo fiasco.
PT e governo acham que comunicação política é falar bem de
si mesmo, é repetir, ad infinitum, que tirou tantos milhões da miséria, etc.
Comunicação política não é isso, mas dialogar, ouvir
críticas, trocar ideias sobre o futuro, estar disposto a mudar, falar sobre os
problemas do país.
Mesmo com centenas de parlamentares, todos com verbas altas
de gabinete, ninguém pensou em reunir uma estratégia unificada para produzir
uma comunicação de alta qualidade, eficaz, não partidarizada, crítica.
Quer dizer, alguém pensou sim: Lula, ao lembrar que um
gabinete de deputado tem mais verba que um diretório partidário.
O mundo universitário e científico está repleto de cérebros
simpáticos à esquerda, que não são contatados ou usados pelo PT. Dá-se a
impressão que o PT não tem quadros, que o partido é dominado pela mais absoluta
mediocridade intelectual.
Onde estão os contrapontos e os contra-ataques na forma de
mensagens simples, apartidárias, bem humoradas, com produção de vídeos,
charges, histórias em quadrinho, músicas?
No passado, o partido comunista, com muito menos verba,
patrocinava cinema e literatura. Jorge Amado recebeu, em toda a sua vida, ajuda
do partido para escrever, e se tornou o escritor brasileiro mais conhecido no
mundo inteiro.
É preciso produzir material para fora do PT, para outros
partidos, para a sociedade, para que esta leia conteúdo num espaço minimamente
imparcial, sem estrelas vermelhas enormes por trás.
O governo tem ministros com grande capacidade oratória,
coragem e experiência para enfrentar a mídia, como Jacques Wagner, Berzoini,
Miguel Rosseto e Mercadante.
Ao que parece, porém, a presidenta não os deixa fazerem a
batalha da comunicação.
A presidenta não transfere poder para o responsável pela
Secom, Thomas Traumann, que permanece amarrado a uma situação constrangedora,
quase decorativa.
Sem liderança política na comunicação do governo, esta
acaba, automaticamente, em mãos de agências privadas de publicidade, que fazem
um serviço apenas protocolar, até porque, possivelmente, elas tem mais
afinidade com a Globo e com a oposição do que com o governo.
Enquanto isso, o golpismo midiático abandona todos os
escrúpulos.
Cúmplice dessas campanhas de mentira, oriundas de fontes
apócrifas (mas notoriamente ligadas à oposição), o golpismo midiático pode
causar estragos devastadores na popularidade da presidenta e de seu partido
(como já causou), desestabilizar o governo (como já desestabilizou) e provocar
danos à economia (já provocou).
Para piorar, o governo promove um combate às distorções
fiscais e as chama de “ajuste fiscal”, num pacotão que mistura medidas
saneadoras com outras quiçá desnecessárias, mas sobretudo sem promover uma
campanha de esclarecimento.
E tudo para quê? Para posar de durão e malvado perante o
mercado?
Sem comunicação inteligente, qualquer medida minimamente
saneadora do governo será pintada facilmente como uma traição de classe ou
estelionato eleitoral.
O governo conseguiu a proeza de jogar fora todo o prestígio
que havia acumulado no segundo turno da campanha eleitoral.
Tenho uma suspeita crescente de que a maior parte da perda
de popularidade de Dilma vem da cegueira do governo e da presidenta em relação
à disposição progressista de grande parte da sociedade brasileira. Querem
agradar uma minoria conservadora, e perdem a maior parte da sociedade, que
esperava um governo mais combativo, mais criativo, mais valente na defesa de
posições progressistas.
Mas sem comunicação, não há criatividade. O máximo que se
consegue parir são nomes bizarros como “Pátria Educadora”.
A estratégia já está dada: desconstruir o PT e Dilma,
durante o primeiro ano de governo, preparando o terreno para um impeachment no
segundo ano.
Estão conseguindo, com ajuda do governo e do PT.
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